De início, o mercado até reagiu bem à abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na manhã da última quinta-feira (3), o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, operava em alta de 4%, ao mesmo tempo em que ações ordinárias de empresas estatais também subiam a taxas expressivas. As da Petrobras apontaram ganho de 4,43%, e as da Eletrobrás de 7,41%. No entanto, nos dias seguintes tais índices já apresentavam forte queda, revelando o caráter “falso” dos dados iniciais. O processo de impeachment, na verdade, não se definirá da noite para o dia, e a tendência é de que haja impactos profundos na economia do país, devido ao agravamento da crise política. Quem garante é o economista Plínio Arruda Sampaio Júnior, da Unicamp.
“A consequência imediata do processo de impeachment contra a presidente Dilma é o aumento da incerteza econômica e política, o acirramento da guerra fratricida entre as diferentes facções que disputam o controle do Estado e a paralisia ainda maior do governo federal. O agravamento da crise política tende a aprofundar a recessão, aumentar o desemprego e exacerbar a especulação contra a moeda e o patrimônio nacional. Seus efeitos de médio e longo prazo são impossíveis de prever. No entanto, uma coisa é certa: é uma ilusão imaginar que os fortes antagonismos decorrentes de uma sociedade submetida a um violento processo de reversão neocolonial possam ser resolvidos num passe de mágica pela deposição do chefe do Estado”, comenta o economista.
Segundo Plínio Sampaio Júnior, “as crises econômicas e políticas condicionam-se reciprocamente, mas possuem dinâmicas próprias que não podem ser reduzidas uma à outra”. Ele explica: “A crise econômica é condicionada em última instância pela necessidade de ajustar a economia brasileira à posição ainda mais subalterna na divisão internacional do trabalho. A crise política, evidente na falência do sistema de representação, é determinada pelo fim da paz social e não será resolvida pela substituição de seis por meia dúzia. A sociedade brasileira entrou numa era de grande turbulência econômica, política e social”.
O economista falou também sobre a resposta inicial do mercado à abertura do processo de impeachment: “A relação direta entre a probabilidade de deposição da presidente Dilma e o desempenho da bolsa de valores está determinada pela expectativa de que um governo liderado pelo PMDB com apoio do PSDB seria ainda mais cordato com o mercado, aprofundando a privatização e liberalização da economia”, finaliza.
* do projeto de estádio do JB