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Denúncias ligadas à Petrobras resgatam relação de doleiro com tucanos

Livro apontou irregularidades e esquema de evasão de divisas durante governo FHC

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O uso de depoimentos vazados à imprensa sobre denúncias de corrupção na Petrobras durante o governo Lula e Dilma fez ressuscitar também a ligação do doleiro Alberto Youssef, importante personagem de um dos casos mais abordados nos debates eleitorais pela oposição, com a campanha de políticos tucanos como Fernando Henrique Cardoso e José Serra. O livro "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr, publicado em 2011, mostra com base em documentos públicos o que seria um esquema de evasão de divisas para paraísos fiscais e também irregularidades na privatização de teles durante o governo FHC. 

O livro denuncia a chamada Era das Privatizações instaurada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e pelo então Ministro do Planejamento, José Serra. "Amaury Ribeiro Jr. faz um trabalho investigativo que começa de maneira assustadora, quando leva um tiro ao fazer reportagem sobre o narcotráfico e assassinato de adolescentes, na periferia de Brasília. Depois do trauma sofrido, refugia-se em Minas e começa a investigar uma rede de espionagem estimulada pelo ex-governador paulista José Serra, para desacreditar seu rival no PSDB, o ex-governador mineiro Aécio Neves. Ao puxar o fio da meada, mergulha num novelo de proporções espantosas", diz uma descrição do livro, disponível para compra em livrarias e para download online.

Em discurso feito no plenário da Câmara dos Deputados no início deste ano, o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) afirmou que a Casa “faltou com o respeito ao povo brasileiro” ao engavetar duas vezes a CPI da Privataria Tucana, proposta por ele e que contava com 208 assinaturas. “Não venham me dizer os da direita que isso é coisa da esquerda, quando se fala em CPI do Metrô de São Paulo ou os da esquerda que a CPI da Petrobras é coisa da direita, não, senhores, a roubalheira deve ser investigada sem levar em conta ideologia, o povo brasileiro tem que saber a verdade sobre o que fazem com o dinheiro público nesta República.”

O livro informava, entre outras coisas, que amigos e parentes de José Serra teriam mantido empresas em paraísos fiscais e movimentado milhões de dólares entre 1993 e 2003. Serra, quando a publicação foi lançada, chegou a dizer por meio de sua assessoria que o livro era uma “coleção de calúnias”. FHC, também em nota, afirmou que a obra era uma “infâmia”. 

O autor do livro disse que seu interesse surgiu a partir das “lacunas que ficaram da história das privatizações” e que os documentos contidos na obra são todos legais, obtidos na Justiça e no próprio Congresso Nacional.

Veja parte do livro que mostra as relações entre Yousseff e Ricardo Sérgio, conhecido como Mr. Big. Ricardo Sérgio foi diretor do Banco do Brasil e diretor de campanha de José Serra, do PSDB. As informações de como funcionava o esquema estão nas páginas 92 e 93 do livro A Privataria Tucana:

Os manuais de lavagem de dinheiro ensinam que, quanto mais o dinheiro roda, mais penoso torna-se seu rastreamento. Os doleiros de Banestado seguiam esse mandamento religiosamente. Ao cair no Banestado, o dinheiro contaminado pela sua origem rodava em várias contas de doleiros no mesmo banco antes de seguir viagem para as contas de Beacon Hill – megaescritório de lavagem de dinheiro em Nova York – e outras contas sujas abertas em outros bancos norte-americanos. Só então todo o butim da corrupção e do narcotráfico seguia para os paraísos fiscais onde permanecia escondido ou voltava para o país, valendo-se das operações descritas acima. Esse foi o roteiro usado pelo banqueiro Daniel Dantas para levar os milhões do Opportunity Fund para o Caribe. E que, depois, retornariam em operações na Bolsa de Valores. Além do banco de Dantas, o Fonte Cidam – cujo nome identifica outro escândalo financeiro – que tinha seus laços com a equipe econômica de FHC, também é acusado de recorrer ao duto comprometedor do Banestado para lavar dinheiro por meio de seu fundo, o Cidam Brazil Fund.

Parceiro de Dantas no processo de privatização, Ricardo Sérgio (conhecido como Mister Big), lançou mão do mesmo estratagema para movimentar recursos no exterior. Com 1.057 páginas, o relatório dos peritos da PF mostra que Mr. Big usava dois doleiros de peso para levar seus recursos até a agencia do Banestado em Nova York: Alberto Youssef – que também prestou o mesmo serviço para o contrabandista João Arcanjo Ribeiro (conhecido como Comendador Arcanjo, o criminoso foi preso em abril de 2003. Também prestou esse serviço para Dario Messer, acusado de levar para a Suíça os R$20 milhões desviados pela “Máfia dos Fiscais” do Rio de Janeiro.

Em quatro anos, entre 1996 e 2000, Mr. Big teria remetido ao exterior uma montanha de dinheiro com altitude de US$ 20 milhões. Para os peritos federais, todo o dinheiro enviado por Ricardo Sérgio dormia inicialmente em várias contas abertas por Messer e por Yousseff na agência novaiorquina do Banestado. Novamente, as contas eram abertas em nome de offshores, com apoio de David Spencer e ancorado no escritório de Citco nas Ilhas Virgens Britânicas. Eram incumbências de Spencer – que opera para Mr. Big desde os anos 1980 – também a abertura das contas dessas offshores na agência do Banestado e em outros bancos de Nova York. A documentação expõe, por exemplo, a participação do advogado na abertura da conta da offshore June International Corporation, operada por Yousseff no Banestado nova - iorquino. Do Banestado, a grana do ex-diretor do banco fazia uma escala em outras contas abertas no MTB Bank e outros bancos operados pelos doleiros da Beacon Hill. Era o último porto do dinheiro antes da revoada para as contas de Ricardo Sérgio, João Madeiro da Costa, o homem de Mr. Big na Previ, Ronaldo de Souza, em Miami ou nas Ilhas Virgens Britânicas.

Os milhões remetidos via Banestado – ou parte deles – desembarcariam no Brasil devidamente lavados e tripulando uma conta –ônibus alimentada por diversas offshore. Bafejado por parcela dessa grana, Madeira da Costa teria adquirido, por US$2 milhões, um superapartamento no Rio. Mas quem aparece como adquirente é a Rio Trading, outra empresa das Ilhas Virgens Britânicas, cujo procurador é o próprio advogado do ex-presidente da Previ.