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Paulo Hartung critica medidas tomadas durante governo interino de Temer

'A interinidade foi uma dança de roda à beira do precipício', disse governador

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Em almoço com investidores, empresários e gestores, promovido pela XP Investimentos, o economista e governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, do PMDB, fez duras críticas às decisões econômicas tomadas durante o governo interino de Michel Temer (PMDB) ao Valor Econômico.

"A interinidade foi uma dança de roda à beira do precipício. Não podemos continuar a flertar com os piores exemplos na América Latina", afirmou Hartung, para quem o Brasil precisa encarar a urgência das reformas estruturais, a começar pelo crescimento da folha de pagamentos e da Previdência.  

Paulo Cesar Hartung Gomes filiou-se ao (PMDB em 1979. Nessa legenda foi eleito deputado estadual, em 1986, e mais tarde, em 2006, tornou-se governador do Espírito Santo. 

Em 1988, deixou o PMDB e ingressou no PSDB, tornando-se um dos membros fundadores do partido no Espírito Santo. O economista que declarou apoio à candidatura de Aécio Neves (PSDB) em 2014, chegou a ocupar a posição de líder da bancada da Assembléia Estadual Constituinte, eleito deputado federal, prefeito de Vitória, senador, e integrante da comissão executiva regional do partido.

Em conversa com o Valor depois do evento, Hartung fez uma avaliação negativa do reajuste para algumas categorias do funcionalismo público, que vão ter impacto sobre as contas públicas ainda nos próximos anos, e a renegociação da dívida com os governos estaduais. 

"Deram R$ 50 bilhões para os governos regionais e no dia seguinte tínhamos 14, 15 Estados pedindo mais dinheiro. Não é assim que se resolve o problema", afirmou ele. 

Segundo o Valor, o Espírito Santo conseguiu sair de déficit de R$ 1,4 bilhão em 2014 para um pequeno superávit em 2015, porém o governador afirmou que a negociação não foi fácil. 

"Nossa conversa, com os funcionários e com a sociedade, era a de que precisávamos manter os salários em dia. E nisso tivemos ajuda do nosso vizinho. A hora que o Rio de Janeiro começou a atrasar salários, a conversa, apesar de tensa, ficou um pouco mais fácil", disse.

Para Hartung, a rápida aprovação da PEC 241, que limita o crescimento da despesa primária da União à inflação do ano anterior, tende a animar investidores. Afirmou ainda que o realismo orçamentário que o Novo Regime Fiscal vai exigir é parte importante da saída da crise atual. 

"Passar 'raspando', ou perder a primeira votação, seria um desastre. Cada votação bem-sucedida vai animar o caminho reformista, que precisamos retomar", disse.

Entretanto, o sucesso dessa agenda, segundo o Valor, vai depender do convencimento da sociedade e, nesse ponto, há um problema de comunicação no governo. 

"Ideal era que a comunicação fosse boa com instituições e Congresso, e que também fosse vigorosa com o conjunto da sociedade. Esse é um déficit que existe”, disse o governador do Espírito Santo em análise do governo Temer.

Para Hartung, é preciso comunicar à sociedade os riscos de não haver mudanças. 

"Precisamos mostrar que a reforma é necessária porque a alternativa é a Grécia. Ou até mesmo o Rio de Janeiro. O aposentado ia ao banco, mas não conseguia sacar a aposentadoria. Tinha direito, mas não tinha dinheiro", disse. 

Hartung contou também que depois desse ciclo deve se dedicar à política nacional e disputar um cargo como senador ou deputado federal, "dependendo da conjuntura". 

"Já avisei no Estado, esse terceiro mandato é o limite. Faço minha contribuição e vou entregar o governo ao meu vice [o ex-deputado federal Cesar Colnago, do PSDB]", afirmou.

Embora seu nome seja mencionado como potencial candidato à Presidência em 2018, o governador desconversou para o Valor. Disse que o Espírito Santo é um Estado pequeno e que deve apenas concorrer a uma vaga para o Congresso. 

>> Veja a matéria na íntegra