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Eventual governo de Temer pode aprofundar crise política nas ruas

Movimentos sociais, centrais sindicais e o PT na oposição podem pressionar

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Um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff e a chegada do vice-presidente Michel Temer ao Palácio do Planalto podem inflamar ainda mais as manifestações nas ruas. Essa é a análise de um importante líder do governo, em conversa com a coluna "Painel", na edição deste domingo (27) da Folha de S.Paulo.

A avaliação é que o crescente número de manifestações que apelam pela manutenção da democracia e criticam um golpe no governo de Dilma continuarão nas ruas, ao passo que os protestos favoráveis à queda da chefe do Executivo poderão cessar quando a petista deixar o Planalto.

Há, ainda, outros fatores contra Michel Temer: a esquerda civil que está hoje nas ruas pedindo a permanência de Dilma será estimulada por movimentos sociais, centrais sindicais, como a CUT, e partidos de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores, a continuar a pressão nas ruas. É provável que o Partido dos Trabalhadores vá para a oposição, já que o PMDB vem se reunindo com frequência com líderes do PSDB para compor um governo de coalizão em torno de Temer.

Interlocutores do PMDB, do PT e do Planalto afirmam, ainda, que o governo de Michel Temer pode ser atingido pelo imponderável. Eles citam a recente lista da Odebrecht contendo nomes de mais de 300 políticos, 20 partidos e que poderia incluir também setores do Judiciário, da diplomacia, dos militares e do Ministério Público. Em recente comunicado, a empreiteira afirmou que o grupo está disposto a fazer colaboração "definitiva" com a Justiça. Numa segunda leitura de um executivo da Odebrecht, seria dizer que "a casa caiu" e que a delação atingiria diferentes setores do Poder público e privado no país.

Em caso contrário, ainda assim o avanço das investigações, dos julgamentos e das prisões que envolvem nomes da operação Lava Jato poderia atingir nomes de partidos da base aliada de Temer e figuras do próprio PMDB, como é o caso do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por lavagem de dinheiro, ocultação de contas do exterior e corrupção e no Conselho de Ética da Casa que preside.

Em entrevista coletiva na última terça-feira (22), o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo sem Medo, Guilherme Boulos, deu sinais claros de que o país será "incendiado por greves, ocupações e mobilizações":

"Não haverá um dia de paz do Brasil. Podem querer derrubar o governo, podem prender arbitrariamente o Lula ou quem quer que seja, podem querer criminalizar os movimentos populares, mas achar que vão fazer isso e depois vai reinar o silêncio e a paz de cemitério é uma ilusão de quem não conhece a história de movimento popular neste país. Não será assim", afirmou Boulos.