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Bate-boca entre irmão de Mércia e advogado interrompe transmissão de júri

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Um bate-boca entre o irmão da advogada Mércia Nakashima, morta aos 28 anos em 23 de maio de 2010, Márcio Nakashima, e o advogado Ivon Ribeiro, um dos três defensores do acusado de ser autor do crime, Mizael Bispo de Souza, interrompeu a transmissão ao vivo do júri sobre o caso, no início da tarde desta segunda-feira. Márcio e Ribeiro trocaram várias acusações durante o depoimento da testemunha, que acusou o defensor de ameaçá-lo e de manchar a "honra" de sua irmã, o que fez com que o juiz Leandro Bittencourt Cano interrompesse temporariamente a transmissão do júri.

Primeira testemunha a depor, Márcio presta depoimento desde as 10h50 desta segunda-feira e, em diversos momentos, já havia chorado em plenário, mas ficou especialmente exaltado quando o advogado Ivon Ribeiro o advertiu de que ele estaria fazendo juízo de valor em sua fala. O irmão de Mércia, então, não escondeu a indignação e chegou a ameaçar deixar o Fórum de Guarulhos.

"Esse cidadão aí, ele mesmo, fala que a Mércia era garota de programa. (...) O doutor Ivon fala aos quatro cantos (sobre a irmã dele)", disse Márcio, apontando para o defensor. "Eu prefiro ir embora", continuou. "Ele (o advogado) já me ameaçou na represa (de Nazaré Paulista, onde o corpo de Mércia foi encontrado). Falou que ia me colocar na cadeia. Isso que o senhor está querendo me falar agora, quer passar pro jurado, fica com esse joguinho. (...) Todo mundo viu a provocação quando eu cheguei lá (sem especificar a que local se referia)", disse. Ribeiro, então, reagiu à declaração e falou, exaltado, para que ele provasse as acusações. "Traga provas", rebateu o advogado.

O bate-boca não parou por aí e Márcio continuou com as acusações ao advogado. "O senhor chegou a dizer que eu e minha irmã Cláudia temos uma ficha criminal", disse Márcio, ao que o Ribeiro respondeu: "Me processa!", afirmou o advogado. "Então vou fazer isso, então pode ter certeza. Não fiz isso ainda por orientação do meu advogado", rebateu o irmão de Mércia.

Neste momento, o juiz interrompeu a transmissão do júri e alertou Márcio para que ele tentasse se acalmar, lembrando que ele depunha como testemunha de acusação, não como familiar da vítima.

"Eu sei o quanto deve ser difícil estar aqui. Sei do seu sofrimento. Mas não adianta nada, absolutamente nada, o senhor vir aqui denegrir a imagem de quem quer que seja. A justiça vai ser feita. Preste o depoimento. Os senhores jurados, representantes do povo, vão decidir o futuro do caso daqui a pouco", disse o juiz, se dirigindo a Márcio.

Mais calmo, o irmão de Mércia disse que poderia retomar o depoimento: "Pode continuar", disse, retomando a transmissão em seguida.  As famílias de Mércia e Mizael acompanham o julgamento e, embora demonstrem bastante desconforto e emoção com a situação, permaneceram em silêncio.

Além de Márcio, outras dez testemunhas serão ouvidas durante o julgamento, entre elas o delegado Antonio de Olim, responsável pelas investigações, além de peritos criminais.

Em sua primeira fala, Márcio definiu Mizael como uma pessoa extremamente ciumenta e disse que ele se "transformou" dias antes do crime. "Ele foi se transformando. Ele era um sujeito ciumento, possessivo, ficava cercando a Mércia, ligava várias vezes para a Mércia", afirmou.

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O caso Mércia

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita, mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima). De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígios de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes - enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.