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Hildegard Angel inaugura escola com nome do irmão, Stuart 

O estudante de Economia Stuart Angel foi assassinado aos 25 anos na Base Aérea do Galeão, em 1971

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Em clima de muita emoção, o estudante e militante Stuart Angel, uma das vítimas mais famosas da ditadura, recebeu uma homenagem nesta segunda-feira(25), em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio. Uma escola foi inaugurada com o nome do estudante e militante do MR-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro), morto em 1971 dentro da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro.

O evento reuniu artistas, políticos e amigos de Hildegard Angel, irmã de Stuart. Entre os presentes, estiveram Cidinha Campos, secretária da recém-criada pasta da Defesa do Consumidor, o ator e vereador Antônio Pitanga, o escritor Nelson Rodrigues Filho e o jornalista e produtor cultural Haroldo Costa.

A homenagem na Escola, que tem 1.184 alunos matriculados, emocionou Hildegard, ex-colunista do Jornal do Brasil. Ela lembrou que as homenagens a Stuart vêm desde 1982, em pleno período da ditadura:

"O Stuart foi o primeiro desaparecido político a receber homenagem em logradouro público, com uma praça que tinha o nome dele na Ilha do Governador, em 1982. A iniciativa foi do então vereador Carlos Imperial, como uma provocação, uma vez que a praça fica em frente à Base Aérea do Galeão, onde ele foi assassinado", explicou Hildegard, que fez questão de deixar claro o quão especial era para ela receber a homenagem com uma escola.

"Ele era, acima de tudo, um estudante, e esta história dele precisa ser contada. Tiradentes levou 200 anos para ter seu rosto conhecido. Não podemos passar esse tempo sem conhecer a história dos nossos Stuarts", afirmou ela, antes de subir ao palco para a inauguração.

Após a cerimônia, a colunista contou que irá apoiar os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade no Rio de Janeiro, inclusive com depoimentos. "Os militares chamaram o Stuart de subversivo, mas foram eles que subverteram a ordem. Eles que torturavam bebês nas câmaras de tortura, eles que efetuaram um golpe de estado. Essa é a história que precisa ser contada", finalizou Hildegard, que definiu Stuart como um rapaz "responsável, muito bonito, apaixonado por esportes e pela música".

O secretário estadual de Educação, Wilson Risolia, destacou a luta de Stuart Angel "Por um Brasil mais digno, mais ético, que não tolera desvios". Acrescentou que a estrutura da escola, em breve, receberá os devidos toques finais para estar "à altura do nome de Stuart". Após a fala de Risolia, muitos que vestiam uma camisa estampando o rosto de Stuart levantaram-se e gritaram: "Stuart, presente, agora e sempre!!!"

A secretária estadual de Defesa do Consumidor, Cidinha Campos, também teve dificuldades para falar devido à emoção. Ela contou que morava no mesmo prédio em que Zuzu Angel, mãe de Stuart, mantinha seu ateliê, e que a amizade com a família permaneceu durante todo este tempo, destacando a luta de Zuzu "por não aceitar o que havia acontecido com seu filho". Segundo Cidinha, "por isso o destino dela foi o mesmo". Para concluir, ela pediu ao governador e ao secretário de Educação que tratassem muito bem daquela escola, e lembrou que faltavam duas pessoas naquele momento no auditório: Stuart e Zuzu Angel. Sem conseguir falar mais nada, Cidinha foi aplaudida de pé.

Companheiros de luta apoiam escola

José Carlos Jesus de Abreu, de 65 anos, poderia ser apenas mais um morador de Senador Camará. Foi ele, no entanto, o responsável pelo projeto de dar o nome de Stuart à escola estadual. Aluno de Física na UFRJ nos anos 60, ele conheceu o então estudante de Economia e se tornou amigo de Stuart. "Lutamos contra a ditadura de forma bem ativa, e ele era um cara fantástico. Não podia deixar a história dele passar em branco. Trabalhei muitos anos na Alerj e, após conseguir as assinaturas aqui no bairro, consegui levar esse projeto até a Alerj, onde trabalhei por 26 anos. Estou muito feliz com tudo isso", exultou ele, que tem agora um novo homenageado em mente: Carlos Lamarca, um dos principais líderes da guerrilha contra a ditadura e que morreu em 1971, tal qual Stuart Angel.

"Quero colocar o nome do Capitão para homenagear essas figuras que foram mortas pelo regime", diz Abreu, que tem em mente mudar o nome justamente do colégio Emílio Garrastazu Médici, em Bangu, presidente do país em um dos períodos em que mais se torturou durante a ditadura militar.

Bemvindo Sequeira, que também militou com Stuart nos anos 70 e que hoje é ator, alerta que hoje não aconselharia a juventude a perder a vida por uma causa como a luta contra a ditadura. Porém, ele lembra que, no contexto do momento, o radicalismo foi algo natural:

"Quando o endurecimento do regime aconteceu, aqueles jovens de 20 e poucos anos, lutando contra o regime, bradaram: é agora, vamos pegar em armas! E em dois anos os muilitares acabaram com todos os aparelhos criados pelos que tentavam derrubar a ditadura. Nós achávamos que realmente podíamos lutar contra eles", lembra ele, que também pediu punição aos responsáveis pelas torturas e mortes durante a ditadura. "No Uruguai, Chile e Argentina isso já acontece. O que falta aqui no Brasil é punição".