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CPI do Cachoeira: após suposto acordo, parlamentares querem quebra de sigilo

Políticos que integram CPMI teriam feito acordo intrapartidário para blindar envolvidos

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A CPMI do Cachoeira, que investiga as ligações corruptas entre o contraventor Carlinhos Cachoeira, a empreiteira Delta Construções, políticos e empresários, caminha para seu fim - o prazo para o término é no final deste mês - e preocupa a falta de resultados apresentada pelo parlamentares. Nos bastidores, um possível acordo entre PT, PSDB e PMDB tentaria blindar os políticos envolvidos no esquema e dificultar a investigação. 

Para parlamentares ouvidos pelo Jornal do Brasil, se comprovado esse acordo, é preciso denunciar a atitude. Eles também se mostraram otimistas com a quebra de sigilo de empresas fantasmas ligadas à Delta, que será votada na próxima semana. 

Conforme apurou o Informe JB, as tendências políticas dentro da Comissão são divididas. Há três correntes de pensamento, duas defendendo o encerramento dos trabalhos e uma terceira lutando pela sua prorrogação. Os parlamentares que trabalham na CPMI, contudo, chamam a atenção para os números que as investigações podem revelar. Maior escândalo político recente, o mensalão, atualmente sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), movimentou cerca de R$ 150 milhões. Segundo políticos integrantes da CPI, os valores, somente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para a Delta chegam a R$ 400 milhões.

Para se apurar os fatos, é preciso que os sigilos bancários de empresas ligadas à Delta sejam quebrados. Na próxima semana, haverá uma reunião administrativa da CPMI, na qual será feita votação, nominal e aberta, sobre essa quebra de sigilo.

"Escândalo"

Para o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), que junto a outros parlamentares forma um grupo independente dentro da CPMI, afirmou que não acredita em um acordo entre os partidos para blindar políticos possivelmente envolvidos no esquema. “Não há acordo, mas se essa informação for verdadeira é um escândalo. A investigação não depende apenas da CPMI, mas também do Ministério Público Federal (MPF), que receberá todas as informações sobre a quebra de sigilo das empresas fantasmas ligadas à Delta”, disse.

Segundo Miro, como já houve uma decisão de repassar para o MPF todas as quebras de sigilo, isso permitirá que o órgão dê continuidade à investigação e até a aprofunde. Na próxima semana, segundo contou o deputado, haverá uma reunião administrativa da CPMI, e nela se votará a decisão de quebra de sigilo de 12 empresas fantasmas que atuaram para na lavagem de dinheiro da Delta, recebendo essa verba e passando-a adiante.

No entanto, o pedetista ponderou que não se pode impedir que os partidos dialoguem entre si. "O que se pode fazer é denunciar", disparou.

O deputado se mostrou otimista com o futuro das investigações porque, na reunião, os votos serão nominais e abertos. “Quem vai querer, em público, negar a quebra do sigilo? Vão ter coragem? A minha expectativa é de que o sigilo deva ser quebrado e investigado”, adiantou Miro. 

Corrupção sem precedentes

Também integrante do grupo independente, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ressaltou que o julgamento do mensalão e seu resultado impactam de forma positiva a opinião pública sobre a corrupção. Segundo ele, o esquema deflagrado em 2005 movimentou R$ 150 milhões, mas só nas transações entre o DNIT, a construtora Delta e empresas laranjas a soma chega a R$ 400 milhões.

“Quando apresentamos requerimentos desse grupo para quebrar o sigilo das 12 empresas, isso pode levantar um esquema de corrupção muito maior do que o do mensalão”, destacou Lorenzoni.

Segundo ele, a chegada do ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot, coincide com a ascensão da Delta nos contratos públicos. “Em determinado momento, a Delta chegou a faturar mais, só em contratos com o DNIT, do que as cinco maiores empreiteiras do Brasil. A entrada da Delta, por meio da empresa Sigma, nas operações da Petrobras não foi uma coisa qualquer”, avaliou.

Petrobras e Sigma

Lorenzoni conta que desde o começo da CPMI tenta convocar para depor os ex-sócios da Sigma Engenharia, José Augusto Quintella e Romênio Marcelino Machado, o que nunca foi aceito pelo relator, Odair Cunha (PT-MG). Segundo ele, os ex-donos da Sigma deram declarações e brigaram com Fernando Cavendish, ex-dono da Delta, após o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, ter sido contratado como consultor e por conta da aproximação da empresa em operações da estatal Petrobras. “A Delta não tinha expertise para atuar nesse segmento. Por que o relator foge do meu requerimento? Porque isso vai revelar problemas gravíssimos e até uma das possíveis causas de a Petrobras estar tão mal”, considerou.

O deputado defendeu a quebra dos sigilos como forma de se descobrir quem foram os destinatários da verba desviada, e assim poder punir com precisão os contraventores.

“Acho muito curioso que no ano de 2010, um ano eleitoral, a Delta tenha recebido o dobro, em verbas públicas, do que as cinco maiores construtoras do país. De março a setembro deste mesmo ano, ela movimentou R$ 170 milhões para empresas laranjas. Para onde foi esse dinheiro? O sigilo precisa ser quebrado para se chegar ao destinatário deste dinheiro. 98% dos recursos da Delta vieram do Estado”, questionou Lorenzoni. 

Estudos ao MPF

Caso seja confirmado um acordo de bastidores entre os partidos para blindar políticos envolvidos no esquema do contraventor Cachoeira, o deputado afirmou que os denunciará oficialmente na CPMI. Além disso, garantiu que entregará ao MPF uma série de estudos independentes sobre o esquema, feitos pelo grupo que integra com outros parlamentares.

“Vamos preparar todos os estudos de maneira independente, mantivemos equipes trabalhando ao longo da CPMI. Essas análises serão condensadas e levadas ao Ministério Público”, revelou.  

Vergonha

O senador Pedro Taques (PDT-MT) criticou severamente a possibilidade de os partidos protegerem políticos envolvidos em casos de corrupção. Segundo ele, é preciso “trabalhar mais os documentos” da CPMI. “Se isso for verdade, é uma vergonha o partido ser usado para proteger criminosos”, fulminou.

Embora tenha dito que é avesso às projeções, Taques afirmou que votará pela prorrogação da CPMI e pela quebra de sigilo das empresas fantasmas por acreditar que “ainda será encontrada muita coisa" envolvendo representantes de partidos políticos às operações de Carlos Cachoeira. “É a imprensa que está falando desse acordo. Não posso fazer juízo, mas não concordo com nenhum acordo. Espero que sim (sejam quebrados os sigilos), mas não posso adivinhar o resultado”, ponderou.