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Barusco diz que vai devolver US$ 97 milhões

Ex-gerente da Petrobras prestou depoimento à CPI que apura irregularidades na estatal 

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Em depoimento à CPI da Petrobras, o engenheiro Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da estatal, disse estar aliviado por ajudar no repatriamento do dinheiro que possui em contas no exterior. Ao responder uma pergunta do relator da CPI da Petrobras, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), ele disse que entrou em um “caminho sem volta”. ”Eu tive a fraqueza de começar. Primeiro, eu fiquei feliz [com as contas no exterior] e isso virou um pânico. Agora estou aliviado por estar ajudando na repatriação. Eu não recomendo para ninguém. É muito doloroso”, disse.

Barusco afirmou que recebeu cerca de US$ 97 milhões em propinas de 2003 a 2011, quando trabalhava na Petrobras, e entre 2011 e 2013, período em que ocupou uma diretoria na empresa privada Setebrasil, constituída para construir sondas de perfuração do pré-sal e financiada com recursos públicos – do BNDES e fundos de pensão.

Barusco repetiu que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, recebeu algo entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propinas no período, e que esse dinheiro era recebido em nome do PT. Ele disse não saber se havia alguém acima de Vaccari. Falou que conheceu o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli, mas que manteve com ele apenas relações profissionais, e que conheceu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, mas nunca discutiu propina com ele.

Cartéis

O engenheiro apontou a formação de cartel de empreiteiras em obras como as das refinarias Abreu e Lima e do Complexo Petroquímico do Rio e Janeiro (Comperj) - nos depoimentos ele fala ainda que o mesmo aconteceu em relação às refinarias Replan, Revap, Reduc, Relan e Repar.

Barusco também disse que o mesmo esquema funcionou em relação à construção do gasoduto Gasene, que liga o Espírito Santo à Bahia. Ao responder pergunta feita pelo deputado Bruno Covas (PSDB-SP), disse que os mil quilômetros de gasoduto foram divididos em vários trechos, cada qual dividido entre empresas, como as construtoras Bueno e Galvão Engenharia. 

Divisão da propina

Assim como acontecia nos demais contratos, ele disse que as obras da Gasene eram divididas da seguinte forma: metade para ele e o ex-diretor Renato Duque e a outra metade para Vaccari.Ao responder perguntas do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), ele mencionou partidos destinatários da propina. “Até onde eu sabia a propina ia para o PP, PMDB e PT”, disse.

Ele detalhou o processo de constituição da empresa Setebrasil, que geriu contratos no valor de US$ 22 bilhões com a Petrobras para a construção de sondas de perfuração. Ele confirmou que Vaccari pediu uma propina de valor muito elevado e que o repasse acabou reduzido em 0,1%.

Nos depoimentos judiciais, ratificados por ele, Barusco afirmou que a propina era distribuída da seguinte maneira: 2/3 para Vaccari e 1/3 para a “Casa” – ou seja, para os diretores da Setebrasil: Barusco, João Carlos de Medeiros Ferraz (presidente da Setebrasil) e Eduardo Musa (diretor de Participações).

A propina destinada a Vaccari tinha origem nos contratos firmados entre a Setebrasil e os estaleiros Atlântico Sul, Enseada do Paraguaçu, Rio Grande e Kepel Fels. A propina destinada à “Casa” tinha origem nos contratos firmados entre a Setebrasil e os estaleiros Kepel Fels e Jurong.

Operadores

Ele acrescentou que cada empresa que participava do esquema tinha um operador próprio. Ele mencionou os nomes de Shinko Nakandakari (operador da Galvão Engenharia, EIT e Contreiras) e Mário Goes (operador da UTC, MPE, OAS, Mendes Júnior, Andrade Gutierrez, Schain, Carioca e Bueno Engenharia).Nos depoimentos, Barusco menciona ainda Júlio Gerion de Almeida Camargo (operador da Toyo e da Camargo Correia).

Barusco diz que propina na Petrobras foi "institucionalizada" a partir de 2004

Barusco disse que só a partir de 2004 a propina que recebeu de empresas contratadas pela estatal passou a ser “institucionalizada”, ou seja, dividida entre partidos políticos e diretores da empresa. Antes disso, segundo ele, os pagamentos foram feitos em caráter pessoal. "Antes era coisa minha. Depois foi institucionalizada", disse.

À CPI da Petrobras, ele admitiu ter começado a receber propinas por contratos firmados pela Petrobras a partir de 1997 ou 1998. Ele classificou como “institucional” as propinas que começou a dividir, a partir de 2004, com o ex-diretor da estatal Renato Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

O deputado Afonso Florence (PT-BA) pediu a Barusco provas de que houve efetivamente pagamentos feitos a Vaccari e que foram recebidos em nome do PT. “Nós somos um partido de homens e mulheres dignos. Que provas o senhor tem? O PT é o maior partido de esquerda do mundo”, questionou Florence.

Barusco disse que não forneceu provas à Polícia Federal ao longo do processo da Operação Lava Jato, mas que contou o que sabia. “Muita documentação foi destruída antes da delação. O trabalho de coletar provas vai progredir. Eu simplesmente falei o que sabia”, disse.

O ex-gerente relacionou os bancos onde depositou o dinheiro recebido em propinas ao longo do período. Em depoimentos judiciais, ele admitiu ter US$ 97 milhões, fruto de propinas. À CPI ele detalhou que recebeu efetivamente como propina cerca de US$ 70 milhões, e o restante (US$ 27 milhões) diz respeito a rendimentos financeiros.

Ele disse que os bancos tinham conhecimento da origem ilícita dos depósitos. Entre os bancos mencionados por ele, estão: HS Republic, HSBC, Safra, Cramer (da Suíça), Royal Bank of Canada e Delta – este último indicado pelo operador Zwi Zcorniky (que trabalhava para o estaleiro Kepel Fels).


Barusco se nega a responder perguntas sobre propinas recebidas antes de 2004

Pedro Barusco se recusou a responder a perguntas feitas pela CPI da Petrobras, principalmente por deputados do PT, a respeito de propina que ele admitiu ter recebido da empresa holandesa SBM entre 1997 e 2003.

Ele explicou que não podia detalhar as operações com a SBM porque está sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pela Justiça da Holanda por conta desses pagamentos.

Ele foi interrogado a respeito disso pelos deputados Valmir Prascidelli (PT-SP), Jorge Solla (PT-BA) e Maria do Rosário (PT-RS), que queriam saber como funcionava o esquema de pagamento de propina antes de 2004, quando, segundo Barusco, os pagamentos de propina passaram a ser “institucionais”, com a participação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. “Não posso responder”, disse.

À Justiça Federal, Barusco disse que recebeu propina sistematicamente da SBM a partir do ano de 2000, quando a empresa holandesa foi contratada pela Petrobras para o aluguel de navios-plataforma. Como os contratos eram de longa duração, disse que recebeu propina regularmente até 2003, período em que era gerente de Tecnologia de Instalações. Ele disse que, nesse período, recebia quantias que variavam entre US$ 25 mil a US$ 50 mil por mês. Os deputados do PT cobram mais detalhes do período anterior ao do governo Lula.