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Greve na aduana deixa estivadores sem trabalho

Categoria pede sensatez no trato da greve entre governo e sindicatos de servidores

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A greve dos servidores públicos federais tem afetado diretamente as atividades das chamadas aduanas: portos, aeroportos e zonas de fronteira. No Porto do Rio de Janeiro, os estivadores enfrentam muitas dificuldades devido às limitações de trabalho impostas pela greve.

O círculo vicioso ocorre da seguinte forma: as operadoras que trabalham nos portos, devido às greves dos fiscais da Agência Nacional da Vigilância Sanitária( Anvisa), têm dificuldades para liberar os navios atracados. Os estivadores e outros trabalhadores autônomos do porto, que só trabalham quando há navios atracados, ficam de mãos atadas. 

A atuação da Anvisa é necessária na liberação de navios que vão atracar. Os fiscais são a primeira autoridade a checar as condições sanitárias das embarcações, de saúde dos tripulantes e na avaliação das mercadorias como alimentos e remédios. Outra responsabilidade é verificar se o navio não vem de áreas com doenças altamente transmissíveis, como ocorreu com a influenza A (H1N1) - a gripe suína . 

Segundo Claudir Macedo, presidente do Sindicato dos Estivadores do Rio de Janeiro, o prejuízo sofrido pelos trabalhadores é muito alto." Nós não temos dia de trabalho fixo, dependemos dos navios que estão nos portos. Por causa dessa greve, há vários dias que os estivadores não trabalham, e ficam sem levar dinheiro para casa. É muito complicado mesmo", desabafou Macedo.

Luiz Henrique Vasconcellos Carneiro, diretor da MultiRio, que opera terminais marítimos, mensurou o atraso.

"Ultimamente, os navios até estão atracando, mas pode haver uma demora de até 24 horas para a liberação da Anvisa. Isso prejudica muito os armadores e estivadores, porque afeta diretamente o ganho financeiro deles".

Prova da queda da demanda por trabalho dos estivadores é o galpão do Órgão Gestor de Mão de Obra do Rio de Janeiro (OGMO-RJ), que faz o contato entre os donos de navios e a força de trabalho. Ociosos e ansiosos por uma oportunidade, parte dos mais de dois mil Trabalhadores Portuários Avulsos aguardam a liberação de uma embarcação dentro do armazém na Zona Portuária do Rio. Como ganham por produção, o custo de alimentação e transporte fica por conta deles.

"Falta tudo lá em casa"

"Meu último trabalho foi há oito dias, já está faltando de tudo lá em casa", lamenta Milton Doria da Silva Filho, 62 anos, desde os 19 à beira da Baía de Guanabara. "Neste período, em dias normais, eu já teria atendido, pelo menos, uns cinco chamados de embarcações. Quem vive do porto está privado por conta da greve".

Trabalhador no Porto desde o fim dos anos 1970, Wandir Porfírio Lins comparou a escassez de trabalho provocada pela greve com o ano de 1982.

"Nunca houve tamanha falta de emprego", disse. "Só é possível comparar com a Guerra das Malvinas".

Diretor executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítimas e Atividades Afins do Rio de Janeiro (SindaRio), Luiz Antonio Carvaho, disse temer os impactos da greve sobre as empresas do setor.

"O transporte de cargas por via marítima envolve logística sem tamanho. Os prazos têm de ser cumpridos à risca. Isto certamente vai refletir lá fora. Sem falar que manter um navio custa cerca de 30 mil dólares por dia, parado ou não", analisou o dirigente, cujo sindicato é formado por 67 empresas. "O país tem dimensões continentais, por isso somos muito afetados. Na Europa, por exemplo, se os fiscais de um país param, basta pegar um caminhão ou trem para o vizinho".

Em nota, a Anvisa informou que os servidores da agência estão prestando os serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, como determinou o Supremo Tribunal Federal (STF) em consequência da greve das agências reguladoras. Segundo a entidade, as atividades voltaram ao normal em todos os portos, com a exceção da unidade de Portos, Aeroportos e Fronteiras em Santa Catarina, já retomaram suas atividades.