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Lideranças lançam manifesto contra imobilização de setores do país

Associações defendem Operação Lava Jato, mas pedem defesa do patrimônio nacional

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Mais de 100 entidades e associações de engenharia, arquitetura, indústria, agricultura e profissionais lançaram o manifesto "Pela Engenharia, a favor do Brasil", destacando a importância da Operação Lava Jato, mas chamando a atenção aos efeitos negativos do processo. Liderado pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o movimento pede proteção aos empregos, à Petrobras e ao desenvolvimento brasileiro. Durante o ato, realizado no Clube de Engenharia nesta segunda-feira (17), porta-vozes das instituições criticaram o ataque a estatais e à soberania nacional.

"A Operação Lava Jato, a qual aplaudimos e não ousamos criticar, trouxe prejuízos a milhares de engenheiros e demais empregados do setor, que estão sendo demitidos. É a estancada do desenvolvimento e do progresso do país, e de sua maior empresa, a Petrobras", destacou o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian.

Porta-vozes de Creas, Febrae, CBIC, Sinicon, Sinaenco, AEERJ, ABEE, Abemi, AEPET, Abifer, Abimaq, Sindistal, CDEN, Fenainfo, Fisenge, FNE, entre outras instituições, estiveram presentes no ato. Para eles, é importante resgatar a confiança e a credibilidade do setor de construção pesada e recuperar o prestígio da Petrobras. Entre maio de 2015 e o mesmo período deste ano, por exemplo, 340 mil postos de trabalho foram fechados apenas no setor de construção, número equivalente a cinco Maracanãs lotados. 

"Não foi por outra razão que o Clube de Engenharia se conscientizou de que o momento nacional exige, no mínimo, uma tentativa de aglutinação das associações de engenharia de todo o país, no sentido de promover, irmanadas, instrumentos de persuasão junto ao Poder Público, a fim de evitar que as empresas geradoras do progresso nacional venham a ser dizimadas, por conta de uma política de desenvolvimento que coloca em risco a competência técnica e gerencial acumuladas há décadas pelo complexo construtor brasileiro", disse Bogossian. 

Bogossian completou que a necessária punição aos corruptos e corruptores deve ser acompanhada do resguardo às empresas e trabalhadores. Defendeu ainda o restabelecimento das obras de construção pesada, das obras da indústria de óleo e gás, dos complexos de refino e da indústria naval. Argumento reforçado pelo presidente do Confea, José Tadeu da Silva, que destacou que punições não podem servir de motivo para paralisar o país. 

Raymundo de Oliveira, ex-deputado e ex-presidente do Clube de Engenharia, criticou a forma como a grande mídia tem lidado com a situação e a intenção de alguns de destruir a estatal. "Hoje, a Petrobras produziu 2,750 milhões barris de petróleo, 750 mil do pré-sal, vocês viram isso em alguma rede de comunicação?", questionou. "A Petrobras sempre foi alvo. Eles estão aproveitando este momento para fazer o que nunca tinham conseguido, que é tentar destruir a soberania."

Agostinho Guerreiro, ex-presidente do CREA-RJ, também criticou os efeitos das investigações. "Que essa punição exemplar das pessoas, sejam elas quem forem, não pare a engenharia brasileira, que tanto fez por este país e tem feito pelo mundo."

O ato contou com a participação do prefeito de Itaboraí, Helil Cardozo (PMDB), que convocou os presentes ao ato em defesa da Petrobras que será realizado no dia 24 de agosto; de Clésio Andrade, presidente da Confederação Nacional do Transporte; Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe; Paulo Augusto Vivácqua, presidente da Academia Nacional de Engenharia; Felipe Campos Coutinho, presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras (AEPET); Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros, entre outros.

Confira o manifesto, na íntegra:

Pela engenharia, a favor do Brasil

As entidades nacionais abaixo relacionadas, representativas de todos os setores da engenharia brasileira, irmanadas às da indústria, da agricultura, do comércio e do transporte, vêm externar seu irrestrito apoio ao movimento de combate à corrupção em curso, mal que vem corroendo os alicerces da República.

Entretanto, alerta a nação e manifesta sua grande preocupação com o gravíssimo efeito colateral que já se observa, tal seja a crescente paralisação de obras de infraestrutura estratégicas para o país, o desemprego de profissionais capacitados, a desorganização da construção pesada, a fragilização de importantes empresas como a Petrobras e a Eletronuclear. Esse enredo tem reflexos perversos em toda a cadeia produtiva das indústrias de equipamentos e bens de capital e também em milhares de pequenos e médios fornecedores. Sobretudo, afeta a normal implementação de programas estratégicos para a Defesa Nacional e acarreta enorme retrocesso na geração de empregos para profissionais e trabalhadores de todos os níveis e profissões.

O Brasil é um país por construir. Não podemos prescindir da capacidade gerencial e do acervo tecnológico acumulado nos últimos 60 anos pelas empresas nacionais de construção pesada, de montagens, e de engenharia consultiva, sob pena de colocar a perder o patrimônio que diferencia a engenharia brasileira e a destaca em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo.

A apuração de responsabilidades dos investigados pela Operação Lava Jato, respeitado o devido processo legal, é saudável e necessária. Dela resultará o fortalecimento das nossas instituições democráticas e a melhoria das condições de governança das empresas e dos órgãos públicos. Há, entretanto, de se preservar as empresas, os projetos estratégicos, os empregos e o conhecimento técnico-científico, elementos indispensáveis à construção do Brasil. 

Paralelamente, nada justifica a interrupção dos principais investimentos da Petrobras em diversos estados do país. Seus efeitos já se fazem sentir: fechamento de empresas e de vagas qualificadas de engenheiros, técnicos e demais trabalhadores e perda da capacidade de gerar conhecimento, repercutindo até nas universidades, além da desvalorização dos investimentos realizados e do desgaste e elevação subsequente do custo de obras paralisadas, algumas em estágio final de construção.

É urgente resgatar a confiança e a credibilidade da engenharia, assim como o respeito à Petrobras e aos seus profissionais, pois delas depende o desenvolvimento do país. Não podemos colocar em risco conquistas sedimentadas ao longo de décadas. 

Diante deste quadro, esperamos, e cobramos, das autoridades constituídas as providências necessárias para que a engenharia possa continuar a desempenhar o seu principal papel, o de construir o Brasil. Confea, Clube de Engenharia, Creas, Febrae, CBIC, Sinicon, Sinaenco, AEERJ, ABEE, Abemi, AEPET, Abifer, Abimaq, Sindistal, CDEN, Fenainfo, Fisenge e a FNE.

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2015