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Manifestantes vão às ruas em defesa da democracia em diversas capitais

Atos em todos os estados e no DF criticam impeachment de Dilma Rousseff

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Movimentos sociais, centrais sindicais, partidos de esquerda e defensores da democracia foram às ruas em 20 estados brasileiros nesta quinta-feira (31) para se manifestar contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, para pedir que seja respeitado o resultado das urnas nas eleições de 2014 e para protestar contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu da Lava Jato no STF e líder do processo de impedimento do mandato de Dilma. 

Entre os presentes, a maioria era trabalhadora e estava sem crianças de colo e sem babás, e em idade para votar. 

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Representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Frente Brasil Popular, Janeslei Aparecida de Albuquerque diz que haverá atos em todos os estados e em centenas de cidades do interior. “Brasília, por ser a capital do país, é fundamental para dar visibilidade à nossa insatisfação com o golpe que está sendo aplicado contra o Brasil. Motivo pelo qual entre 700 e mil ônibus estão vindo para cá, vindos de todos os estados brasileiros”, disse ela.

“O que queremos é barrar esse golpe porque sem crime de responsabilidade esse impeachment é golpe. Em relação às pedaladas, trata-se de remanejamento de recursos públicos. Algo que é feito por todos governos nas esferas federal, estadual e municipal. Portanto nada tem a ver com qualquer desvio de recursos. Está muito claro para cada vez mais pessoas que o que acontece é que quem perdeu a eleição não tem espírito republicano nem democrático. Este é o papel histórico de entidades como a Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], entidade que sempre agiu contra a classe trabalhadora, arrancando sangue e a mais valia e sem dar retorno justo ao trabalho”, disse a sindicalista.

As palavras de ordem dos líderes do movimento, que falavam ao microfone em sete carros de som que estavam no estacionamento do estádio, ecoavam também nas vozes das milhares de pessoas concentradas, entre elas, a trabalhadora rural Cristiane Rocha Oliveira, 33 anos. Ela passou três dias viajando desde Piripiri (PI) até Brasília, em um ônibus com 48 pessoas. “A gente está cansado das mentiras que vimos na televisão, e viemos até aqui para mostrar que em muitos lugares do país a Dilma é bastante popular pelo muito que fez para melhorar a vida da gente”, disse ela à Agência Brasil.

“Desde que o Lula foi presidente, muita coisa boa aconteceu na minha cidade, principalmente nas escolas. A vida melhorou 100%. A alimentação, a saúde. Há três meses consegui a minha casa [pelo Programa Minha Casa Minha Vida] e parei de pagar aluguel. A Dilma trata o pobre como ninguém antes tratava, e gastar com pobre é um gasto mais digno do que o gasto com o rico, porque é a gente quem precisa”, disse.

As dificuldades de locomoção do cadeirante Marco Borges, 58 anos, não o desanimaram a embarcar em uma viagem de 650 quilômetros - distância entre Santana (BA) e Brasília. “Vale o sacrifício porque minha missão é ajudar a defender a democracia de meu país. Democracia que foi conquistada com muito custo após 1964. O mundo mudou e os tipos de ditaduras também. Agora nosso risco é o de viver uma ditadura judiciária respaldada por uma mídia pra lá de comprometida. É um absurdo a Dilma, que nem investigada é, ser refém de uma pessoa comprovadamente corrupta como o Eduardo Cunha”, disse o aposentado.

“E não podemos aceitar que o Temer se torne o principal e mais importante personagem de nosso país, quando ele só está na vice-presidência graças à Dilma. Ele deveria ajudá-la, e não golpeá-la”, acrescentou o cadeirante que veio acompanhado de um grupo de 50 pessoas. “O Luz para Todos levou a nossa cidade também o acesso à internet. Isso deixou nossa cidade mais bem informada e consciente de que o Brasil é muito diferente.”

Operador de trator, Salvador Gregório, 52 anos, viajou mais de 400 quilômetros vindo de Coromandel (MG) na companhia da esposa, que não quis se identificar. “Estão querendo tirar nossa presidenta e a gente não aceita”, disse. “Vou lhe falar uma coisa: o que o Lula, e depois ela, fizeram para a gente ninguém nunca fez. Em primeiro lugar, eles nos respeitam. Tratam pobre que nem rico. Melhorou a renda lá de casa e a gente espera que isso continue porque a gente precisa ter uma terrinha e parar de pagar aluguel”.

