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'The Guardian': Rolls-Royce coopera com investigação sobre 'Petrolão'

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Uma das maiores empresas britânicas foi arrastada para um escândalo multibilionário de corrupção depois que a Rolls-Royce admitiu ter cooperado com autoridades brasileiras na investigação de corrupção na empresa estatal de petróleo do país, diz um artigo de Harry Davies, do jornal britânico The Guardian, publicado nesta segunda-feira (31/08). 

A empresa, que afirmou no início deste ano que não tinha sido contactada pelas autoridades brasileiras, confirmou que estava agora cooperando com aos investigadores depois de ser perguntada sobre sua relação  com um empresário que enfrentava várias investigações ligadas ao escândalo.

O escrutínio de investigadores brasileiros vem no momento em que a Rolls-Royce continua sob investigação criminal no Reino Unido sobre acusações de corrupção na Ásia. A empresa também enfrenta apelos de investidores de rompimento após uma série de alertas de quebra de lucros.

Um porta-voz da Rolls-Royce afirmou: “Estamos cooperando com autoridades policiais no Brasil mas não poderemos comentar sobre uma investigação que está em curso.”

A empresa foi primeiro ligada ao escândalo no Brasil em fevereiro, quando surgiram acusações durante o depoimento de um ex-executivo da Petrobras que se tornou delator de que teria pago propina a políticos e funcionários da empresa estatal. 

A Rolls-Royce agora se vê diante de perguntas sobre sua relação com um empresário brasileiro influente que teria supostamente pago propinas a executivos do petróleo e autoridades do governo em nome de prestadores de serviço da Petrobras, como a empresa holandesa de engenharia SBM Offshore. 

Documentos aos quais o Guardian teve acesso mostram que em abril de 2012, o empresário afirmava que sua empresa representava a Rolls-Royce no Brasil. Meses depois, a empresa ganhou um contrato de £100 milhões para fornecer turbinas de energia para as plataformas de petróleo da Petrobras. Ele também alegou que a Rolls-Royce tem realizado auditorias fiscais em sua empresa.

Investigações em torno de Julio Faerman se intensificaram este mês quando um juiz brasileiro aprovou uma negociação de delação que exigia que ele cooperasse com promotores em troca de leniência.

A porta-voz da Rolls-Royce não quis responder as perguntas do Guardian sobre a relação da empresa com Faerman, mas falou em um comunicado: “Nós já deixamos claro repetidamente que a Rolls-Royce não vai tolerar qualquer tipo de improbidade na condução de seus negócios.”

Promotores na Holanda descobriram no ano passado que Faerman tem feito pagamentos através de empresas offshore a autoridades governamentais no Brasil. Faerman afirmou ter grandes contatos em toda a Petrobras, de altos funcionários a engenheiros, e acesso a informação confidencial sobre a empresa.

Uma influente CPI em Brasilia está também investigando Faerman como parte de seu próprio inquérito do escândalo.

O escritório suíço da procuradoria-geral também está investigando o executivo sobre um suposto uso de contas de banco na Suíça, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo. As autoridades suíças afirmaram em março terem congelado mais de $ 400 milhões de ativos em contas de banco na Suíça ligadas ao escândalo e supostamente usados para subornos.

Faerman, que estaria morando em Londres, não respondeu aos pedidos por um comentário ou entrevista. Um representante no escritório de sua empresa no Rio de Janeiro afirmou que ele não estava disponível para falar ao Guardian.

A Rolls-Royce tem sido investigada no Reino Unido desde dezembro de 2013 depois que o Serious Fraud Office (SFO) começou a procurar suspeitas de corrupção na Indonésia e na China. O direto do SFO afirmou no ano passado que a investigação incluindo várias divisões das atividades empresariais da Rolls-Royce.

No Brasil, investigações cada vez mais aprofundadas no escândalo conhecido como Petrolão, envolveram políticos importantes e dirigentes de empresas. A indústria de petróleo e gás do país foi envolvida pelo caso, com forte peso sobre a economia do país.

Ao longo do último ano, as investigações sobre o enorme escândalo têm se espalhado para além das fronteiras do Brasil. A Petrobras foi processada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) dos EUA no ano passado, e a Reuters noticiou que o Departamento de Justiça dos EUA  realizou sua própria investigação em torno da empresa.