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Presidente da Camargo Corrêa se diz arrependido por pagar propina

Avancini afirmou à CPI que empresa pagava propina mesmo em projetos com prejuízo

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O empresário Dalton dos Santos Avancini, diretor-presidente da construtora Camargo Corrêa, disse em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras que está profundamente arrependido pelos atos que cometeu e que teve a coragem de romper com o esquema que funcionava na Petrobras.

Avancini está em prisão domiciliar e foi autorizado pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, a comparecer à CPI. O empresário fez acordo de delação premiada com a Justiça e está autorizado pelo juiz a falar apenas sobre desvios na Petrobras – para não atrapalhar outras investigações em curso.

A Camargo Corrêa, sob a presidência de Avancini, venceu licitações para obras na Refinaria Getúlio Vargas (Repar) e na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Entre 2005 e 2014, empresas do grupo assinaram contratos com a Petrobras no valor de R$ 6,2 bilhões e mais 17,2 milhões de dólares.

Nesse período, segundo as investigações da Operação Lava Jato, a Camargo Corrêa transferiu cerca de R$ 29 milhões para contas ligadas ao doleiro Alberto Youssef por meio de duas empresas, a Sanko Sider e a Sanko Service, dinheiro que seria destinado ao pagamento de propina ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Camargo Corrêa pagava propina mesmo em projetos com prejuízo

Avancini disse ainda que havia cobrança de propina na Petrobras até mesmo quando o projeto executado pela empresa dava prejuízo. Ele apontou como destinatários de propinas as diretorias de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa, e de Serviços, ocupada por Renato Duque.

Avancini fez a afirmação ao responder pergunta do relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), a respeito da origem dos recursos pagos como propina. “Esses pagamentos decorriam do superfaturamento das obras ou da taxa de lucro das empresas, como disse Paulo Roberto Costa?”, perguntou o relator.

“Isso é complexo. Os agentes cobravam propina até mesmo em projetos que geravam prejuízos. Mas havia contratos em que houve lucro. É difícil dizer se sai da margem ou não. Varia de contrato a contrato”, disse.

O presidente da Camargo Corrêa confirmou o que já havia dito o ex-gerente de Tecnologia da Petrobras Pedro Barusco, a respeito da lisura do processo de licitação da Petrobras, mas disse que qualquer diretor da Petrobras poderia perceber que as empresas combinavam entre si os preços que cobravam pelos contratos.

“Na Petrobras existe um sistema de cadastro em que as empresas convidadas (para disputar os contratos) eram sempre as mesmas. Normalmente esse grupo de empresas já era conhecido. Excepcionalmente entravam outras empresas. Qualquer diretor da Petrobras poderia saber que havia combinação entre as empresas”, disse.

Planilha de custo

Avancini afirmou também que as propinas pagas a diretores da Petrobras eram contabilizadas como “despesas” na planilha de custo dos projetos. “Isso aparecia dentro do custo da obra. Era uma despesa contabilizada dentro dos projetos”, disse.

Segundo ele, isso era feito, contabilmente, como pagamentos a empresas de fachada ou serviços de consultoria. “A Camargo não usa caixa dois”, ressaltou.

O executivo disse que o doleiro Alberto Youssef era o operador do PP e a pessoa que intermediava os pagamentos para a Diretoria de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa. “Ele era um facilitador. Quando era preciso que se agilizasse um pagamento, isso era feito por ele e havia cobranças de propina”.

Empresário diz que propinas já eram pagas quando assumiu gerência da Camargo Corrêa

Dalton dos Santos Avancini disse também que foi informado da existência de pagamento de propina a diretores da Petrobras em 2008 ou 2009, quando assumiu a gerência do setor de óleo e gás da empresa.

“Quando assumi o cargo, fui informado por meu antecessor, Leonel Viana, que já havia um apoio partidário dentro das diretorias de Abastecimento e de Serviços da Petrobras e era um compromisso da empresa fazer esses pagamentos”, disse.

Segundo ele, o “apoio partidário” dentro dessas diretorias era relativo ao PP (no caso da Diretoria de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa) e ao PT (no caso da Diretoria de Serviços, ocupada por Renato Duque).

Avancini disse ainda que o valor da propina era incluído pela Camargo Corrêa dentro do orçamento das obras – contratos relativos às refinarias Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP), e Presidente Vargas (Repar), em Araucária (PR).

“A propina pode ser caracterizada como superfaturamento, porque já havia a previsão de pagamento desses valores dentro do orçamento da obra”, disse.