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Em Minas, Mujica afirma que troca de governantes não resolve problema

Ex-presidente do Uruguai recebeu, em Ouro Preto, a Medalha da Inconfidência

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O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica foi homenageado nesta quinta-feira (21), em Ouro Preto (MG), com o Grande Colar, grau máximo da Medalha da Inconfidência, honraria concedida por Minas Gerais e entregue anualmente no dia 21 de abril, feriado de Tiradentes. Em seu discurso, Mujica disse que o pior resultado para o atual cenário político do Brasil é que as novas gerações passem a acreditar que a política não serve para nada.

"Necessitamos da política, o homem é um animal político. A função da política é impor limite às dores e às injustiças. É lutar por um mundo melhor, buscando conciliar permanentemente as diferenças. Não é função da política esmagar as diferenças. O pior resultado para as novas gerações diante do conflito que está vivendo o Brasil é que se termine com a conclusão de que a política não serve para nada. Há que se salvar a política, isto é um problema do Brasil", afirmou o uruguaio.

Assistido por manifestantes, em grande parte mobilizados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-ute), Mujica acabou se tornando figura principal de mais uma manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, que está em Nova York para defender em discurso na ONU a tese de golpe de Estado.

Mal terminou o evento, jornalistas o rodearam. Diante da pergunta sobre a caracterização do processo como golpe, uma resposta inesperada. "Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem". Em sua opinião, a troca de governantes não resolve a crise. “Se Cristo estivesse aí, tampouco ele resolveria porque é um problema do sistema”.

Antes, em seu discurso, o ex-presidente do Uruguai destacou os altos e baixos da política. "Mineiros e mineiras, a vida me ensinou alguma coisa. Os únicos derrotados são os que deixam de lutar", começou ele. "Penso, mineiros, que talvez seja uma luta eterna com fluxos e refluxos, com pontos de partidas, com quedas e voltar a levantar. É importante aprender que na vida a defesa das causas nobres necessita da coragem de sempre recomeçar".

Por trás desta mensagem, está um homem que perdeu 14 anos de sua vida dentro de uma prisão, 11 deles em regime de isolamento. A pena que lhe foi imposta pela ditadura em seu país não impediu que ele viesse a ser tornar presidente do Uruguai. O discurso de cair e levantar encontra eco em sua própria trajetória.

Mujica também explicou porque a política é necessária. "Todos sabemos que a democracia nunca foi reconhecida como perfeita. E nem pode ser. Porque é uma construção humana. E não somos deuses. Somos diferentes, nascemos em lugares diferentes, viemos de classes diferentes, geneticamente temos diferenças. E como não somos perfeitos, a sociedade tem e terá sempre conflitos. Mas ao mesmo tempo não podemos viver em solidão. Somos seres sociais. Porque somos sociais e temos defeitos e conflitos, é que precisamos da política. A função da política é colocar limite à dor e à injustiça, é lutar por um mundo melhor, buscando negociar permanentemente as inevitáveis diferenças".

>>Presidente Dilma embarca para Nova Iorque para cerimônia na ONU

Com Agência Brasil