ASSINE
search button

Morre o presidente da Abril e criador da Veja, Roberto Civita 

Compartilhar

Morreu neste domingo (26), aos 76 anos, o presidente do Grupo Abril e criador da revista Veja, Roberto Civita. O Jornal do Brasil lamenta a morte de um dos maiores empresários dos meios de comunicação, que por meio de diversas publicações marcou o jornalismo brasileiro. Sob seu comando a Abril diversificou seus negócios, tornando-se um dos mais importantes conglomerados de comunicação da América Latina, atuando nas áreas de Mídia (revistas, conteúdo e serviços online, TV segmentada e-commerce e database marketing), Educação (livros didáticos e sistemas de ensino), Gráfica, Distribuição e Logística.

O corpo do empresário será velado na manhã desta segunda-feira (27) a partir das 11h no crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. O corpo chegou ao local ainda durante a madrugada, por volta das 4h, e um grupo de funcionários do Grupo Abril acompanhava os últimos preparativos para o velório. A cerimônia de cremação vai ocorrer no mesmo local e está prevista para 17h.

Roberto, que também presidia a Fundação Victor Civita, estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, devido a um aneurisma abdominal e morreu de falência múltipla dos órgãos. Desde março deste ano, o diretor editorial da Abril e editor-chefe da Veja estava afastado do Conselho de Administração do grupo. A assessoria de imprensa da Abril informou na época que ele se recuperava de uma operação para colocar um stent (prótese metálica expansível) no abdômen. Por esta razão, Civita tinha deixado provisoriamente o comando do grupo, que passou para seu filho Giancarlo Civita.

Nascido em Milão, na Itália, em 1936, Roberto Civita estudou física nuclear em Rice, no Texas, nos Estados Unidos, e se formou em jornalismo pela Universidade da Pennsylvania, onde também se se diplomou em economia, pela Wharton School. Já a pós-graduação em Sociologia, foi obtida pela Universidade de Columbia, em Nova York. 

Criador da revista Veja, o presidente atuava como editor-chefe da publicação desde quando foi lançada no ano de 1968. Civita chegou a presidência do grupo criado por seu pai, Vitor Civita, em 1990 e só a deixou depois de internado. 

Além das publicações, o grupo conta com a Abril Educação, que reúne as editoras Ática e Scipione, os sistemas de ensino Anglo, Ser, Maxi e GEO, o Siga (para preparação para concursos públicos), o Curso e o Colégio pH, o Grupo ETB (Escolas Técnicas do Brasil), a Escola Satélite, a rede de escolas de inglês Red Balloon e a Livemocha, de ensino de idiomas, conforme o site do grupo.

Grupo Abril

Fundado em 1950 por Victor Civita, pai de Roberto Civita, como Editora Abril, o grupo nomeado pelo mês de início da primavera na Europa começou com a publicação da revista O Pato Donald , da Disney, em São Paulo. Hoje a Abril é proprietária de sete de dez das revistas mais lidas no Brasil.

Dez anos depois, a editora iniciou a publicação de obras da literatura em fascículos e, em 1961, passou a publicar outras revistas da Disney, com destaque para o Zé Carioca. A maior revista informativa em circulação no País, a Veja, foi criada em 1968. Segundo o site da empresa, atualmente a Abril publica 52 títulos, com público estimado de 28 milhões de leitores e impressão de 594 milhões de revistas por ano.

Posicionamento do grupo 

A posição política do Grupo Abril é considerada conservadora por alguns setores da sociedade brasileira, mas independente por outros. No entanto, indenpentente da escolha política, a editora, através da revista Veja, foi responsável por uma das reportagens definitivas para a queda do ex-presidente Fernando Collor de Mello, depois de publicar uma capa com o irmão do político, Pedro Collor. 

Novos mercados

Sob o comando de Roberto Civita, a Abril investiu também em televisão e internet. Colocou no ar a TVA e a MTV, considerada o primeiro canal de TV segmentado do Brasil. Na internet, a primeira iniciativa foi com o BOL, Brasil Online, lançado em 1996, e mais tarde incorporado ao UOL.

Em 1999 foi lançado o Ajato, provedor de internet em banda larga. Hoje, a Abril Mídia Digital é a unidade do grupo responsável pelos novos negócios digitais da Abril.

Um ranking da revista Forbes, publicado em março de 2013, colocou Roberto Civita e família como a 11ª maior fortuna do Brasil e a 258º maior do mundo, com um patrimônio estimado em US$ 4,9 bilhões.

