ASSINE
search button

Em evento na Bahia, acadêmicos criticam pedido de impeachment

 Vladimir Safatle destacou importância de refletir sobre erros da esquerda no país

Compartilhar

Professores universitários que participaram nesta quarta-feira (6) do ciclo de debates Crise e Democracia, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), criticaram o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que tramita na Câmara. Todos os participantes se posicionaram contra a saída de Dilma antes do fim de seu mandato. Apesar da defesa, os debatedores não economizaram críticas ao governo petista.

“Prometeram para nós que em 2016 o Brasil seria a quinta economia do mundo, que estaríamos nadando em petróleo. Houve uma frustração enorme e uma parte da sociedade se aproveita disso para colocar seu preconceito. Se não entendermos os erros da primeira experiência do governo de esquerda no Brasil, nunca mais vamos voltar a governar esse país”, disse o professor da Universidade de São Paulo (USP) Vladimir Safatle.

>> Professores lançam manifesto internacional contra impeachmentCarta tem nomes como Fábio Konder Comparato e Eduardo Viveiros de Castro

O professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e dirigente do PT, Valter Pomar, discordou de Safatle. Para Pomar, o que está sendo atacado pela direita brasileira são os avanços na área social   obtidos nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma. “Não são os defeitos do PT o alvo da direita. São as qualidades do que nós fizemos. A questão é saber como derrotar a direita recuperando uma ofensiva, o caminho das mudanças.”

O professor da UFBA Jorge Almeida disse que o país vive uma “crise de legitimidade”, por não encontrar em nenhum dos maiores atores políticos da atualidade uma figura que transmita a confiança necessária para reverter a crise. “O governo Dilma está dentro da legalidade, mas perdeu a legitimidade porque fez tudo o que disse que não faria. Mas os outros também não têm legitimidade. Com ou sem impeachment a crise econômica e política vão continuar, porque não existe nenhuma liderança capaz de solucionar isso.”

Durante o evento, os debatedores usaram muitas vezes o termo “golpe” para definir o processo de impeachment de Dilma.

“O que está havendo é um golpe tosco. Vimos como todo o processo foi feito. Em 2014, o país foi radicalmente dividido. E, depois da eleição, essa divisão se radicalizou. O Brasil como país não existe, o que existe é uma fenda que divide o país em dois”, disse Safatle.

“O golpismo se caracteriza pela ideia de querer tirar uma pessoa [do poder] por uma questão de princípios, de ter que tirar, e depois procura uma razão. Na minha opinião, a saída é não ter golpe. E, depois de não ter golpe, teremos que garantir os rumos da retomada do desenvolvimento brasileiro”, disse Haroldo Lima, membro do PCdoB e ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).