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Apagões: falta de investimento e manutenção podem ser a causa

Para diretor da Coppe, é preciso dar mais atenção aos procedimentos de engenharia

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Os apagões desta quinta-feira (26), que deixaram nove estados das regiões Norte e Nordeste do país às escuras, podem ter causa na redução do investimento e na falta de manutenção do sistema de energia elétrica. Essa é a avaliação de especialistas do setor que falaram com o Jornal do Brasil sobre o assunto. 

O diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli, aponta que a falta de manutenção no sistema de transmissão de energia pode ser uma das causas dos recentes apagões. Para ele, com o novo plano de redução da tarifa energética, a situação poder piorar. 

Segundo ele, apesar da remuneração de usinas amortizadas e da redução dos encargos ao consumidor previstos na Medida Provisória 579, a redução da receita das hidrelétricas, que, de acordo com o professor, vem dos altos tributos para o setor, pode inviabilizar o funcionamento das unidades. “Essa MP poderá ter um efeito negativo. Ela pode ser corrigida e garantir uma receita para as empresas funcionarem. A engenharia é supervisionar o sistema inteiro, não em cada usina. É preciso ter um sistema capaz de fazer correções de previsão e correção de nível nacional”, analisou. 

Atenção à engenharia

Pinguelli, que já esteve à frente da Eletrobras no governo do ex-presidente Lula, entende que o sistema precisa dar mais atenção à engenharia, em operação e manutenção. “Às vezes, é uma decisão errada (que causa o mau desempenho do sistema). Nesse caso, era uma linha da Cemig, numa subestação num entroncamento no qual chegam linhas do Norte, Nordeste e Sudeste, um ponto crucial”, destacou. “O sistema precisa dar mais atenção à engenharia, que não é devidamente considerada e tem perdido competência”.

O engenheiro acredita que “a predominância da questão dos contratos, das negociações, das oportunidades de negócios” está dominando a gestão do sistema elétrico. “A energia elétrica não pode se reduzir a este aspecto, tem que ser vista do lado da engenharia. O sistema brasileiro é muito complexo”, finalizou. 

Confiabilidade

O próprio ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, afirmou, nesta sexta-feira (27), que as ocorrências em série de desabastecimento de energia “não são normais” e admitiu que o sistema nacional nacional reduziu seu nível de confiabilidade. 

"Uma sequência de eventos dessa natureza não é normal. Isso não existe, não é assim", informou. "O sistema brasileiro foi planejado para operar em determinado nível de confiabilidade. Devia ser alterado esse nível. Quando você tem indicativos, como a redução da confiabilidade, é preciso tomar as ações necessárias para restabelecer a confiabilidade projetada".

A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), presidente da Comissão de Serviços e Infraestrutura da Casa, disse que a questão tem sido discutida "incansavelmente" em audiência pública e com representantes do governo. Segundo ela, um dos gargalos do desenvolvimento do Brasil é o baixo investimento no setor elétrico. 

"Aliado a isso, o setor exige planejamento e desempenho técnico de qualidade. O Governo não pode encarar a crise energética com timidez ou indiferença. É preciso que as necessidades do setor elétrico sejam atendidas o quanto antes, para evitar que regiões do Brasil continuem a ter uma sucessão de apagões. Um país que vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas não pode correr o risco de ficar às escuras”, afirmou Lúcia.

Investimentos

Mikio Kawai Jr, diretor executivo da Safira Energia, avalia que o investimento na manutenção e no reforço das linhas de transmissão e distribuição está sendo perdido, especialmente por conta das alterações da MP 579. “Obviamente, se você não tem muito dinheiro para colocar nas linhas, a qualidade do serviço diminui e isso tende a continuar e piorar, até por conta da mudança na MP 579, ainda em setembro, que induz também a um rebaixamento de investimento nas áreas de transmissão e distribuição”.

Segundo ele, a alteração na Medida Provisória rompeu com o modelo vigente no setor elétrico. Com isso, o investidor acaba decidindo não aplicar o recurso. “As concessões de geração hidrelétrica foram antecipadas forçadamente com regras que os investidores não estão prevendo, com um cálculo que se assemelha a uma indenização para os concessionários", avalia o economista.