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Idosa de Londrina cai de escada em cruzeiro marítimo e morre

Transatlântico MSC Preziosa vai atracar com o corpo de Mercedes Lessi em Salvador, no sábado

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A viagem dos sonhos da aposentada Mercedes Raia Lessi, de 87 anos, se transformou num pesadelo com final trágico. Mercedes morreu na manhã desta quarta-feira (20/11) quando retornava de uma viagem à Europa, a bordo do Transatlântico MSC Preziosa. Segundo a família, a idosa teria caído de uma escadas e batido violentamente com a cabeça, na noite de terça-feira (19). Mercedes foi encaminhada ao Posto Médico da embarcação, na companhia das duas filhas, mas morreu 12 horas após a queda. A aposentada morava em Londrina, no Paraná. O navio com o corpo da idosa vai atracar no sábado (23), em Salvador.

O genro de Mercedes, o publicitário paranaense Valduir Pagani, contou que Mercedes viajava na acompanhada das duas filhas, Darli Meiri Lessi e Dirleni Luiza Lessi Pagani. Quando aconteceu o acidente, a embarcação havia saído da Itália em direção ao Brasil. "Ela [Mercedes] estava se encaminhando ao restaurante do navio para jantar e tropeçou na escada e caiu. Na queda, ela bateu com a cabeça e ficou com um hematoma e chegou a vomitar", contou Valduir. 

Segundo Valduir, Mercedes era uma pessoa muito alegre, com uma vitalidade impressionante, não aparentava a idade que tinha e ainda sonhava com o cruzeiro marítimo para a Europa. "Ela sempre dizia que queria viver até os 100 anos de idade", contou emocionado Valduir. Ao comentar o acidente, o publicitário lamentou o navio não ter estrutura médica para atender o caso da idosa. "A embarcação não possui uma Unidade de Terapia Intensiva. A Mercedes apresentou sinais vitais após a queda, precisava de um atendimento apropriado e urgente. Os médicos fizeram os primeiros socorros, mas não tinha na unidade os equipamentos necessários para o caso dela", contou Valduir. 

Na manhã desta quarta-feira, a família de Mercedes conseguiu autorização para o corpo da aposentado ser liberado em Salvador, primeira parada do navio ao retornar ao Brasil, seguindo para o porto de Santos, em São Paulo. "A companhia não queria seguir com o corpo para Santos, para não atrasar a viagem deles. Com isso, a família teria mais dias de angústias, inclusive as duas filhas que estão embarcadas. Mas ficamos sabendo hoje que as autoridades definiram que o corpo será liberado em Salvador e, após a perícia, faremos o translado para Londrina", contou o genro da idosa. 

Em nota, a MSC Cruzeiros informou que Mercedes Raia Lessi teve um mal súbito, sofreu uma queda e faleceu na terça-feira (19), a bordo do navio MSC Preziosa. "A hóspede estava acompanhada de suas filhas em roteiro da Europa para o Brasil. A companhia lamenta muito o ocorrido e se solidariza à família", disse a empresa.

Em Termo de Transporte, empresa admite que centro médico "não está equipado a nível de um hospital em terra"

Os momentos de agonia vividos por Darli Meiri Lessi e Dirleni Luiza Lessi Pagani, filhas da aposentada Mercedes Raia Lessi, foram ainda mais intensos pelo fato delas não conseguirem a tempo um resgate para salvar a vida da idosa. "A nossa família não tem condições de pagar um resgate aéreo e, apesar da MSC estar prestando agora toda a assistência necessária, não apresentou para a gente um plano de resgate para salvar a vida dela [Mercedes]", contou o publicitário Valduir Pagani, marido de Dirleni. 

A MSC Cruzeiros esclareceu, através da sua Assessoria de Comunicação, que o Preziosa está em "navegação oceânica" e até a comunicação via satélite com o navio é precária. "Até o momento ainda não foi esclarecido se a hóspede Mercedes Raia Lessa bateu com a cabeça. Essa informação está sendo transmitida por membros da família, mas não temos certeza dos fatos", afirmou a assessora de comunicação da empresa, que também não soube dizer se a embarcação possui uma Unidade de Tratamento Intensivo para tratar de casos graves.

No portal da MSC Cruzeiros a empresa indica aos clientes a leitura de um termo com as "Condições Gerais de Transporte". No quinto item, a empresa prevê que o cruzeiro pode ser interrompido "por motivos ou causas alheias ao seu controle e/ou se o Comandante ou o Transportador considerarem que o término seja necessário devido a motivos de administração e/ou segurança do Navio".  A cláusula seguinte deixa clara a autonomia do comandante de cumprir ou não instruções referentes às rotas de partida ou de chegada,  portos de escala, interrupções, transbordos, descarga ou destino solicitadas por administração pública ou  departamento e define: "nada do que seja realizado ou omitido em virtude das referidas ordens e instruções será considerado como desobediência à lei".

A cláusula 16 do termo trata das questões médicas e acidentes. De acordo com as informações do termo, "o médico do cruzeiro não possui uma determinada especialidade e centro médico não está equipado a nível de um hospital em terra, uma vez que esta não é uma exigência legal. A embarcação possui equipamentos e suprimentos médicos exigidos pela legislação do Estado de bandeira. Portanto, nem o Transportador e nem o médico responderão perante o Passageiro pela eventual impossibilidade de se ministrar um  tratamento específico", diz o texto. Em seguida, a empresa afirma que no caso de doença ou acidente, " é possível que o Transportador e/ou Comandante desembarquem  o Passageiro para que receba a devida assistência médica necessária. O Transportador  não será responsabilizado pela qualidade do tratamento médico prestado em qualquer porto de escala ou no local de desembarque do Passageiro". O termo aconselha o passageiro a contratar um seguro para cobrir eventuais despesas com tratamento médico, incluindo os custos de repatriação de emergência.

Em menos de um ano, MSC Cruzeiros registra três acidentesCom a morte da aposentada Mercedes Raia Lessi sobe para três o número de acidentes em cruzeiros num período de um ano, envolvendo os transatlânticos da MSC Cruzeiros. No dia nove de fevereiro, o arquiteto Luciano de Lucca, de 30 anos, caiu do MSC Fantasia, em Santos, litoral de São Paulo. O navio fazia o roteiro turístico de Búzios (RJ) a Salvador (BA) e quando aconteceu o acidente estava atracado no porto de Santos. O hóspede, que foi acometido por uma crise nervosa, estava em uma das cabines no 11o. andar.  O corpo de Luciano foi encontrado no mar três dias após a queda. 

Em dezembro de 2012, o empresário baiano Teobaldo Ferreira da Cruz, de 52 anos, morreu após sofrer uma queda no interior do navio MSC Fantasia, o mesmo onde aconteceu o acidente com o arquiteto. O caso de Cruz é semelhante ao da aposentada Mercedes. Ele viajava na companhia de familiares e amigos e ao decer uma escadaria, sofreu um mal-estar e caiu de um dos andares do navio. 

Na época, a embarcação ficou retida por sete horas no porto de Santos, para o trabalho de perícia e inspeção feitos pela Companhia dos Portos de São Paulo e pela Polícia Federal, que ficou responsável pelas investigações deste caso.