Coordenador da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), José Carlos Padilha Arêas diz que a luta para garantir e dar estabilidade ao governo Dilma tem por objetivo a continuidade dos avanços dos direitos sociais dos brasileiros. “Estão usando a crise mundial pela qual passa o capitalismo para prejudicar o Brasil, a exemplo do que fizeram com a Grécia. Esse projeto que o Temer já vem propagandeando, chamado de Ponte para o Futuro, é também um golpe contra os avanços sociais no Brasil”, argumentou.

São Paulo

Na capital paulista, as manifestações contra o impeachment e em defesa da presidenta Dilma Rousseff ocorreram na Praça da Sé. Milhares de pessoas se reuniram no local, onde foram instalados quatro carros de som com bandeiras de diversas entidades, entre elas a Frente Brasil Popular, Central de Movimentos Populares (CMP), a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), a União da Juventude Socialista, além de sindicatos de diversas categorias.

Além da Praça da Sé, a multidão também ocupou a rua lateral da catedral, no centro da capital paulista. O ato foi batizado de “Em Defesa da Democracia, Golpe Nunca Mais”.

Os manifestantes carregavam balões gigantes, bexigas vermelhas e faixas com mensagens contra o impeachment. João Souza Neto, metalúrgico de 47 anos, disse que o motivo do protesto de hoje é contra o golpe e pela democracia. "O impeachment é dado quando há responsabilidade e não há nada que configure crime", afirmou.

O professor Daniel Eid Garcia, 41 anos, diz que participou de todas as manifestações contra o impeachment este ano. Ele disse que foi ao ato de hoje para reforçar a ideia de que a sociedade não pode aceitar o impedimento da presidenta. “O método [atual] configura golpe, não há sustentação jurídica para o impeachment”, disse.

O coordenador da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bomfim, concorda com a avaliação. “Está claro que não tem embasamento jurídico [para o impeachment], a presidenta Dilma não cometeu crime de responsabilidade, será um golpe se isso ocorrer. Nós estamos confiantes que não vai ocorrer. E se ocorrer, o [vice-presidente] Michel Temer já começa um governo deslegitimado”, disse.

Chico Buarque no Rio

No Largo da Carioca, onde milhares de manifestantes se juntaram para fazer a manifestação em favor do governo, a estrela da noite foi o cantor e compositor Chico Buarque que foi ovacionado por gritos de “Chico, guerreiro do povo brasileiro”.

“Eu vim aqui dar um abraço nas pessoas das mais variadas tribos, das mais variadas convicções políticas. Gente que votou no PT, gente que não gosta do PT, gente que foi do PT, que se desiludiu com o partido, gente que votou na Dilma, mas sobretudo, gente que não pode pôr em dúvida a integridade da presidente Dilma Rousseff.”

Segundo Chico, todas as pessoas estavam reunidas em uma “defesa intransigente” da democracia. “Eu vejo gente aqui na praça, da minha geração, que viveu o 31 de março de 1964. Mas vejo, sobretudo, a imensa juventude que não era nem nascida, mas que conhece a história do Brasil.”

Mais cedo, o presidente da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), Rossino Castro Diniz, disse que a população favelada do país, as camadas mais pobres, beneficiários dos principais programas sociais do governo, é contrária ao que chamou de tentativa de golpe contra a presidenta Dilma.

“Isto que está acontecendo aqui é só o início, porque o povo ainda está se conscientizando e o pessoal de favela demora mais para entender o que está ocorrendo. Quando eles forem botar [o impeachment] em votação, nós vamos colocar mais de um milhão de pessoas em Brasília. Os programas do governo beneficiaram a classe menos favorecida, o povo da favela. Quando eles entenderem que podem perder isso, o caldo vai engrossar. E você pode ter certeza, não vai ter golpe”, disse Diniz.

Porto Alegre

Na capital gaúcha, manifestantes contrários ao impeachment da presidenta Dilma voltaram à Esquina Democrática no fim da tarde. 

