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'Folha': Não há motivos para tirar Dilma do cargo, afirma presidente do Itaú

Banqueiro faz defesa contundente à permanência da presidente no Palácio do Planalto

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Em entrevista à Folha de São Paulo publicada neste domingo (23), o presidente do Itaú Unibanco Roberto Setubal defende, de modo veemente, a permanência da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. De acordo com ele, impeachment por corrupção, até agora, não tem embasamento. 

"Nada do que vi ou ouvi até agora me faz achar que há condições para um impeachment. Pelo contrário, o que a gente vê é que Dilma permitiu uma investigação total sobre o tema. Era difícil imaginar no Brasil uma investigação com tanta independência. A Dilma tem crédito nisso", afirma na reportagem. 

Por outro lado, o presidente do Itaú opina que, se confirmadas, as "pedaladas fiscais" são passíveis de punição, mas não de uma medida extrema como a retirada do cargo. "Até porque presidentes anteriores a ela passaram por situações semelhantes. Seria um artificialismo querer tirar a presidente neste momento", recorda. 

O jornal ainda lembra que o Itaú, maior banco privado do país, foi fortemente hostilizado pelo PT durante a campanha presidencial de 2014. Segundo afirma Setubal à reportagem, assinada por David Friedlander, tirar Dilma do poder "criaria uma instabilidade ruim para nossa democracia". 

A entrada de Michel Temer (PMDB) no lugar da presidente também não parece, para Roberto Setubal, uma oportunidade de tirar o país da crise. "Não se pode tirar um presidente do cargo porque ele momentaneamente está impopular. É preciso respeitar as regras do jogo, precisa respeitar a Constituição. Eu sou a favor da Constituição", ressalta na reportagem. 

O banqueiro também critica o tom do debate entre aliados do governo e sua oposição: "Há uma grande discussão sobre poder e pouca discussão sobre o país. Precisamos debater quais as reformas necessárias para que o país possa se recuperar. Só estou vendo muita discussão de poder pelo poder."

Já sobre a atuação do ministro da Fazenda Joaquim Levy, Setubal opina que o economista está adotando as medidas corretas, mas que a situação vai muito além da capacidade de uma única pessoa. "Ele precisa de apoio político tanto da presidente como do Congresso", completa. 

A reportagem da Folha também tratou da Agenda Brasil, pacote de reformas proposto pelo Congresso que reúne mais de 40 medidas para "empurrar o país para a frente". Na opinião de Setubal, "nessas medidas há passos necessários que precisamos dar, como a reoneração da folha de pagamentos [aumento de tributos para alguns setores]. Mas são medidas menores para ir levando o país e sair um pouco dessa crise".

Para que o país volte a crescer a um ritmo elevado, entretanto, a proposta não parece suficiente para o presidente do Itaú. Setubal defende reformas mais amplas, que, de acordo com ele, não foram tratadas na campanha presidencial de 2014 e não são atualmente discutidas no Congresso. "A reforma política é muito importante. O país tem mais de 30 partidos, isso não funciona. Não vejo nenhuma razão para ter mais do que seis, oito, no máximo dez agremiações. Dá para acomodar perfeitamente todas as linhas ideológicas neles", afirma.

O banqueiro também falou à reportagem sobre a necessidade do governos ter maioria no Congresso, o que "obriga a alianças muito amplas e negociações que nem sempre são boas para o país. Esse tipo de concertação é uma das razões para a situação em que estamos". "O governo acaba fazendo tantas concessões para satisfazer tantos partidos que desfigura os projetos, leva a ineficiências, a decisões erradas e interesses muito pequenos", completa.

Embora veja muitas dificuldades na situação econômica brasileira, Setubal já diz vislumbrar algumas melhorias após a tomada de medidas duras. "A balança de pagamentos começou a reagir e as exportações estão crescendo. Acho que o setor externo vai puxar a recuperação e pode haver alguma surpresa nessa área. Ainda não tenho certeza de que o ano que vem terá PIB negativo", comenta.