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Saída de Temer piora situação do governo com Congresso, avaliam analistas

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Analistas políticos ouvidos pelo Jornal do Brasil avaliaram a repercussão da saída parcial do vice-presidente Michel Temer da articulação política do governo. O peemedebista vinha desempenhando a função há quase cinco meses, a pedido da presidente Dilma Rousseff. Nesta terça-feira (25), no entanto, ele anunciou oficialmente que deixa o chamado “varejo” na negociação de cargos e emendas parlamentares.

Para o cientista social da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP) e pesquisador das relações entre Executivo e Legislativo, Marco Teixeira, a presidente Dilma terá dificuldades para encontrar um novo nome que possa fazer a mediação com os parlamentares da base aliada e da oposição. Estrategicamente, Teixeira descartou o nome do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

“Mercadante, hoje, é a pessoa menos talhada para essa tarefa, já que ele não apenas acumulou derrotas para o governo, como criou uma série de desafetos. Sabemos que o governo sairá perdendo, mas não sabemos até que ponto o PMDB ganha, já que o partido está longe de ser um corpo homogêneo”, argumenta o professor da FGV.

>> Temer afirma que continuará a atuar na relação entre Planalto e Congresso

Analista de riscos e professor licenciado de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Kramer lembrou o motivo pelo qual Temer assumiu em abril o lugar do ministro Pepe Vargas. “Já naquela época o PT havia esgotado sua articulação e nomeou Temer para a tarefa. Mercadante é um sujeito sabidamente com fama de inflexível. A gente poderia pensar fora da caixa e cogitar o nome do presidente Lula, mas sua capacidade, mesmo grande, está limitada”.

Peemedebista que também vem trabalhando na relação entre os poderes, o ministro da Aviação civil, Eliseu Padilha, disse que continua na função de articulista até o final de setembro. Para Marco Teixeira e Paulo Kramer, a situação do governo se complicará ainda mais quando o PMDB deixar completamente o papel de conciliador do Planalto com o Congresso.

O professor da FGV/SP afirma que Temer tem o crédito de ter conseguido aproximar o presidente do Senado, Renan Calheiros, do governo, mas que o vice-presidente não foi articulador à altura para fazer com que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, baixasse o tom das críticas.

“O PMDB ainda não sabe o que vai fazer e mesmo a posição de Temer é muito fragilizada. Mas é preciso lembrar que o congresso nacional do PMDB ocorrerá em novembro e só faz crescer a insatisfação do partido e o anseio para que se anuncie uma ruptura com o governo. Aliado a isso temos a entrada na sigla de Marta Suplicy, que rachou e saiu brigada do PT”, concluiu Marco Teixeira.

Na opinião do analista, o indiciamento de Eduardo Cunha pela Procuradoria-Geral da República na Operação Lava Jato e seu perfil de “agir sistematicamente contra o governo e atribuir a ele todas as culpas” pode exacerbar a crise e precipitar a votação de uma proposta de impeachment na Câmara.

Kramer também avalia que a saída de Temer é negativa para o governo e que ela reverbera e "contamina" outros peemedebistas. Ele citou notícia recente sobre uma possível conversa entre Renan Calheiros e o ex-presidente Lula na qual o petista teria cogitado a nomeação do senador Romero Jucá (PMDB-RR) para a Casa Civil e o parlamentar teria declinado do convite.

“O que os políticos próximos dizem aqui em Brasília é que a presidente Dilma tem popularidade tão baixa no Congresso que mesmo um pedido de impeachment pessimamente embasado prosperaria. Com a saída de Temer, quem está contra Dilma ganha, porque isso transmite a impressão de que o governo está ficando mais isolado do que está”, diz Kramer.

O Jornal do Brasil entrou em contato com a assessoria do líder do PT na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), mas o parlamentar não quis se pronunciar sobre o futuro das relações do governo com a base aliada no Congresso Nacional após as mudanças na articulação política.