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Citado em delação da Odebrecht, assessor de Temer pede demissão

José Yunes entregou carta de desligamento no Palácio do Planalto

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O assessor especial da Presidência da República, José Yunes, entregou nesta quarta-feira (14) ao presidente Michel Temer sua carta de demissão. Citado na delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Yunes trabalhava no Palácio do Planalto diretamente com Temer, de quem é amigo há cinco décadas. 

O executivo da Odebrecht, em delação vazada na última sexta-feira (9) e publicada pela revista Veja, revelou que parte do valor de R$ 10 milhões repassado pela empreiteira ao PMDB teria chegado às mãos do advogado José Yunes em seu escritório em São Paulo.

Segundo a revista Veja, a informação dá sustentação à possibilidade de que o dinheiro recebido pelo advogado poderia ter sido repassado para Temer. A suspeita se origina nas questões elaboradas pelos advogados do ex-presidente da Câmara dos Deputados e preso pela Lava Jato, Eduardo Cunha (PMDB).

>> Marcelo Odebrecht confirma pagamento a pedido de Temer

Quando Cunha listou Temer como uma de suas testemunhas de defesa, foram apresentadas 41 perguntas que deveriam ser respondidas pelo presidente. Segundo a revista, em uma das questões enviadas ao juiz Sergio Moro, os advogados de Cunha pediram que fosse perguntado a Temer se Yunes alguma vez providenciara contribuição para o PMDB ou para o próprio presidente.

A pergunta foi vetada por Moro juntamente com outras 20 questões, alegando que qualquer denúncia envolvendo Temer deveria ser investigada pelo STF, e não em Curitiba, já que ele tem foro privilegiado.

Veja a carta de demissão enviada por José Yunes a Michel Temer

Caro Presidente,

Movido pelo alto interesse em dedicar meu tempo à causa da Nação, depois de ter vivido fértil passagem pela vida político-partidária, nas jornadas cívicas das décadas de 70/80, aceitei convite de Vossa Excelência para assessorá-lo no Planalto, oportunidade em que passei a conviver com experientes e altos quadros do seu Governo.

Seria uma honra ajudar o amigo de 50 anos a colocar o país nos trilhos, após a hecatombe que arrasou a economia, proporcionando a maior recessão de toda a nossa história, jogando milhões de pessoas nas ondas perversas do desemprego, minando a confiança de brasileiras e brasileiros de todas as classes em governantes e instituições.

Nos últimos dias, Senhor Presidente, vi meu nome jogado no lamaçal de uma abjeta delação, feita por uma pessoa que não conheço, com quem nunca travei o mínimo relacionamento e cuja existência passei a tomar conhecimento, nos meios de comunicação, baseada em fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie de uma doação destinada ao PMDB.

Repilo com a força de minha indignação essa ignominiosa versão.

Como advogado e pai de família, que zela pelo dever de agir como cidadão sob os valores da honra e do zelo pela expressão da verdade, em respeito à minha família, aos amigos e aos concidadãos, não posso ver meu nome enxovalhado por irresponsáveis denúncias de figurantes com quem nunca tive qualquer contato direto ou por terceiros.

Para preservar minha dignidade e manter acesa a chama cívica que me faz acreditar nos imensos potenciais de meu país, declino, Senhor Presidente, do honroso cargo de assessor da Presidência, sem, porém, abdicar da admiração e da amizade que nos une desde os heróicos tempos nas Arcadas do Largo de São Francisco.

Tenha em mim o leal amigo que o acompanha há décadas e que o admira por suas incomparáveis qualidades, entre as quais, o equilíbrio, a capacidade de harmonizar os contrários, a sapiência, o respeito pelo outro, a determinação de fazer as grandes reformas que o país exige e a vontade férrea de pacificar a Nação.

São Paulo, 14 de dezembro de 2016.

José Yunes, advogado