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Médicos vaiando colegas cubanos envergonham o Brasil

Padilha qualificou de xenófoba atitude dos profissionais durante protesto da categoria no Ceará

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O comportamento dos médicos cearenses durante protesto em Fortaleza, na noite da última segunda-feira (26/08), teve grande repercussão na imprensa e nas redes sociais, principalmente devido a fotografia que mostrava médicas de jaleco vaiando um médico cubano negro. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou nesta terça-feira que a atitude dos profissionais com os médicos estrangeiros foi truculenta e xenófoba. José Maria Pontes, presidente do Sindicato de Médicos do Estado do Ceará (Simec), no entanto, argumenta que a imprensa distorceu os acontecimentos e afirma que as vaias eram direcionadas aos representantes do Ministério da Saúde, não aos médicos estrangeiros.

Fotografia da Folhapress mostra médicas, aparentando boa condição social, de jaleco branco, vaiando o médico cubano na saída do grupo de médicos da aula inaugural do projeto Mais Médicos. Também circulou pela internet um vídeo que mostra os médicos hostilizando os profissionais cubanos, no que foi chamado de corredor polonês. (Confira o vídeo aqui)

"Lamento veementemente a reação de alguns médicos brasileiros em Fortaleza. Eu vi as cenas e são cenas de quem incita a xenofobia, o preconceito. Custa entender que profissionais são aqueles, que participam de um corredor polonês da xenofobia, do preconceito. E não acredito que essa seja uma postura da maioria dos médicos brasileiros. Acho que são grupos isolados", declarou Padilha.

Padilha ressaltou o estímulo aos médicos brasileiros para que escolhessem municípios que não têm médicos e a necessidade de contratar médicos estrangeiros para locais com número insuficiente de profissionais. "Caso não exista número suficiente de médicos brasileiros para atender no interior do país, nas periferias das grandes cidades, vamos fazer como outros países do mundo: trazer médicos de outros países, bem avaliados, com qualificação e que vêm com compromisso de atender a nossa população em primeiro lugar. (...) A presidenta Dilma recebeu esse pedido de todos os prefeitos de todos os partidos do país inteiro. Porque eu acho que, em primeiro lugar, nós temos que pensar nos milhões de brasileiros que vivem em municípios ou em bairros que não têm médico ao longo do ano", acrescentou.

O presidente do Simec confirma a realização do "verdadeiro 'corredor polonês", mas atribui as vaias e hostilização aos representantes do governo que estavam presentes, não aos médicos estrangeiros. Ele reforça que, no momento anterior à saída dos médicos, o mesmo sugeriu aos médicos presentes que promovessem uma grande vaia ao governo, com frases de ordem como "Fora, Padilha". O Simec, assim como outras entidades médicas brasileira, é contra a contratação dos médicos sem Revalida e qualifica as condições de trabalho dos médicos estrangeiros do Mais Saúde como trabalho escravo.

"A imprensa hoje publicou coisas que não aconteceram, interpretaram os acontecimentos do jeito que quiseram. Nossas vaias eram destinadas aos gestores [do programa], não aos médicos", afirma Pontes. Quando recebeu uma ligação do secretário de Saúde do Ceará, Arruda Bastos, que pedia que não houvesse confusão durante a saída dos médicos estrangeiros, Pontes argumentou que o protesto não era contra os médicos, mas sim contra os representantes do governo. Pontes afirma que ele próprio sugeriu aos médicos presentes de jaleco que realizassem uma grande vaia ao governo, pedindo o Revalida e a saída de Padilha. 

Ele ressalta que "prova maior de que não foi nada contra os médicos", foi que quando os representantes do Ministério da Saúde foram para um lado e os médicos estrangeiros para o outro, os médicos que protestavam seguiram o primeiro grupo, e não os médicos. "Eu garanti ao secretário [de Saúde do Ceará] que não teria nenhum tipo de violência contra os médicos estrangeiros. Em nenhum momento o sindicato discriminou os médicos. Mas quando todos saíram, como os médicos estavam em maior número, parecia que as vaias eram direcionadas a eles".