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Vigia viu Gil Rugai fugir após mortes de pai e madrasta

Julgamento de ex-seminarista já começa com bate boca 

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Primeira pessoa a depor durante o julgamento do publicitário e ex-seminarista Gil Rugai - acusado de matar o pai e a madrasta -, o vigia Domingos Ramos de Oliveira Andrade disse ter "certeza absoluta" de ter visto o réu deixando a residência na noite do crime. 

Em depoimento no início da tarde desta segunda-feira (18), no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, o vigia afirmou ter ouvido os tiros que mataram Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e Alessandra de Fátima Troitiño, 33 anos, por volta das 21h do dia 28 de março de 2004. Após os disparos, a testemunha de acusação disse que viu Gil Rugai e outro homem fugindo da residência, que fica em um bairro nobre da zona oeste da capital paulista.

"Eu não quero mal para ninguém. Eu só estou falando os fatos como foram. (...) Eu estou falando a verdade porque eu vi duas pessoas saindo de lá, e uma delas era ele", garantiu o vigia que, na ocasião do crime, trabalhava como vigilante na rua onde ficava o imóvel do casal.

O julgamento de Gil Rugai começou por volta das 13h10 desta segunda-feira (18) com o depoimento de Andrade, que integrou durante cerca de seis anos o programa de proteção à testemunha do Estado. Aos jurados - cinco homens e duas mulheres -, o vigia contou que recebeu ameaças de morte após ter revelado à Polícia Civil o que viu.

Na época da investigação, ele foi ouvido três vezes, mas apenas no terceiro depoimento afirmou ter visto Gil Rugai. Segundo ele, a demora em revelar "a verdade" se deu porque ele tinha medo de sofrer represálias. "Eu me arrependi (de ter afirmado que viu o Gil Rugai deixando o imóvel), porque quem mais sofreu foram os meus filhos e a minha família", disse.

Segundo ele, após revelar à polícia o que viu, homens que teriam se identificado como policiais foram até sua casa e o ameaçaram. Ele também relatou que atearam fogo à guarita onde ele trabalhava como vigilante e que sua mulher e um de seus quatro filhos quase foram atropelados, também em uma tentativa de o intimidar. Após os fatos, ele e a família tiveram de se mudar para uma cidade no interior de São Paulo.

Ele negou, entretanto, ter sofrido qualquer ameaça de integrantes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investigou os assassinatos. "Eu não sou doido. Doido é quem rasga dinheiro, e eu nunca rasguei dinheiro", disse o segurança, rejeitando as insinuações, divulgadas à época, de que ele sofreria de problemas mentais.

Defesa tenta desqualificar

Já a defesa tentou desqualificar o depoimento do vigia, usando fotografias noturnas da rua onde ficava a residência do casal e um mapa, em uma tentativa de demonstrar que Andrade não teria sido capaz de identificar Gil Rugai por estar muito escuro. Os advogados do réu também questionaram a capacidade intelectual da testemunha, que disse não ter completado o ensino fundamental e afirmou não saber ler e escrever muito - a defesa pediu que ele falasse qual era a cor da bolsa de uma pessoa no plenário, o que ele se recusou a fazer. 

O julgamento de Gil Rugai já começou com clima de tensão entre os advogados que representam o ex-seminarista e o Ministério Público, responsável pela acusação. Logo no início, o promotor Rogério Leão Zagallo pediu que o plenário do Fórum fosse evacuado para que o vigilante fosse ouvido apenas pelos jurados - o que provocou indignação da defesa.

"Por que esse mistério? Não tem nenhuma razão para que a testemunha não se sinta protegida aqui", afirmou o advogado Thiago Gomes Anastácio, responsável pela defesa. Por fim, o juiz Adilson Paukoski Simoni rejeitou o pedido.

Outro bate-boca ocorreu durante o interrogatório feito pela Promotoria. Quando Zagallo questionava o vigia sobre o horário em que ele ouviu os tiros, a defesa demonstrou irritação com as perguntas, por considerar que o promotor tentaria induzir a testemunha.

"Vocês acham que eu vou dizer pra ele o horário dos tiros? Vocês acham que eu sou inconsequente? Da minha parte, vocês podem esperar ética", rebateu o promotor, que foi retrucado pela defesa. "Da nossa parte também", rebateu Anastácio.

Além de Andrade, outras 14 testemunhas foram convocadas para depor, sendo outras quatro de acusação, nove de defesa e uma de juízo (convocada pelo juiz). Entre as testemunhas, estão os peritos que analisaram as cenas do crime, o delegado que apurou o caso na época, um amigo da vítima e o irmão do réu, Leo Rugai, convocado para depor a favor do irmão.

O júri pode durar até cinco dias, mas a expectativa é que acabe até a próxima quarta-feira (20). Gil Rugai será a última pessoa a depor em plenário. Ele sempre negou as acusações - a mãe dele, Maristela Grego, assiste ao julgamento da plateia.