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SP: ato contra a Copa deve reunir força ‘repressiva’ da PM

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A três meses para o jogo de abertura entre Brasil e Croácia, na cidade de São Paulo, a Copa do Mundo entra na mira das manifestações populares pela terceira vez neste ano, na noite desta quinta-feira, na capital paulista. O ato tem saída prevista do Largo da Batata (zona oeste) às 18h e, até ontem, contava com mais de 13 mil pessoas confirmadas em uma página do Facebook.

A Polícia Militar promete adotar novamente a estratégia usada na manifestação anterior, de 22 de fevereiro, quando 200 PMs treinados em artes marciais, denominados “Tropa do Braço”, se juntaram a outros 2,1 mil policiais para formar cordões de isolamento em torno de supostos black blocs. A ação resultou em 262 detidos  - entre os quais, jornalistas que cobriam o protesto - que acabaram, todos, liberados na mesma noite. PMs, manifestantes e profissionais de imprensa ficaram feridos, e duas agências do Banco Itaú, patrocinador oficial da Copa, foram depredadas no centro.

Para a major da reserva Tânia Pink, estudiosa do uso da força policial e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, desde o ano passado a polícia paulista tem adotado um mesmo mecanismo de ação nos protestos populares: a repressão. E medidas como a tropa “ninja”, opina, reforçam isso. “É a demonstração de que nem a PM, nem o Estado estão abertos para o diálogo.”

“Isso não pode ser analisado apenas como estratégia da PM, mas do governo do Estado de São Paulo: de junho para cá, a perspectiva de ação é mais repressiva do que voltada para o diálogo. Às vezes mais, às vezes menos, mas a repressão está presente como um todo e a pauta da manifestação popular acaba indo para um segundo plano, pois o primeiro se torna o da violência”, destacou.

“Violência deixa pauta de protestos em 2º plano”

Mestre em ciência política, a pesquisadora acredita que, quanto mais repressiva a ação policial nos protestos, “maior o grau de agressividade” por parte dos manifestantes. “A discussão pela melhoria do serviço público, que é o pano de fundo de um ato contra a Copa, por exemplo, fica de lado quando a resposta é a repressão. Mas esse diálogo, que tem dado certo em outros países, tem que ser buscado em um ambiente de protesto - desde que haja essa posição de se abrir a esse diálogo”, disse.

Questionada se iniciativas como a Tropa do Braço minimizaram a violência policial, a major refutou a hipótese. 

“O grande desafio para a polícia de qualquer País, em uma manifestação, é conter atos não pacíficos de um pequeno grupo. Aqui se tem usado munições químicas e balas de borracha, e isso tem causado desgaste grande à corporação, porque os transtornos gerados não afetam apenas a minoria de não pacíficos, mas de uma maneira geral - sejam manifestantes ou profissionais de imprensa. Essa não é uma ação desejada”, avaliou a pesquisadora.

“E o que a PM fez no último protesto em São Paulo, mesmo evitando usar bala de borracha, foi se antecipar à prática não pacífica e promover um grande número de detenções. Evitou o dano, mas teve um custo social alto à medida em que interveio nos direitos civis de um grande número de pessoas”, completou a estudiosa, para quem mesmo o governo federal tem adotado a tática repressiva para lidar com os protestos. “Porque ele torna as leis mais rigorosas, e a aplicação delas vai sempre pela via repressiva”, explicou.

PM promete “aperfeiçoar” ação

O porta-voz da PM, capitão Emerson Massera, sugeriu que “talvez possa haver algum aperfeiçoamento” nas ações da corporação, no protesto de hoje, em comparação ao de fevereiro. “Mas a sintomática de atuação é a mesma. A ideia é minimizar riscos de danos e depredações, lesões e agressões”, declarou.

O policial admitiu que critérios como local, data e horário da manifestação também influenciam a tomada de decisões dos PMs – no protesto de fevereiro, em um sábado chuvoso, os manifestantes foram cercados em uma área pequena do centro por 2,3 mil homens. O uso de bala de borracha e de bombas de gás, mais uma vez, não estão descartados, como nos dois atos anteriores.

“Elastômetro e munição química poderão ser usados de maneira progressiva, se a situação exigir – mas teremos a prevalência do corpo a corpo”, resumiu.

Massera não adiantou quantos policiais acompanharão o ato de hoje alegando questões de segurança, mas garantiu que os 200 PMs da Tropa do Braço estarão presentes.