ASSINE
search button

Fazendeiro é acusado de encomendar a morte de cacique 

Guarani Kaiowá Ládio Veron, do MS, denuncia ameaça de morte a ele e sua família

Compartilhar

O cacique guarani Kaiowá Ládio Veron, da Aldeia Taquara, até então, localizada no Mato Grosso do Sul, na região de Juti e Cáraapo, denuncia que ele e sua família estão sob forte ameaça de morte. Veron acusou o fazendeiro Jacinto Honório da Silva Filho de contratar o indígena Moacir Demiter Morales, para realizar nesta quarta-feira (30) a execução do próprio cacique da aldeia Ládio, do seu irmão Araldo Veron e do vice-cacique, Francisco Gonçalves.

Atualmente, a terra indígena da Taquara é ocupada pela Fazenda Brasília do Sul, fazenda do suposto mandante do crime, Jacinto Honório. As 64 famílias indígenas, que correspondem a cerca de 280 índios, estão morando em um acampamento próximo ao Rio São Domingos, na estrada do município de Juti.

O indígena Moacir também reside no acampamento dos índios de etnia guarani Kaiowá e, segundo Ládio, ele teria recebido na última terça-feira (29) a parcela final do pagamento, no valor de R$ 1.900, feito por Jacinto, para realizar os assassinatos. Conforme conta o cacique, a própria sogra de Moacir, Carmem Almeida, que também é tia de Ládio, o procurou para avisá-lo de que Moacir teria sido contratado para matar ele, seu irmão e o primo.

“O Jacinto já havia dito que não entregaria a fazenda antes de matar uns três indígenas. Ou seja, todos os que restam da família Veron. Ele matou o meu pai em 2003 e agora quer nos matar”, denuncia o cacique.

Jacinto também seria o mandante do assassinato do pai de Ládio

Em janeiro de 2003, o então cacique guarani Kaiowá Marcos Verón, de 73 anos foi morto após ele, Ládio e outros índios terem sido sequestrados e torturados por uma quadrilha, a mando de Jacinto Honório. No ato do crime os jagunços tentaram queimar vivo o filho de Marco, o cacique Ládio Veron, que conseguiu sobreviver. Oito anos depois de sua morte, alguns acusados de matar o cacique Marcos Verón foram condenados por tortura, sequestro e quadrilha, mas não por homicídio. Apesar disso, nenhum deles foi preso.

O Tribunal de Júri foi transferido para São Paulo por decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região em 2009, pelo fato dos índios sofrerem racismo e ainda por entenderem que o julgamento poderia ser influenciado pelo poder econômico e social do proprietário da fazenda, Jacinto Honório da Silva Filho.

Polícia Federal diz que vai abrir inquérito, mas não oferece proteção aos índios

O cacique Ládio Veron contou que na terça-feira à noite recebeu no acampamento a polícia da cidade de Navitaraí, que veio investigar a denúncia feita em boletim de ocorrência por Ládio, mas apesar disso, não prenderam, nem ofereceram proteção aos índios.

De acordo com Ládio, nesta quarta (30), policiais federais vindos de Brasília e representantes da Funai estiveram no acampamento. “Vieram três camburões cheios, para prender o Moacir, mas ele conseguiu fugir e a polícia o buscou mato adentro, para capturá-lo, sem sucesso”, lamentou Veron.

Ládio disse ainda que os federais afirmaram que a polícia de Navitaraí deveria já tê-lo prendido na noite anterior.

Briga por terra indígena

Desde 2001 que o povo guarani Kaiowá espera da Justiça a homologação das terras. A área total demarcada é de 9700 ha, porém os indígenas só ocupam 90 ha de suas terras. 4300 ha é monocultura de soja e 4700 ha monocultura de cana.

A briga por terras entre indígenas e fazendeiros faz de Mato Grosso do Sul o estado com maior índice de violência contra os índios.