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Fórum Nacional vai discutir o Brasil das Reformas e Oportunidades, no Rio

Evento apresenta estudos do ex-ministro Reis Velloso e deve contar com a presença de Dilma Rousseff

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Em uma linguagem metafórica, o Brasil de hoje se assemelha a um "Prometeu Acorrentado" pela armadilha do baixo crescimento, por isso precisa aproveitar as grandes oportunidades para superar os obstáculos, fazendo uso de uma visão estratégica, novos caminhos para as políticas macroeconômicas, dando um salto na competitividade internacional, além de impulsos essenciais como a Economia do Conhecimento, Tecnologia e Inovação. Essa seria a "Terceira Revolução Industrial" do país na visão do notável economista brasileiro João Paulo dos Reis Velloso, que vai presidir a partir da próxima segunda-feira (12/4) o XXVI Fórum Nacional promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE), que vai debater em três dias as perspectivas de um novo Brasil - das Reformas e Oportunidades. A presidente Dilma Rousseff deve participar da cerimônia de abertura do evento, na Caixa Cultural, no Centro do Rio de Janeiro.

O Fórum Nacional acontece há 26 anos consecutivos, sempre no mês de maio, com o objetivo de analisar as ideias para "a modernização e o desenvolvimento do Brasil", como define o próprio ex-ministro Reis Velloso, fundador e superintendente-geral do Fórum. A programação desse ano será apresentada em paneis e mesas redondas, abordando os temas relacionados à inovação e tecnologia do século XXI. Um dos pontos centrais do encontro fará referência à tecnologia conhecida como Nanoeletrônica, que trata da manipulação da matéria numa escala atômica e molecular e, na opinião de Reis Velloso pode representar o futuro da economia brasileira. Na esfera social, o Fórum vai apresentar o projeto "Favela é Cidade", atualmente desenvolvido em comunidades cariocas pelo INAE.

O Fórum Nacional vai reunir nos seus três dias de realização grandes personalidades e autoridades das mais diversas áreas sociais entono do tema desenvolvimento e tecnologia. Entre os nomes citados na sua programação estão o do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação Aloizio Mercadante, do chefe da Casa Civil, Mauro Borges, do presidente da Pré-Sal Petróleo S.A, Oswaldo Pedrosa Júnior, da representante do BID no Brasil, Daniela Carrera-Marquis, do diretor do International Growth Center, Claudio Frischtak, dentre muitos outros palestrantes. A presidente Dilma Rousseff é a convidada especial da sessão de abertura para discutir o tema "Visão do Brasil".

A presidente Dilma Rousseff foi convidada pessoalmente por Reis Velloso, que esteve em Brasília há 10 dias. "Ela [presidente] me disse sim logo quando fiz o convite e olhou para o Mercadante [ministro Aloizio Mercadante] e disse: 'Mercadante, coloca na agenda'.", contou o ex-ministro Reis Velloso. O economista vai lançar durante o Fórum dois livros de sua autoria, que embasaram a programação do Fórum Nacional 2014, intitulados "Brasil - O país das Reformas" e "Brasil - O país das Oportunidades". "As reformas precisam ser feitas, da previdência, fiscal e muitas outras. E o país precisa aproveitar melhor as oportunidades em todos os campos. No mundo, o Brasil está a frente em biodiversidade e precisa aproveitar esse privilégio. Quando isso acontecer, vamos, pelo menos, entrar sair da recessão de crescimento, como o país experimentou no ano de 1976, quando o PIB chegava a 5% ao ano. E assim, a gente sai também dessa história de 'pibinho', de 2,1%", destaca Reis Velloso. 

No campo social, o Fórum Nacional vai apresentar os projetos sociais em andamento em 11 comunidades localizadas em diversos pontos do Rio: Rocinha, Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, na zona Sul,  Borel, Manguinhos, Jacarezinho, Complexo do Alemão, Turano, Salgueiro, Formiga, na zona Norte e Cidade de Deus, na zona Oeste. "A ideia é transformar esses locais em bairros, mais pobre, mas com infraestrutura básica. Além da inclusão social e econômica, que podem ser alcançadas através de projetos que estamos coordenando. As políticas de segurança, como a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora], não são suficientes para o desenvolvimento integral dessas comunidades e os programas sociais visam dar suporte a outras estruturas", explica o economista. 

Reis Velloso esclarece ainda que as ações do INAE nas áreas pacificadas começa com um diagnóstico do perfil social, depois é colocada em prática a implantação do programa. No momento, o órgão está buscando financiamento para alguns de seus projetos nessas áreas, pelo BNDES. Em breve, o economista vai lançar um livro exclusivamente sobre esse trabalho de inclusão social nas favelas da cidade, que deve ter cerca de 500 páginas, com o título "A Renascença, primavera do Humanismo Moderno - Lições para o Brasil de amanhã". O mesmo tema vai encerrar o Fórum Nacional, na próxima quarta-feira (14).

