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"Cunha se vale do cargo para retaliar o governo e quebrar o país", diz ex-presidente da OAB

Deputado Wadih Damous espera que aprovação de “pautas-bomba” seja revertida no Senado 

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Em entrevista ao JB, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Wadih Damous, que hoje é deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), analisou a atual conjuntura política do país. Para ele, a aposta da presidente Dilma Rousseff no diálogo com líderes da base aliada é correta, e a reaproximação com movimentos sociais que ajudaram em sua reeleição, importantíssima. 

Damous também critica a postura de Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara dos Deputados, ao colocar para votação as polêmicas “pautas-bomba”. Ele espera que aprovações "irresponsáveis" sejam revertidas pelo Senado.

JB - No encontro que teve com ministros no último domingo (9), a presidente Dilma decidiu se reunir com líderes da base aliada para consolidar sua base de apoio. O que você acha dessa postura de busca pela unificação?

Damous - Se de fato foi esse o escopo da reunião, eu acho que está correto. É papel do líder, do presidente e do primeiro ministro ter essa base de apoio unificada em torno dos projetos do governo, em torno da superação de divergências mais acirradas.

JB - O vice-presidente Michel Temer (PMDB) já vinha pregando a importância da união para que o Brasil saia da crise. Na semana passada, após uma de suas declarações, foi dito que ele colocou seu cargo de articulador político à disposição de Dilma. Qual sua opinião acerca dos posicionamentos de Temer?

Damous - Tudo o que eu vejo e tenho ouvido falar do Michel Temer é que ele sempre tem se comportado com muita correção não só na vice-presidência, mas também na articulação política. Suas ações foram sempre no sentido de tentar garantir uma mínima base de apoio ao governo.

A declaração na semana passada realmente dava margem à dupla interpretação, mas ele já se explicou e deixou claro qual era a sua intenção. Não há motivos para crucificá-lo nesse momento. Perder o Michel Temer seria muito ruim para o governo.

JB - A retomada do diálogo com os movimentos sociais, que sempre foi marca do PT, também entrou em discussão. Esse caminho pode aumentar a popularidade de Dilma?

Damous - Eu espero que de fato (a reaproximação) se efetive, não fique só no campo das palavras. Os movimentos sociais sempre foram uma base importantíssima até para a fundação do PT. Esses movimentos foram muito importantes também na vitória da presidente Dilma nas ultimas eleições, que foi apertada.

Então eu espero que aconteça em bases sólidas, com uma visão da conjuntura e do país que aproxime ambos: o governo e os movimentos sociais. Eu acho que, se a presidente recuperar parte da popularidade dela com esses setores, já vai ser muito importante.

JB - Além dos baixos níveis de aprovação, Dilma ainda enfrenta uma queda de braço com o Congresso, principalmente com a votação de "pautas-bomba". Qual a sua opinião sobre o cenário político que se desenha no Brasil?

Damous - O setor do Congresso comandado pelo Eduardo Cunha tem se comportado de forma irresponsável. Ele se vale do cargo para retaliar o governo e quebrar o país. Uma série de projetos aprovados só passaram por pura retaliação. O Brasil não pode pagar o preço da ambição de determinados políticos. 

Ele só tem montado "pautas bomba", mesmo dizendo que não ia fazê-lo. Eu espero que isso seja corrigido pelo Senado. E eu acho que será, senão o país quebra. Eles têm que decidir se fazem oposição ao governo ou ao país. E ao prejudicar o governo, Cunha acaba prejudicando o país.

Eu não sou adepto ao ajuste fiscal que o (ministro da Fazenda) Levy propõe, mas no momento que isso obedece a uma lógica de política econômica, não cabe à Câmara dos Deputados ir contra. Se a política econômica fosse outra, também não caberia. 

O que estão fazendo com a aprovação dessas pautas é aumentar irresponsavelmente os gastos públicos, sem qualquer justificativa, sem saber de onde esse dinheiro vai vir. Não deixa de ser uma sabotagem institucional.

JB - Outro tema polêmico que vem sendo discutido é uma possível reforma ministerial, inclusive com corte de pastas. Medidas como essas seriam efetivas para retomar a governabilidade de Dilma?

Damous - Não sei se seria a única medida possível, mas com certeza é uma medida importante. Esse ministério não dá conta do que está acontecendo, a Dilma tem que refundar a sua base de apoio para tentar sair dessa dependência do que quer ou deixa de querer o Eduardo Cunha.

Mas eu não sei se cortes de ministérios resolvem alguma coisa, até porque só se fala em cortar pastas ligadas ao setor social – as secretarias de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e de Políticas para as Mulheres, por exemplo. 

E alguns setores do PMDB falando de corte de ministérios parece até uma piada. Eu espero que a presidente não ceda a esse tipo de demagogia. Espero também que esse momento passe logo e o Brasil recupere seu status de grande nação.