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Unicamp: não discutimos adesão ao Enem enquanto erros persistirem

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Enquanto boa parte das instituições de ensino superior do País aderiu ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de ingresso em seus cursos de graduação, as três universidades estaduais de São Paulo - USP, Unicamp e Unesp - ainda resistem em utilizar a prova. Para o coordenador da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp, Maurício Kleinke, a ampliação do peso do Enem só será discutida dentro da universidade se todos os problemas na segurança do exame forem resolvidos.

"Por enquanto a universidade não tem discutido ampliar a participação do Enem. Assim que ele se estabilizar, que não houver mais nenhum problema, acredito que possa voltar à pauta", disse Kleinke. Atualmente, a Unicamp utiliza a nota do Enem para compor apenas 20% do resultado da primeira fase do vestibular. Questionado se fatores políticos - o Estado de São Paulo é comandado pelo PSDB, principal partido de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) -, poderiam interferir nessa decisão, ele disse que antes de se discutir a política é preciso resolver problemas técnicos.

"É complicado fazer essa relação, porque tem uma questão técnica que é muito mais importante. Não conseguiram cumprir o calendário proposto, não conseguiram resolver os problemas. Enquanto essa parte técnica não for solucionada, não tem como discutir um peso maior para o Enem", afirmou. Segundo ele, uma das maiores dificuldades para se realizar um exame como o Enem é o porte da prova, para quase 6 milhões de estudantes.

Devido às sucessivas falhas, o Ministério da Educação reforçou a segurança para garantir que novos problemas não prejudiquem a credibilidade do exame. Em 2009, houve o vazamento da prova na gráfica responsável pela impressão. Já em 2010, trocou-se o cabeçalho de um dos cartões-resposta e provas do caderno amarelo tiveram falhas de encadernação. No ano passado, estudantes de um colégio cearense tiveram acesso antecipado a algumas questões, por causa do vazamento do pré-teste.

Para a diretora acadêmica da Fundação Vunesp, responsável pelo vestibular da Unesp, outro problema do Enem é o calendário incompatível com as datas dos principais vestibulares de São Paulo. "Já convidamos o Inep (Instituto de Pesquisas Educacionais, responsável pela aplicação do exame) para acompanhar as reuniões de definição das datas dos vestibulares das principais universidades de São Paulo, mas por causa de problemas operacionais, não tivemos essa participação. No próximo ano vamos convidar de novo e vamos ver o que acontece", disse Tânia Azevedo.

Segundo ela, as instituições têm interesse em usar a nota do Enem em parte da nota de suas seleções, mas como o Enem acontece próximo ao final do ano e o processo de correção de quase 6 milhões de provas é demorado, acaba se tornando inviável. Na Unesp, o exame é empregado apenas para compor 10% da nota da prova de conhecimentos gerais. "Acho que a realização de duas provas ao ano, como havia sido proposto pelo MEC, poderia resolver isso", disse ela ao se referir à ideia apresentada no ano passado de realizar mais de uma edição em 2012, o que acabou não se efetivando.

O coordenador do vestibular da Unicamp concorda que é preciso ampliar o número de edições do Enem ao ano, não só para beneficiar o calendário das universidades, mas também para evitar vazamentos. "Com mais edições, o número de candidatos diminuiria e a logística seria mais fácil. Mas o ideal mesmo é que o exame fosse da mesma forma que é hoje para tirar a carteira de motorista. Vai lá, na universidade no caso, marca a data e faz a prova", sugere Maurício Kleinke.

'Enem serviria como primeira fase' 

Para Kleinke, é difícil que se efetive a proposta do Ministério da Educação (MEC) de substituição de todos os vestibulares no País pelo Enem. Segundo ele, o exame nacional funcionaria de forma muito mais eficiente como uma primeira fase da seleção de cada universidade. "Algumas instituições já fazem isso: substituíram a primeira fase do vestibular pelo Enem, mas mantêm a segunda etapa. Isso é positivo, principalmente para cursos mais disputados, como medicina. Acho que o Enem cumpre bem sua função em cursos de baixa e média concorrência, mas nas graduações mais disputadas é preciso ter mais uma etapa", disse.

A diretora da Vunesp também critica a dificuldade de selecionar estudantes em cursos concorridos com base no Enem. "Construímos o nosso vestibular levando em conta que em alguns cursos o estudante precisa acertar 20 questões e, em outros como medicina, de 75 a 80 questões. Precisamos medir o grau de dificuldade para atender a todos os perfis. No Enem, o fator sorte acaba prejudicando os alunos de cursos mais competitivos porque, muitas vezes, o que acaba pesando é se o candidato está mais cansado ou se errou ao passar para o gabarito".

Tanto Vânia quanto Kleinke, no entanto, elogiaram a participação crescente das universidades na elaboração das questões do Enem e também na capacitação dos avaliadores o que, segundo eles, deve qualificar o certame. Sobre as expectativas para as provas do final de semana, eles afirmaram que esperam que dê tudo certo. "Espero que eles (MEC e Inep) consigam realizar a prova sem nenhum percalço logístico, faria muito bem para o País como um todo já que a prova envolve tantas pessoas".

A Universidade de São Paulo (USP) se limitou a informar, por meio de sua assessoria, que não adota o Enem por causa do calendário incompatível com as datas da seleção da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest). Procurado pelo Terra desde que tomou posse, em fevereiro, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, novamente não respondeu à solicitação de contraponto sobre as críticas ao exame.

Enem 

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 pelo governo federal com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação básica. A partir de 2009, o teste passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para ingresso no ensino superior.

Neste ano, as provas serão aplicadas nos dias 3 e 4 de novembro, sábado e domingo, em todo o País, a partir das 13h (pelo horário de Brasília). No primeiro dia, o candidato resolverá as questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias e de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, com duração de 4 horas e 30 minutos, contadas a partir da autorização do aplicador para início das provas. No segundo dia, serão realizados os testes de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, e Redação, com duração de 5 horas e 30 minutos, igualmente contadas a partir da autorização. O participante só poderá levar o caderno de questões ao deixar em definitivo a sala nos últimos 30 minutos. O gabarito tem divulgação prevista para 7 de novembro e os resultados, para 28 de dezembro.

Desde o dia 10 de outubro, os cartões de confirmação da inscrição contendo número de registro, data, hora e local de realização das provas, indicação de atendimento diferenciado e/ou específico, opção de língua estrangeira e solicitação de certificação (quando for o caso) estão sendo remetidos por via postal para o endereço informado pelo participante. As informações também estarão disponíveis no site https://sistemasenem2.inep.gov.br/. É obrigatória a apresentação de documento de identificação original com foto para a realização das provas.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo exame, recomenda que todos os candidatos compareçam ao local de realização das provas até as 12h (de Brasília). Participantes guardadores de sábado serão acomodados em salas e aguardarão até as 19h para iniciarem as provas no primeiro dia.