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Donos da boate Kiss têm em comum badalação e problemas com a polícia

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A Boate Kiss foi inaugurada em 31 de julho de 2009 para servir de palco para as pretensões artísticas do único proprietário na época, Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, mas acabou virando, no último domingo, o palco de uma tragédia de magnitude inimaginável, com a morte de 235 pessoas. Há cerca de um ano e meio, Mauro Hoffmann, conhecido como barão da noite de Santa Maria, se associou a Kiko, transformando uma boate rejeitada em uma das melhores casas noturnas da cidade. 

Apesar de serem parceiros de negócios, Kiko e Maurinho, em comum, só têm a experiência de trabalhar na noite e os problemas com a polícia por agressões e estelionato.

Kiko é conhecido pela sua banda - a Projeto Pantana, da qual era vocalista - e pelo perfil baladeiro. Já Mauro é um empresário experimentado, que entrou no negócio para tirar a Kiss do buraco, com a experiência de quem conseguiu manter sua primeira boate, a Absinto, no mapa da vida noturna da cidade por mais de 10 anos, além de administrar restaurantes, lojas e choperias.

Kiko nasceu e estudou em Santa Rosa, mas, mesmo não sendo de Santa Maria, sua família é bem conhecida pelos empreendimentos que construiu, inclusive o prédio onde ele mora, e por administrar a rede GP Pneus, que possui filiais até no Nordeste do País.

Já Maurinho era um empresário respeitado e que aproveitava as coisas boas da vida, como festas, jantares e cerveja. Filho de uma funcionária pública, ele ficou conhecido pelo sucesso que a Absinto consolidou e, há cerca de um ano e meio, se associou a Kiko para levantar a Kiss. Também é dono de uma cervejaria e de um restaurante.

Kiko, segundo relatam pessoas próximas, abriu a Kiss para sua banda. "É o que ele costumava dizer", diz uma pessoa que conhecia bem o empresário. No entanto, no começo a boate teve muitos problemas com a entrada de adolescentes, o que fez com que a casa fosse apelidada de "Kids". Foi quando Mauro entrou em cena para resgatar a fama e o prestígio do local.

No entanto, antes mesmo da chegada de Mauro, a Kiss já passava por constantes reformas, que eram feitas para repaginar a casa. Com a chegada de Mauro, as reformas continuaram, e a boate ganhou fama e prestígio na cidade, atraindo principalmente universitários. Segundo relatam os próprios funcionários, apesar de os ingressos custarem entre R$ 15 e R$ 25, nas festas - eram realizadas cerca de três ou quatro por semana -, quem frequentava a Kiss não gastava menos de R$ 200 por noite, sendo que em algumas dessas festas Kiko era visto se divertindo entre os clientes. As grandes atrações da boate, que foi palco da tragédia, eram os shows de bandas de sucesso regional, como a Gurizada Fandangueira - que tem um de seus integrantes apontado como o causador do incêndio -, e também nomes mais famosos, como Dado Villa-Lobos, da Legião Urbana. 

Mauro tem o perfil de empresário investidor, papel que teria na Kiss e nos demais negócios. Os rumores na cidade dão conta de que ele estaria planejando investir R$ 1,5 milhão para abrir uma nova casa que ocuparia o lugar da Absinto, que estaria tendo problemas com o shopping onde está localizada.

Segundo a polícia, Mauro já foi alvo de processos por estelionato nos anos 1990. Kiko, por sua vez, teria ordenado que seguranças agredissem clientes da boate, em processo datado de 2011. Uma das vítimas teria ficado com o cotovelo quebrado. "Existe um processo criminal na 4ª Vara de Santa Maria no qual um dos proprietários da casa, Kiko, é processados por agressão no procedimento apurado no final de 2011. A agressão é dos seguranças, sendo que uma das vítimas mais graves teve o cotovelo quebrado, mas ele teria incentivado os seguranças", disse o promotor José Dutra, do Ministério Público de Santa Maria.

Incêndio na Boate Kiss

Um incêndio de grandes proporções deixou mais de 230 mortos na madrugada deste domingo em Santa Maria (RS). O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo iniciou com um sinalizador lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária.

Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pessoas foram pisoteadas. "Na hora que o fogo começou foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair", contou. O local foi interditado e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.

A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e parentes dos mortos.