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Morre, aos 83 anos, o jornalista Luiz Mario Gazzaneo

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Morreu na manhã desta sexta-feira (12), aos 83 anos, o jornalista Luiz Mario Gazzaneo no Rio de Janeiro. Segundo a família, Gazzaneo sofreu um infarto na madrugada de domingo (7) para a segunda-feira (8) e estava internado no Instituto Nacional de Cardiologia, em Laranjeiras, Zona Sul da cidade. O corpo do jornalista será cremado, segundo seu desejo.

Gazzaneo ainda sofreu duas cirurgias desde a internação no hospital. Segundo seu filho, o também jornalista Marcelo Gazzaneo, ele faria 84 anos no dia 22 de outubro deste ano. O velório do será na capela A do cemitério São Francisco Xavier, no Caju, e a cremação, às 13h de sábado (13).  

Gazzaneo iniciou sua carreira no jornal Noticias de Hoje, que circulava na capital de São Paulo no começo dos anos 50. Posteriormente, trabalhou no semanário Novos Rumos, do PCB e na Folha da Semana, o primeiro jornal de oposição criado logo após o golpe militar de 1964. Mais tarde, trabalhou no jornal O Globo e no Jornal do Brasil, onde atuou por muitos anos como chefe de reportagem. 

Caráter 

O jornalista, notório membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde 1944, combateu os regimes autoritários do Estado Novo e da Ditadura Militar. No JB, Gazzaneo trabalhou como chefe de reportagem durante muitos anos. Segundo Fritz Utzery, companheiro dos tempos de JB, ele era uma "pessoa extraordinária e exuberante". 

"Gazzaneo era uma pessoa extraordinária, muito exuberante. Mas era uma pessoa incapaz de prejudicar, de fazer qualquer coisa que fizesse mal a alguém. Foi um profissional extremamente bom, sabia o que fazia. Era um velho militante politico, comunista. Uma pessoa com integridade à toda prova. Só posso dizer que, durante muitos anos de jornalismo, foi uma figura excepcional. Se eu pudesse voltar atrás, trabalharia de novo com ele quantos anos fossem. Gazzaneo tinha visão jornalística e todas as qualidades humanas que se pode imaginar num profissional", afirmou Utzery.

Utzery relembrou a participação de Gazzaneo no comando das reportagens do episódio que ficou conhecido como o Atentado do Riocentro. "Ele tinha o faro de repórter. Imediatamente, mobilizou quem tinha que mobilizar e contribuiu muito para a cobertura do fato", destacou. "Sem sombra de qualquer duvida, um dos melhores caracteres que já conheci".

Outro companheiro de JB, Sérgio Fleury ressaltou o caráter de Gazzanero. "O Luigi Mario Gazzaneo, o nosso Gazza, era uma figuraça. Sempre de cigarrinho entre os dedos, foi um jornalista correto, íntegro - coisa rara nos dias de hoje -, fiel à sua honestidade profissional, competente, rigoroso, mal-humoradamente doce, professor quando precisava corrigir, solidário quando precisava colaborar. Foi um jornalista completo no apurar e no escrever. Era um senhor copydesk, correto e objetivo, politicamente isento quando o que estava em jogo era a veracidade da notícia. Um comunista de carteirinha que colocava o ser humano à frente que qualquer ideologia. Enfim, um amigo dos amigos que, duvido, tivesse algum inimigo. Deixa muitos exemplos e muita saudade", disse Fleury. 

PCB e Gramsci  

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azedo, que foi companheiro de Gazzaneo no PCB, afirmou que sua morte faz o jornalismo brasileiro perder "em densidade profissional". 

Segundo Azedo, o jornalista era também um grande intelectual, um dos maiores comentadores e estudiosos da obra do sociólogo italiano Antonio Gramsci. "Lembro de Gazzaneo como um grande companheiro. Um jornalista extraordinário e um intelectual de altíssimo porte, que teve papel destacado, tal qual Carlos Nelson Coutino e Leandro Konder, na difusão das ideias de Gramsci no Brasil. Era um homem super qualificado, tradutor de italiano e teve papel muito importante na segunda metade dos anos 60 na revelação da biografia e da obra do pensador italiano", destacou Azedo. 

Pioneirismo no IBGE

O presidente da ABI também destacou o último trabalho que Gazzaneo exerceu no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Azedo, o jornalista contribuiu para abrir o instituto à imprensa, tendo atuação "muito fecunda, inclusive no jornalismo brasileiro". 

Foi com Gazzaneo à frente da assessoria do IBGE que as pesquisas realizadas pelo instituto ganharam nova dimensão e destaque nas páginas dos jornais e noticiários de televisão e rádio. O jornalista instituiu a divulgação das pesquisas, sob embargo, dias antes delas serem anunciadas oficialmente, permitindo aos repórteres que melhor destrinchassem as informações e dados, inclusive traduzindo em exemplos vivos as informações apresentadas em números e gráficos.