ASSINE
search button

Ex-ministro da Justiça relata briga com Janot: "Extremamente seletivo na Lava Jato"

Eugênio Aragão chamou procurador-geral da República de 'desleal' e 'mesquinho'

Compartilhar

O ex-ministro da Justiça do governo de Dilma Rousseff, Eugênio Aragão, relatou uma briga que teve com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, após ter deixado o governo. A discussão se deu depois de conversa sobre que cargo Aragão ocuparia na Procuradoria-Geral - onde entrou em 1987 - depois de deixar o ministério. Aragão teria dito que Janot foi "mesquinho", "desleal" e "seletivo" na condução da Operação Lava Jato. As informações são do Estado de S. Paulo.

De acordo com a reportagem, Aragão e Janot já foram amigos no passado. Se tratavam como "Arengão" e "Rodrigo".

Durante troca de emails sobre a função que iria ocupar na volta à PGR, o procurador-geral perguntou se o ex-ministro gostaria de assumir a 6.ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF) – a que trata de populações indígenas e comunidades tradicionais. “Não gostaria”, respondeu Aragão. “Teria de lidar com o novo ministro da Justiça (Alexandre de Moraes, de Michel Temer), com quem eu não tenho uma relação de confiança”, explicou. “E o Supremo (Tribunal Federal)?”, contrapôs Janot. “O Supremo a gente conversa”, respondeu Aragão. “Então, tá, Arengão, bota a língua no palato”, escreveu o procurador-geral. “Rodrigo, quer saber, nós somos pessoas muito diferentes, e eu não dou a mínima para cargos”, respondeu Aragão, sem mais retorno.

De acordo com a reportagem, ao mandar Aragão "botar a língua no palato", Janot estaria se referindo a "calar a boca e/ou parar de arengar". Dias depois, Aragão foi ao gabinete de Janot.

Após um "chá de cadeira”, Aragão decidiu entrar no gabinete, onde se deu o diálogo:

Janot: Você me deu um soco na boca do estômago com aquela mensagem (“não estou interessado em cargos”).

Aragão: É aquilo mesmo que está escrito lá.

Janot: Então considere-se desconvidado.

Aragão: Ótimo. Eu não quero convite (para função), tudo bem, não tem problema. Olha, Rodrigo, nós somos diferentes. É isso mesmo. Para mim, você foi uma decepção...

Janot: O que você está querendo dizer? Vai me chamar de traíra?

Aragão: Não, traíra não. Não chega a tanto. Desleal, mas traíra não. (No caso Operação da Lava Jato) você foi extremamente seletivo... 

Janot: Você vem aqui no meu gabinete para me dizer que eu estou sendo seletivo?

Aragão: É isso mesmo.

Janot: Você vai para a p... que o pariu... Você acha que esse (ex-presidente) Lula é um santo? Ele é bandido, igual a todos os outros...

Aragão: Você foi muito mesquinho em relação ao Lula, só porque ele disse que você foi ingrato (em razão da indicação para a função)... Não tinha nem de levar isso em consideração. 

Janot: Isso é o que você acha. Eu sou diferente. O Lula é bandido, como todos os outros. E você vai à m...

Aragão: E os vazamentos das delações? Eu tive informações, quando ministro da Justiça, pelo Setor de Inteligência da Polícia Federal, que saíram aqui da PGR...

Janot: Daqui não vazou nada. E eu não te devo satisfação, você não é corregedor.

Aragão: É, você não me deve satisfação, mas posso pensar de você o que eu quiser.

Janot: Você vá à m..., você não é meu corregedor.

Aragão: Eu não vim aqui para conversar nesse nível. Só vim aqui para te avisar que estou de volta.

>> Veja a reportagem na íntegra