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Cunha deve voltar aos bastidores para manter intervenção política, diz analista

‘É como se ele retornasse ao camarim para retocar a maquiagem e voltar à cena’

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“Eduardo Cunha voltará aos bastidores da política brasileira para tentar preservar a capacidade de intervenção que construiu até agora. É como se ele retornasse ao camarim para retocar a maquiagem e depois voltar à cena”, analisa a cientista política Clarisse Gurgel em entrevista ao JB neste domingo (18). 

Professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), ela avalia que a situação do presidente da Câmara se torna mais insustentável a cada nova denúncia associada a seu nome. Rumores de que o peemedebista tenha mudado de discurso, aceitando renunciar ao cargo para manter o mandato, acenderam discussões sobre quem seria seu sucessor.

A estratégia pretende evitar um processo de cassação no Conselho de Ética da Casa. “A escolha do nome vai passar por um debate com as várias vertentes do PMDB, além de PT e PSDB, em uma queda de braço que vai indicar quem tem a maior capacidade de articulação política na atualidade”, argumenta Gurgel. O novo nome terá influência direta sobre os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, por isso a mudança interessa a todos os setores de Brasília.

Embora seja complexa, a escolha não poderá perdurar muito. Isso porque, na avaliação da cientista política, o processo agora envolve o Supremo Tribunal Federal (STF), tornando mais consistente a ameaça real de queda de Cunha. A Procuradoria Geral da República informou nesta sexta (16) que há indícios suficientes de que as contas do presidente da Câmara na Suíça não foram declaradas e "são produto de crime". A PGR pediu ao STF o bloqueio e o sequestro de 2,4 milhões de francos suíços, equivalentes a R$ 9 milhões, atribuídos a Cunha em contas na Suíça.

O relatório da PGR aponta Cunha e sua mulher como proprietários de oito carros de luxo, entre eles dois veículos da marca Porsche, BMW e Land Rover. Os automóveis estão registrados nas empresas atribuídas a eles, a C3 Produções e Jesus.com. A Procuradoria também informou que Cunha tem conta no Banco Merril Lynch, nos Estados Unidos, há mais de 20 anos. Conforme o banco, o presidente da Câmara "é um cliente de perfil agressivo e com interesse em crescimento patrimonial”.

Renunciar para não ter direitos políticos cassados: uma prática comum no Brasil

Durante a entrevista ao JB, Gurgel ainda lembrou que muitos políticos brasileiros já lançaram mão da renúncia para preservar alguns direitos. “O próprio Collor, que dizem ter sofrido um impeachment em 2002, renunciou antes de ter seus direitos políticos cassados de forma mais dramática. Esses arranjos permitem alguns benefícios”, explica a professora.

No cenário mais recente, o também peemedebista Renan Calheiros renunciou à presidência do Senado em 2007 para salvar seu mandato. A estratégia vem sendo chamada por alguns parlamentares como “saída Renan”, já aconselhada a Cunha para preservação de seus direitos como deputado federal.