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Dilma: "Me sinto injustiçada, mas tenho força, coragem e não vou me abater"

Presidente chamou impeachment de tentativa de eleição indireta e criticou Temer

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A presidente Dilma Rousseff afirmou, em pronunciamento no início da noite desta segunda-feira (18), que se sente injustiçada com o resultado da votação do impeachment na Câmara dos Deputados. Dilma disse que assistiu à toda sessão neste domingo (17) e que não viu em nenhum momento entre os parlamentares a discussão sobre o crime de responsabilidade no qual se baseia o processo. 

"Hoje, me sinto, sobretudo, injustiçada, porque esse processo não tem base de sustentação. A injustiça sempre ocorre quando se esmaga o processo de defesa, mas também quando, de uma forma absurda, se acusa alguém  por algo que não é crime e quando se acusa, mas ninguém se refere ao problema. Assisti a todas as intervenções e não vi uma discussão sobre o crime de responsabilidade, que é a única maneira de se julgar um presidente da República no Brasil, porque a Constituição assim prevê", argumentou.

A presidente voltou a dizer que os atos pelos quais ela é acusada foram praticados por outros presidentes da República e considerados legais. "Quando me sinto indignada é porque a mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém, os atos foram baseados em pareceres técnicos, não beneficiam a mim nem são para que eu enriqueça. Eles são atos praticados por todos os presidentes em exercício, são feitos numa cadeia de decisões, de pareceres técnicos, juristas consultados. Além disso, não há contra mim acusação de enriquecimento ilícito, contas no exterior, por isso eu me sinto injustiçada. Os que praticaram atos ilícitos presidem a sessão que trata de uma questão tão grave, que é o impedimento de um presidente da República", disse, referindo-se ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ocultação de contas no exterior.

Dilma afirmou o impeachment contra ela é, na verdade, uma tentativa de eleição indireta e fez referência ao vice-presidente Michel Temer, sem citar o nome do peemedebista: "Não se pode chamar de impeachment o que é uma tentativa de eleição indireta, ela se dá porque aqueles que querem ascender ao poder não tem votos para tal. É importante reconhecer que é extremamente inusitado, estranho e estarrecedor que um vice no exercício do seu mandato conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que fizesse isso seria respeitada, porque a sociedade humana não gosta de traidores", criticou Dilma.

Veja trechos do discurso e da coletiva de imprensa da presidente

Golpe de Estado: "No passado, na minha juventude, enfrentei por convicção a ditadura, agora enfrento com convicção um golpe de Estado, um golpe que não é o tradicional da minha juventude, mas, infelizmente, é o golpe da minha maturidade, o que usa de um processo legal e democrático, mas que condena o inocente, é a injustiça. Nenhum governo será legítimo sem ser por obra do voto secreto, direto numa eleição convocada previamente para este fim, na qual todos os cidadãos e cidadãs participem."

Repactuar base no Senado: "Não se trata disso nesse momento, podemos vir a repactuar, mas agora não se trata de modificar ministérios ou tomar medidas em termos de cargos. Obviamente que os que votaram pelo impeachment não podem permanecer no governo por uma simples questão de consequência dos seus próprios atos, estranho seria o contrário (..) Teremos uma relação absolutamente diferente da Câmara, até porque essa é a realidade política do país, teremos sempre uma interlocução qualificada com os senadores."

Lula: "Ele tem me ajudado muito nesse pocesso, esperamos que nessa semana seja autorizada (pelo STF) a vinda dele para a chefia da Casa Civil. Nós somos companheiros especiais, porque ao longo dos últimos seis anos trabalhamos juntos diuturnamente. Agora voltamos a trabalhar juntos, não ainda diuturnamente porque ele ainda não é  ministro-chefe da Casa Civil."

Economia pós-impeachment: "Será necessário um grande rearranjo do governo, teremos outro governo com um novo caminho. Já enfrentei o primeiro turno, o segundo turno, o terceiro turno e agora vou entrar no quarto turno (da eleição). Além das medidas que anunciamos, lançaremos outras medidas (...) Não posso anunciar porque as que lançamos ainda não foram aprovadas pelo Congresso."

Judicialização do impeachment: "Não abrimos mão de nenhum dos instrumentos para defender a democracia. Por isso, não se trata de judicializar processo nenhum, mas de exercer em todas as dimensões o direito de defesa.".