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Dirceu ataca o STF e garante que sua condenação foi um erro

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Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos e 10 meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha, o ex-ministro petista José Dirceu, diante de uma plateia de aproximadamente 800 pessoas que lotou o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, convocou 'os seus' para uma cruzada que, segundo ele, pretende provar que a mais alta corte da Justiça brasileira errou ao condená-lo.

Um dos participantes do encontro, chamado de "O STF também erra", o jornalista Raimundo Pereira, editor da revista "Retrato do Brasil", classificou o julgamento do Mensalão como 'Medieval'.

"Em vez de provar a materialidade dos crimes da suposta quadrilha, o STF foi em busca dos criminosos. Sequer conseguiram provar que houve desvio de dinheiro do Banco do Brasil. Os autos do processo são uma bagunça, ilegíveis. Afirmam que houve desvio de RS 73,8 milhões. Mas ficou provado que esse dinheiro foi empenhado em patrocínios esportivos e outros eventos", disse o jornalista, que citou o apoio à dupla de vôlei de Adriana Behar e Shelda, o Brasil Open de Tênis e a exposição cultural 'África', que ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) no Rio, como exemplos de eventos nos quais o dinheiro do BB foi aplicado.

Denúncia inepta

De acordo com o ex-ministro da Casa Civil, as denúncias que pesam contra ele são 'ineptas e vazias'.

"O julgamento começou há oito anos, quando o Roberto Jefferson, em uma entrevista de jornal, denunciou o mensalão. Sem prova alguma, começamos a ser julgados naquele instante”. Lembrou que seu processo de cassação pela Câmara foi um erro pois no período da denúncia de Jefferson ele estava licenciado como deputado. Por isto, inclusive, não deveria ser julgado no Supremo. Também considerou irregular a Câmara continuar a analisar o caso após ter sido retirada a representação contra ele pelo denunciante.

“A denúncia é inepta e vazia", disse, lembrando que Jefferson foi cassado por não ter provado que deputados tiveram seus votos comprados pelo mensalão, enquanto ele foi cassado sobre a acusação do mensalão que o denunciante não provou existir.

 "Estamos lutando há oito anos, e vou continuar. Vou percorrer o Brasil numa luta longa, que está apenas começando. Vou mostrar que houve erro. Não fosse este o caso, nós não estaríamos aqui. O STF ignorou o amplo direito de defesa, não permitiu a defesa contraditória".

Desvios inexistentes

As maiores acusações contra os ministros do Supremo foram de os acusarem de desvio de dinheiro público quando isto não ocorreu. Dirceu apega-se aos dados levantados por Pereira e pelos advogados de defesa, demonstrando que não houve desvio de dinheiro público, o que esvaziaria o processo. Também acusou o STF de fazer um julgamento político, deixando justamente para as semanas que antecederam o primeiro e o segundo turno da última eleição a apreciação da acusação contra o chamado “núcleo político”.

Por tudo isto, ele considera que foi um julgamento de exceção, político. No qual os ministros do STF aceitaram a pressão da imprensa. Chegou a afirmar que não eram eles os únicos réus do processo, mas o governo Lula e o PT. Numa alfinetada contra a 'direita', Dirceu disse que sua condenação no STF foi a primeira derrota do PT desde 2002, ano que elegeu Lula presidente da República. 

"Temos de enfrentar a ofensiva que a direita faz contra nosso projeto. Devemos estar preparados para o enfrentamento político. Eles querem nos desconstruir, criminalizar o PT e fazer do partido uma organização criminosa", analisou. "O julgamento é o maior crime da história do país. A Suprema Corte suspendeu toda sua pauta para julgar apenas este caso. Ter começado às vésperas das eleições é um descaramento. É uma falta de pudor acreditar em coincidência".

Ao final da sua intervenção, sempre muito aplaudido pela assistência nitidamente dominada por petistas, o ex-ministro fez referência à sua condenação de 10 anos e 10 meses, dos quais terá que cumprir um sexto da pena (um ano e dez meses) em regime fechado e outro sexto em regime semiaberto, e prometeu:

“Pode ser regime fechado, pode ser em segurança máxima ou em uma solitária, mas não irão me calar”.

Percorrendo o páis

Nesta sexta-feira, Dirceu seguirá para Belo Horizonte, onde dará seguimento aos atos de protesto contra o resultado do julgamento do Mensalão. Segundo seus assessores, na próxima semana ele vai para Brasília. Após o carnaval, o ex-ministro passará por capitais do Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

"Esses encontros não são uma afronta ao Supremo. É um serviço pela democracia. Não vou baixar a cabeça. Não vou me intimidar"

Outro condenado na Ação penal 470 participou do encontro. Ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, chorou quando a mulher dele, Andrea Haas, interrompeu José Dirceu e chamou a atenção dos petistas.

"Nossa família foi aniquilada. Somos os pangarés que ajudaram a eleger Lula. Desde a universidade, sempre trabalhamos pelo PT. Agora, esperamos que não sejamos esquecidos como até hoje estamos. Nossa luta vai ser por justiça", manifestou-se ela, em uma fala que emocionou seu marido.

Também participaram do debate Fernanda Carísio, integrante da Executiva do PT-RJ e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio; o advogado Adriano Pilatti, professor da PUC-Rio; o jornalista Altamiro Borges, coordenador do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé e a colunista social Hildergard Angel.