Veja o obituário de Roberto Civita, da revista Veja:

"Morreu Roberto Civita, o criador de VEJA 

Ele dedicou 55 de seus 76 anos à paixão de editar revistas, nunca se afastou do compromisso com o leitor e com o Brasil e fez da Abril um dos maiores grupos de comunicação da América Latina

Roberto Civita, diretor editorial e presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, morreu neste domingo, às 21h41, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, devido à falência de múltiplos órgãos, depois de três meses internado para a correção de um aneurisma abdominal. Civita deixa a mulher Maria Antonia, os filhos do primeiro casamento Giancarlo, Roberta e Victor, além de seis netos e enteados. O velório acontece nesta segunda-feira, 27 de maio, a partir das 11h, no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, São Paulo.

Memória - “Gosto de ser editor e o que eu sei fazer é revista”, dizia Roberto Civita. Mesmo depois de 1990, quando a morte de Victor Civita o levou a assumir o comando da Abril e chefiar o processo de diversificação do grupo fundado pelo pai, ele nunca se afastou da atividade que o seduziu definitivamente na década de 60, quando começou a por em prática os conhecimentos assimilados anos antes, na sua segunda temporada nos Estados Unidos. Nascido em Milão, Roberto Civita morou em Nova York de 1939 a 1949, quando veio para São Paulo. O bom desempenho no Colégio Graded garantiu-lhe uma bolsa de estudos nos EUA, onde percorreu, ao longo da década de 50, caminhos que o levariam à descoberta da vocação profissional e à volta definitiva ao Brasil.

Depois de interromper o curso de Física Nuclear na Universidade Rice, no Texas, para diplomar-se em jornalismo e economia na Universidade da Pensilvânia, Roberto Civita conseguiu um estágio na editora Time Inc, que controlava as revistas Time, Life e Sports Illustrated. Durante um ano e meio, familiarizou-se com todos os setores da empresa, da redação à contabilidade. Em 1958, quando Victor Civita perguntou ao filho que acabara de voltar o que pretendia fazer, ouviu a resposta que apressaria a entrada da Abril no universo jornalístico: “Quero fazer uma revista de informação semanal, como a Time, uma revista de negócios como a Fortune e uma revista como a Playboy”, respondeu.

Pioneirismo - O pai prometeu preparar a empresa para o passo audacioso, consumado em 11 de setembro de 1968, quando chegou às bancas a primeira edição de VEJA. Roberto Civita participou intensamente das experiências pioneiras que resultaram no lançamento de Realidade, Exame, Quatro Rodas ou Playboy. Mas nada o deixava mais emocionado que recordar a trajetória descrita pela primeira revista semanal de informação do Brasil. Foi ele quem a criou. E foi ele o primeiro e único editor de VEJA, hoje a maior publicação do gênero fora dos Estados Unidos.

“Ninguém é mais importante que o leitor, e ele merece saber o que está acontecendo”, lembrava aos recém-chegados. “VEJA existe para contar a verdade. A fórmula é muito simples. Difícil é aplicá-la o tempo todo”. Sobretudo em ambientes hostis à liberdade de expressão, aprendeu Roberto Civita três meses depois do parto da revista. Em 13 de dezembro de 1968, a decretação do Ato Institucional n° 5 transformou o que era um governo autoritário numa ditadura militar sem disfarces. A capa da edição que noticiou o endurecimento do regime exibiu uma foto do general-presidente Arthur da Costa e Silva sentado, sozinho, no plenário do Congresso que o AI-5 havia fechado. Os chefes militares não gostaram da imagem, e ordenaram a apreensão de todos os exemplares. A essa violência seguiu-se a instauração da censura prévia, que só em meados da década seguinte deixaria de tolher os passos de VEJA.

Risonho, cordial, otimista, Roberto Civita sempre acreditou que nenhuma atividade vale a pena se não for praticada com prazer. “Você está se divertindo?”, perguntava insistentemente aos profissionais com quem convivia. Mantinha-se otimista mesmo quando contemplava a face sombria do país. Para ele, o Brasil só conseguiria atacar com eficácia seus muitos problemas se antes aperfeiçoasse o sistema educacional, modernizasse o capitalismo nativo, removesse os entraves à livre iniciativa e consolidasse o estado democrático de direito. “O que VEJA defende, em essência, é o cumprimento da Constituição e das leis”, repetia. Também essa fórmula parece simples. Difícil é colocá-la em prática. Foi o que o editor de VEJA sempre soube fazer".

Com informações do Portal Terra de Notícias.