Legado de Reis Velloso desde a crise de 88

O economista João Paulo dos Reis Velloso, de 83 anos, se formou pela antiga Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi ministro do Planejamento de 1969 a 1979, nos governos de Emílio Garrastazu Médici e de Ernesto Geisel, no período da ditadura militar. Apesar dos estigmas dos "Anos de Chumbo", o ex-ministro teve a sua imagem relacionada somente com os investimentos voltados para o desenvolvimento do país, especialmente no ramo da Ciência e Tecnologia. Isso pelo fato dele ser o fundador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ter contribuído com a implementação da infraestrutura da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), assim como o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e ainda fez do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) uma das mais responsáveis fundações do país. 

Um dos legados de Reis Velloso é o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que conseguiu concluir que a pesquisa acadêmica seria mais beneficiada se os professores tivessem condições de trabalhar em regime de tempo integral e com dedicação exclusiva. Outra conquista que leva a assinatura de Reis Velloso é o sistema educacional de pós-graduação, que representou mais um avanço na qualidade da pesquisa no país. Em plena crise econômica que o Brasil atravessava no ano de 1988, Reis Velloso vislumbrou uma oportunidade de apresentar projetos voltados para o desenvolvimento através de um fórum. Nesse período, o Brasil amargava uma inflação de 80% ao mês.

O ex-ministro Reis Velloso conta que a ideia de se criar um Fórum Nacional surgiu em uma discussão entre o seu então vice-presidente no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Paulo Guedes, e o economista do Banco Mundial Peter Knight. Guedes procurou Reis Velloso para apresentar a proposta e o ex-ministro sugeriu reunir especialistas em diversas áreas do conhecimento para discutir caminhos de se sair da crise em que o Brasil se encontrava. 

Enquanto traça um perfil otimista do potencial econômico do Brasil, Reis Velloso mantém um diálogo que remete ao passado e, ao mesmo tempo, ao futuro, o que faz dele um personagem singular no cenário nacional. Segundo ele, o Brasil tem a melhor matriz energética do mundo, com o potencial hidroelétrico e os biocombustíveis. No entanto, não utiliza essa "oportunidade" como devia. Ele cita a biodiversidade da Amazônia, da Mata Atlântica, a do Cerrado, além dos estudos recentes que mostram o potencial da Caatinga e Marítima. Na esfera social, o ex-ministro comenta que as oportunidades nas favelas também deveriam ser melhores aproveitadas. 

Há alguns anos, Reis Velloso enfatiza a chamada economia do conhecimento, que ele define como a utilização das aptidões modernas para se ter uma economia criativa. "Criatividade nas empresas, criatividade dos trabalhadores e criatividade no governo,", diz ele.

Nanotecnologia, uma dos maiores avanços do Fórum Nacional

O Brasil pode ocupar uma posição de liderança no mercado mundial, impulsionando as tecnologias do século XXI. Uma tecnologia já pesquisada por sete instituições, mas pouco conhecida no país pode ser a responsável por esse avanço no setor brasileiro. Para Reis Velloso, a chamada Nanotecnologia, que estuda a manipulação da matéria numa escala atômica e molecular, é a melhor promessa de crescimento do Brasil e o Fórum Nacional está empenhado na sua difusão. "Se os celulares fossem fabricados a partir dessa tecnologia, por exemplo, o Obama não iria invadir a ligação da presidente Dilma. Ela é de suma importância e pode significar o futuro do país", comentou o ex-ministro. 

Um livro detalhando esse tipo de tecnologia, criada no Japão, será publicado em breve por Reis Velloso. Ele acredita que o Brasil tem condições de produzir em grande escalas utilizando da tecnologia revolucionária e mudar o destino do país. Um dos debates do Fórum Nacional desse ano vai avaliar a estratégia de desenvolvimento da nanoeletrônica no país, como fator relevante não só no crescimento da economia, mas principalmente para a segurança nacional. 

Um dos palestrantes será o Coordenador do Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica da Universidade de São Paulo (USP-SC), Roberto Mendonça Faria, que já está empenhado na pesquisa da tecnologia. Outra universidade que está debruçada na aplicação da Nanotecnologia no Brasil é Universidade Federal de Minas Gerais, que será representada no Fórum pelo professor Flávio Plentz, que também ocupa do cargo de Coordenador-geral de Micro e Nanotecnologias da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia, e Inovação.