Os movimentos sociais marcam presença. Bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de movimentos feministas, de negros e da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros) se misturam às faixas de protesto.

Presidenta da União de Negros pela Igualdade no Rio Grande do Sul, Elisa Regina Vargas, afirmou que os protestos contra o governo são de brancos e ricos que não representam o povo. "Se tu vires as manifestações do povo da direita, tu não vais nos encontrar lá. Nós somos a maioria da população brasileira, e nós elegemos a Dilma", ressaltou Elisa.

Salvador

Ao som de músicas como Cálice, de autoria de Chico Buarque e Gilberto Gil, e de gritos como "Não vai ter golpe", representantes de centrais sindicais, movimentos sociais e da sociedade civil fizeram uma caminhada no centro de Salvador contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Um trio elétrico acompanhou o percurso, onde representantes discursaram em apoio à presidenta Dilma. Uma banda em um microtrio elétrico cantou músicas de resistência à ditadura, ao som da guitarra baiana. Segundo a Polícia Militar, cerca de 12 mil pessoas estiveram no ato.

Manifestantes que saíram do Campo Grande, região central de Salvador, se uniram ao grupo que saiu do centro. Com a união dos dois grupos, participavam da passeata, além de partidos políticos, movimentos sociais, centrais sindicais e representantes de grupos minoritários, como pessoas da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e indígenas da etnia Pataxó, da região sul da Bahia. 

Fortaleza

Na capital cearense, a concentração do ato contra o impeachment começou na Praça da Bandeira. Cerca de 10 mil manifestantes seguiram em caminhada até a praça do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na Praia de Iracema, próximo à orla da Beira Mar. A passeata relembrou ainda as consequências do golpe militar de 1964.

Presente ao ato, o médico Manoel Fonseca, 70 anos, conta que foi vítima do regime militar. Ele e a esposa passaram 2 anos presos, foram torturados e os filhos sequestrados."Existe uma similaridade entre o golpe militar e o momento que vivemos hoje, porque querem quebrar a legalidade. Não queremos que as novas gerações passem por isso também. Estamos lutando de novo pela liberdade e pela democracia", afirmou.

Recife

Na capital pernambucana, as faixas e cartazes pediam a saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). Outras mensagens defendiam políticas públicas criadas pelo governo do PT, como o Minha Casa, Minha Vida, e afirmavam que não era preciso ser petista para "lutar pela democracia". A maior parte dos manifestantes vestia vermelho, mas muita gente compareceu ao ato de branco e com bandeiras do Brasil. Durante o trajeto, da Praça do Derby até a Avenida Conde da Boa Vista, muitas pessoas demonstraram apoio das janelas dos prédios e dos veículos parados no trânsito.

Belo Horizonte

Em Minas, o ato na capital foi organizado por uma rede de artistas e músicos e recebei o título de “Canto pela democracia”. Músicos, políticos e líderes de movimentos sociais dividiram o palco montado na Praça da Estação, no centro de Belo Horizonte. De acordo com a PM, a manifestação reuniu 10 mil pessoas. Para os organizadores foram 40 mil.

Durante o ato, os manifestantes classificaram o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff de “repetição da História”, em referência a movimentos de oposição aos ex-presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

A advogada Natália Ribeiro, 65 anos, tomou a iniciativa de distribuir 500 cópias da carta escrita por Getúlio Vargas antes de seu suicídio, em 1954. Para ela, os grupos políticos contrários às políticas sociais e trabalhistas que faziam oposição a Getúlio são os mesmos que hoje querem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “A ideia de fazer as cópias surgiu depois que o Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] mencionou a carta em seu discurso no ato do dia 18 de março. Com uma leitura atenta, vemos que o processo é muito similar. Mas a Dilma não vai se suicidar. Não vai ter golpe”, disse.

No palco, o músico Bruno Henrique Tonelli, 29 anos, da banda Tribalzen, foi mais longe na comparação histórica. “Nós vemos brancos, negros, índios, vermelhos, verde-amarelos, todas as cores e raças reunidas em defesa de algo que nós conquistamos muito tardiamente no Brasil, que é a democracia. Os gregos já trabalhavam isso lá atrás”, disse.

Da Agência Brasil