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'The New York Times': O escândalo que está abalando a classe política da América Latina

Reportagem fala sobre corrupção da Odebrecht e seu efeito cascata no continente

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Matéria publicada nesta quarta-feira (15) pelo jornal norte-americano The New York Times debate o gigantesco esquema de corrupção da gigante da construção brasileira Odebrecht, que se espalhou amplamente por toda a América Latina. 

Um ex-presidente peruano acusado de aceitar suborno está foragido, diz o Times. Na Colômbia, os promotores dizem que a campanha de reeleição de seu presidente foi feitta através de dinheiro sujo. 

A reportagem lembra que agentes de inteligência na Venezuela prenderam jornalistas e pesquisadores procurando escândalos por lá. O maior escândalo de corrupção da América Latina está abalando o establishment político do continente.

> > Corruption Scandals With Brazilian Roots Cascade Across Latin America

O diário norte-americano destaca que todos os caminhos levam a Odebrecht, construtora brasileira, responsável por grandes projetos em toda a região e que no final do ano passado estabeleceu com os Estados Unidos, Brasil e Suíça um acordo de US $ 4,5 bilhões para pagamento de multa a Foreign Corrupt Practices Act por elaboração de um poderoso esquema de suborno, estimado em  US$ 800 milhões em retornos em troca de contratos lucrativos.

Foi o maior acordo anticorrupção da história, ressalta New York Times. Os promotores disseram que a empresa pagou subornos em 100 projetos em mais de uma dúzia de países, do México à Angola, sendo que em uma operação comprou até uma agência bancária local para esconder as transações, que partiam de uma divisão da empresa especificamente dedicada a recompensas.

Em toda a América Latina, a empresa construiu pontes, barragens, usinas, estradas e trechos de uma rodovia para ligar o Brasil e o Peru, que ultrapassou quatro vezes o valor do orçamento. Quase três anos de investigações resultaram na delação premiada de 77 executivos brasileiros da Odebrecht, e na prisão preventiva e acordo com o ex-diretor executivo da empresa, Marcelo Odebrecht.

 "Uma vez que você começa a abrir estes casos, é uma caixa de Pandora - poderia continuar por anos", disse Shannon K. O'Neil, analista do Conselho de Relações Exteriores. No entanto, ela chamou isso de desenvolvimento positivo para a região, mostrando que "o movimento anticorrupção na América Latina está ganhando terreno".

O noticiário avalia que talvez o caso mais espetacular até agora seja o de Alejandro Toledo, presidente do Peru de 2001 a 2006, procurado desde que um juiz emitiu mandado de prisão na semana passada sob acusações de ter aceitado até US$ 35 milhões em subornos. O paradeiro de Toledo era desconhecido, e os peruanos ficaram exaltados. Na noite de domingo, ele apareceu no Twitter, onde publicou uma declaração atestando sua inocência e negou que estivesse escondido.

"Eu nunca fugi de qualquer coisa. Quando saí do Peru, não havia acusações da Odebrecht contra mim, mas me chamam de 'fugitivo' ", escreveu, sem dizer nada sobre sua localização. O atual presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, pediu ao presidente Trump que extradite o Sr. Toledo se ele for encontrado nos Estados Unidos, acrescenta o Times.

Em Lima, o legado da Odebrecht é algo difícil de se calcular. Uma estátua de Cristo com braços abertas  com vista para a costa da cidade foi doada pela empresa. Mas a Odebrecht também colheu os benefícios de suas conexões com o país. A Rodovia Interoceânica, por exemplo, iniciada sob a administração de Toledo, custou US $ 4,5 bilhões, valor quatro vezes acima do orçamento. Os excessos foram aprovados por um funcionário que também está sob investigação por promotores.

Na gestão de Ollanta Humala, o predecessor do Sr. Kuczynski, a Odebrecht iniciou um gasoduto de gás natural de US $ 7 bilhões, ainda inacabado, para conectar a Amazônia à costa, atravessando os Andes. Outro ex-presidente, Alan García, supervisionou a licitação de uma linha de metrô em Lima, que a Odebrecht conquistou e construiu.

Se Toledo for preso e condenado, ele será o segundo presidente peruano por trás das grades, depois de Alberto K. Fujimori, ex-ditador do país, que foi condenado por abusos de direitos humanos, lembra o Times.

"Para o Peru, como qualquer outro país, até mesmo a possibilidade de ter dois ex-presidentes como prisioneiros é um embaraço", disse Marisol Pérez Tello, ministra da Justiça do país. Mas ela acrescentou: "Acho que este é um momento importante para pensar sobre nossa capacidade de institucionalizar a luta contra a corrupção".

Mais ao norte, na Colômbia, os líderes estavam na defensiva, pois os promotores disseram ter provas de que a Odebrecht havia doado US $ 1 milhão para a campanha de reeleição do presidente Juan Manuel Santos em 2014.

Falando aos repórteres na semana passada, o procurador-geral do país disse que um ex-deputado, Otto Bula, teria desviado para a campanha dinheiro da Odebrecht por meio de um intermediário. 

Bula está preso sob acusações de ter pago cerca de US $ 4,6 milhões em subornos para vários projetos na Colômbia, incluindo uma estrada que liga o interior do país ao Rio Magdalena e à estrada do Caribe conhecida como Ruta del Sol.

O Sr. Santos disse que não fez nada errado e está interessado em uma investigação completa do caso. Roberto Prieto, gerente de campanha de Santos, disse em uma declaração na semana passada que não conheceu o Sr. Bula, "nem mesmo para um café".

Os investigadores também estão investigando as negociações envolvendo campanhas de outros políticos, incluindo Oscar Iván Zuluaga, candidato de direita para presidência nas eleições de 2014.