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Lava Jato: Odebrecht vai incluir mais 30 funcionários em delação

Caso MPF aceite proposta, empreiteira terá mais de 80 executivos com acordo firmado

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A Odebrecht planeja incluir pelo menos mais 30 funcionários no acordo de delação premiada que vem sendo negociado com o Ministério Público Federal. A informação é da Folha de S.Paulo deste sábado (15). Se a proposta for aceita, a empreiteira terá mais de 80 delatores na Operação Lava Jato.

De acordo com a reportagem, os executivos cujas delações já haviam sido aceitas relataram aos procuradores informações que envolviam outros funcionários, daí a sugestão para que estes relatassem fatos dos quais participaram. 

Caso a resposta do MPF seja positiva, os novos delatores entrarão na categoria de lenientes, ou seja, sem sanções penais ou multas. A regra não valerá para os acordos anteriores, que não livrarão os delatores - a maioria com cargos mais altos - de multas e prisões, que poderão ser convertidas em prisões domiciliares, com exceção de Marcelo Odebrecht, que vem cumprindo pena preventiva.

Em conversas preliminares que englobam diversas delações da Odebrecht, uma das mais aguardadas e temidas no meio político, o presidente Michel Temer (PMDB) e o ministro José Serra (PSDB). Em reportagem recente, a revista Veja afirmou que há em uma das delações da Odebrecht um anexo com a informação de que Temer participou de uma reunião em maio de 2014, que resultou em uma doação no valor de RS 10 milhões. 

Além de Odebrecht e Michel Temer, o ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha também participou do encontro. De acordo com o anexo, o jantar aconteceu dentro do Palácio do Jaburu, residência oficial da vice presidência, ainda segundo Odebrecht, o pagamento foi realizado com dinheiro vivo. 

Em outra delação, executivos da empreiteira relataram repasse de R$ 23 milhões para a campanha do hoje ministro das Relações Exteriores, José Serra, para a Presidência da República em 2010. Corrigido pela atual inflação, o valor é equivalente a R$ 34,5 milhões. A informação foi dada aos procuradores no final de setembro por funcionários que tentavam homologar um acordo de delação premiada.

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Entenda a Operação Lava Jato

O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas. Embora a investigação tenha avançado para outras organizações criminosas, o nome inicial se consagrou.

A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Soma-se a isso a expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia.

No primeiro momento da investigação, desenvolvido a partir de março de 2014, perante a Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro organizações criminosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas de um imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras.

Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa.

As empreiteiras - Em um cenário normal, empreiteiras concorreriam entre si, em licitações, para conseguir os contratos da Petrobras, e a estatal contrataria a empresa que aceitasse fazer a obra pelo menor preço. Neste caso, as empreiteiras se cartelizaram em um “clube” para substituir uma concorrência real por uma concorrência aparente. Os preços oferecidos à Petrobras eram calculados e ajustados em reuniões secretas nas quais se definia quem ganharia o contrato e qual seria o preço, inflado em benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal. O cartel tinha até um regulamento, que simulava regras de um campeonato de futebol, para definir como as obras seriam distribuídas. Para disfarçar o crime, o registro escrito da distribuição de obras era feito, por vezes, como se fosse a distribuição de prêmios de um bingo.

Funcionários da Petrobras - As empresas precisavam garantir que apenas aquelas do cartel fossem convidadas para as licitações. Por isso, era conveniente cooptar agentes públicos. Os funcionários não só se omitiam em relação ao cartel, do qual tinham conhecimento, mas o favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as participantes, em um jogo de cartas marcadas. Segundo levantamentos da Petrobras, eram feitas negociações diretas injustificadas, celebravam-se aditivos desnecessários e com preços excessivos, aceleravam-se contratações com supressão de etapas relevantes e vazavam informações sigilosas, dentre outras irregularidades.

Operadores financeiros - Os operadores financeiros ou intermediários eram responsáveis não só por intermediar o pagamento da propina, mas especialmente por entregar a propina disfarçada de dinheiro limpo aos beneficiários. Em um primeiro momento, o dinheiro ia das empreiteiras até o operador financeiro. Isso acontecia em espécie, por movimentação no exterior e por meio de contratos simulados com empresas de fachada. Num segundo momento, o dinheiro ia do operador financeiro até o beneficiário em espécie, por transferência no exterior ou mediante pagamento de bens.

Agentes políticos - Outra linha da investigação – correspondente à sua verticalização – começou em março de 2015, quando o Procurador-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 petições para a abertura de inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 são titulares de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”). São pessoas que integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras. Elas foram citadas em colaborações premiadas feitas na 1ª instância mediante delegação do Procurador-Geral. A primeira instância investigará os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na área criminal aqueles sem prerrogativa de foro.

Essa repartição política revelou-se mais evidente em relação às seguintes diretorias: de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, de indicação do PP, com posterior apoio do PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB. Para o PGR, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando Baiano e João Vacari Neto atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros, em nome de integrantes do PMDB e do PT.