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Brasil tem um 'veio golpista adormecido', diz Dilma Rousseff

“Eleição perdida por essa margem tornou essa oposição derrotada bastante reativa"

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A presidenta Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (19), a jornalistas estrangeiros no Palácio do Planalto, que é vítima de um processo de impeachment baseado em uma injusta fraude jurídica e política. A mandatária ressaltou que, nos períodos democráticos do país, todos os presidentes enfrentaram processos de impedimento no Congresso Nacional.

“O Brasil tem um veio que é adormecido, um veio golpista adormecido. Se nós acompanharmos a trajetória de presidentes no meu País, do regime presidencialista a partir de Getúlio Vargas, nós vamos ver que o impeachment sistematicamente se tornou um instrumento contra os presidentes eleitos”, destacou Dilma. 

A mandatária argumentou que crise econômica não é motivo suficiente um pedido de impeachment de um presidente da República. Para ela, as tentativas de desestabilizar seu mandato têm como base a estreita margem de votos que a elegeram nas eleições de 2014.

“Essa eleição perdida por essa margem tornou essa oposição derrotada bastante reativa a essa vitória e por isso começaram um processo de desestabilização. Esse meu mandato de 15 meses tem o signo da desestabilização política”, completou Dilma.

A presidente voltou a dizer que o vice-presidente Michel Temer conspirou "de forma aberta" contra ela e ressaltou que os defensores de seu afastamento "estão vendendo terreno na Lua", fazendo uma referência às articulações entre PMDB e PSDB para a composição de uma nova equipe ministerial.

“Acredito que os que estão golpeando atendem só a um lado do país e estão vendendo terreno na lua. Quando você está sendo vítima de um golpe, tem várias opções, mas eu acho que quem tem honra e dignidade, tem uma: é resistir. Nós iremos resistir ”, disse a presidenta.

Cunha

Ao se referir a Cunha, ela destacou que o retrospecto do presidente da Câmara não o abona para ser juiz de nenhum processo. “Me sinto vítima de um processo que é um processo em que meus julgadores, principalmente o exemplo maior, que é o presidente da Câmara, tem um retrospecto que não o abona para ser juiz de nada, abona para [ser] réu.”

Segundo a presidenta, o processo de impeachment contra ela na Câmara teve início por um desejo de vingança de Eduardo Cunha, já que o PT votou favoravelmente ao andamento de processo contra ele no Conselho de Ética da Casa. “Esse processo teve início por um desvio de poder, uma vingança, uma explícita vingança.”

Dilma também fez referência a Temer, ao dizer que é “muito pouco usual” que se tenha um vice-presidente com as atitudes dele. “A conspiração se dá pelo fato de que a única forma de chegarem ao poder no Brasil é utilizando-se de métodos, transformando e ocultando o fato de que esse processo de impeachment, na verdade não é um processo de impeachment, mas é uma tentativa de eleição indireta de um grupo que, de outra forma, não teria acesso [ao poder] pelos únicos meios justificáveis.”

A presidenta disse que é vítima de um processo de meias verdades ao falar sobre o pedido de impeachment que enfrenta e que a divergência política pura e simples não pode ser usada como base para um processo desse tipo. Durante a entrevista, ela defendeu ainda a legalidade das operações contábeis do governo que embasaram o pedido de impeachment.

Lava Jato

Perguntada se não sabia que havia corrupção no partido e na Petrobras, Dilma respondeu que é próprio da corrupção “ser feita às escuras, ser escondida”. “Ninguém é ingênuo e acredita que a corrupção surgiu agora. Ela foi revelada e lançada à luz agora, pelo meu governo e do presidente Lula [ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva], porque toda a legislação que permite essas investigações foi feita no meu governo ou no dele”, afirmou.

Sobre a Operação Lava Jato, a presidenta disse que as investigações não são isoladas. “Não acredito que a Lava Jato é um raio em céu aberto, Hoje não acredito. Antes estava tudo debaixo do tapete. Você me pergunta se eu não sabia [sobre a corrupção]. Aí, te digo: foi preciso a delação premiada, o reconhecimento da independência dos procuradores, do Ministério Público, uma atitude em relação à Polícia Federal, foi preciso um conjunto de leis para que isso fosse descoberto”, afirmou. “Ainda tem muita coisa que não se sabe, não vamos acreditar que está tudo escancarado”, afirmou.

Bolsonaro

Dilma disse ainda ser "lamentável" que o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tenha feito uma homenagem ao torturador da ditadura militar Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015. Dilma foi questionada pelos jornalistas sobre a declaração do deputado, feita no último domingo, ao dar seu voto favorável ao processo de impeachment, na Câmara dos Deputados.

“De fato, fui presa nos anos 70, de fato, eu conheci bem esse senhor ao qual ele [Bolsonaro] se refere. Foi um dos maiores torturadores do Brasil. Sobre ele, recai não só acusação de tortura, mas também acusação de morte. É só ler os papéis da Comissão da Verdade e mesmo outros relatos”, afirmou Dilma, em entrevista a correspondentes estrangeiros, no Palácio do Planalto.

A presidenta disse considerar “gravíssima a aventura golpista” em curso no país, porque teria levado a uma situação de polarização que não se vivia no Brasil, “que é uma situação de raiva, ódio e perseguição”.

“Eu lastimo que esse momento no Brasil tenha dado abertura para a intolerância, para o ódio, para esse tipo de fala [de Jair Bolsonaro]. Num processo como o nosso, em que a democracia resulta de uma grande luta de resistência, que abrangeu os mais variados setores, é terrível você ver num julgamento alguém votando em homenagem ao maior torturador que esse país conheceu. É lamentável”, reiterou.

Impeachment

Os deputados aprovaram neste domingo (17), por 367 votos a favor e 137 contra, o prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente. Em uma entrevista concedida à imprensa nesta segunda-feira (18), ela disse se sentir indignada e injustiçada com a decisão da Câmara dos Deputados.

Se a admissibilidade do afastamento for aprovada também pelos senadores, a presidente será afastada do cargo por até 180 dias, enquanto o Senado analisa o processo em si e define se Dilma terá o mandato cassado.

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