O ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, vai relatar, com base em documentos, que pagou suborno a auxiliares do então governador de Minas Gerais, o hoje senador Aécio Neves (PSDB), durante a construção da Cidade Administrativa. A obra foi a mais cara obra do tucano nos oito anos em que permaneceu à frente do Estado, entre 2003 e 2010. As informações são da Folha de S. Paulo.
O relato de Pinheiro faz parte do acordo de delação premiada que está sendo negociado com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato de Curitiba e Brasília, e que ainda não foi assinado.
O centro administrativo foi inaugurado em 2010 para abrigar 20 mil funcionários públicos. De acordo com Leo Pinheiro, a OAS pagou 3% sobre o valor da obra a um dos principais auxiliares de Aécio, Oswaldo Borges da Costa Filho, que é apontado por tucanos e opositores como o tesoureiro informal de seguidas campanhas de Aécio, entre 2002 e 2014.
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A obra da Cidade Administrativa foi estimada em R$ 500 milhões, orçada em R$ 949 milhões, mas custou R$ 1,26 bilhão, segundo documentos do governo de Minas obtidos pela reportagem da Folha. Com mobiliário e outros itens, diz a reportagem, o gasto total alcança R$ 2,1 bilhões.
Oswaldo Borges da Costa Filho é contraparente de Aécio: ele é casado com uma filha do padrasto do senador, o banqueiro Gilberto Faria (1922-2008). A reportagem destaca que após vencer a eleição para o governo em 2002, o tucano colocou-o para presidir a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, uma empresa pública dona de mineradoras, hotéis e fontes de água mineral.
"Foi essa empresa, chamada Codemig, que fez a licitação em 2007 e cuidou da obra da Cidade Administrativa, o que foi considerado incomum, já que Oswaldo teve papel na arrecadação da primeira campanha de Aécio ao governo mineiro", diz a Folha, que acrescenta ainda quea família de Oswaldo também é proprietária de uma empresa de táxi-aéreo que é dona de um jatinho Learjet que foi usado por Aécio. Ele tem uma coleção de carros raros, entre os quais um Rolls-Royce que Aécio costumava usar quando era governador. A joia da coleção, no entanto, é um Bugatti 1938.
Léo Pinheiro relatou a investigadores da Lava Jato que tem provas do caminho que o dinheiro percorreu até chegar ao assessor do tucano.
Oswaldo Borges da Costa Filho também aparece na superlista da Odebrecht na qual 316 políticos são relacionados com distribuição de verba, segundo a Polícia Federal. Ao lado do nome dele, aparece o nome de um diretor da Odebrecht em Minas e a mensagem de que o grupo viabilizaria uma doação de R$ 15 milhões para "Mineirinho", codinome que a PF está investigando para saber quem é.
A anotação é de setembro de 2014, quando Aécio disputava a eleição presidencial que foi vencida por Dilma Rousseff (PT).
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse em nota à Folha que desconhece os relatos feitos pelo empresário Léo Pinheiro sobre suposta propina em sua administração e que considera as declarações "falsas e absurdas".