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Leia, na íntegra, a reportagem do 'JB' que denunciou propina no Congresso

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Em 24 de setembro de 2004, o Jornal do Brasil foi o primeiro veículo de comunicação a empregar o termo “mensalão”, em matéria dos repórteres Paulo de Tarso Lyra, Hugo Marques e Sérgio Pardellas, intitulada “Miro (Teixeira) denuncia propina no Congresso”. A reportagem explicava que “mensalão” era uma “mesada fixa em troca de votos favoráveis (dos parlamentares) no painel eletrônico”. 

Leia, na íntegra, a reportagem de Paulo de Tarso Lyra,  Hugo Marques e  Sérgio Pardellas:

Miro denuncia propina no Congresso

Esquema de mesadas para parlamentares votarem a favor do governo foi confirmado pela senadora Heloísa Helena

BRASÍLIA - O governo montou no Congresso um esquema de distribuição de verbas e cargos para premiar partidos da bancada governista fiéis ao Planalto. Chamado ''mensalão'', trata-se de uma mesada fixa em troca de votos favoráveis no painel eletrônico. A denúncia foi feita por vários parlamentares ao ex-ministro das Comunicações, Miro Teixeira, quando ainda era líder do governo na Câmara. Na época, Miro pressionou esses deputados para que fossem com ele pessoalmente ao encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para confirmar o que denunciavam - a existência de um esquema de propinas em troca de votos,  operado pelo ex-subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz. Nenhum teve coragem. Inconformado, Miro resolveu se aconselhar com um dos mais atuantes procuradores do Ministério Público Federal em Brasília. 

- Não faço política assim - lamentou Miro ao  procurador, pouco antes de a insatisfação levá-lo a abandonar o governo. 

Por meio de três conversas telefônicas ocorridas entre a tarde e a noite de ontem, o ex-ministro confirmou ao Jornal do Brasil ter sido procurado por parlamentares que conheciam o esquema. Também reconheceu que cobrou dos deputados o relato ao presidente Lula. 

Boatos sobre o ''mensalão'' correm soltos nos corredores do Congresso. Há até quem se incomode por não ter sido incluído na lista dos amigos do Planalto.

- Nunca ninguém veio me oferecer nada, mas existe. O caixa do partido é um deputado do Paraná. Deve ser porque me acham com cara de bobo ou porque sou parlamentar de primeiro mandato - choramingou um deputado do PP.  

A  senadora Heloísa Helena (sem partido-AL), confirmou ontem à tarde ao JB a existência do esquema. 

- O governo montou um balcão de negócios sujos para manter sua base de bajulação. A cada nova denúncia ou indício de crime contra a administração pública, sinto um misto de tristeza e indignação. Surpresa, nenhuma -  acusou.

O líder do PFL na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (BA), é outro que confirma conhecer a história de partidos sustentados com uma ''cesta básica'':  

- Isso não é novidade, mas não tenho como comprovar - esquivou-se. 

Até agora Miro Teixeira não estava disposto a tornar público o ocorrido, embora tenha contado ter sido procurado por parlamentares conhecedores do esquema a pelo menos quatro pessoas - uma delas, presidente de um partido da base aliada. 

De acordo com o procurador que afirma ter ouvido o desabafo de Miro, o ex-ministro teria dito ainda que a saída de Waldomiro Diniz do Planalto dificultou o esquema. O pagamento do ''mensalão'', feito até então em dinheiro vivo, teria sido substituído por algo mais sofisticado, para evitar dores-de-cabeça aos envolvidos. A idéia era recompensar os parlamentares fiéis ao governo com cargos nos ministérios e liberação de emendas orçamentárias. 

De olho na oportunidade, já há quem pense em propor a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o ''mensalão''. Um congressista - que prefere o conforto do anonimato até ter certeza de que será bem-sucedido - já começou a negociar a criação da CPI.

Para ele, o ''mensalão'' seria um dos tentáculos do caso denunciado na última semana pela revista Veja  de que parlamentares do PTB estariam envolvidos num esquema de R$ 10 milhões em troca de apoios no Congresso e campanhas eleitorais em cinco capitais do país. Segundo o deputado, parlamentares de outros partidos como o PMDB, PP e PL também seriam beneficiados pelo esquema. 

Circulando ontem pelos corredores do Congresso, o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), que afirmou esta semana ao Jornal do Brasil ter pedido R$ 1,5 milhão ao presidente do PT, José Genoino, não tendo obtido a verba, ontem disse que a idéia de pedir um auxílio do PT para as campanhas surgiu ano passado, quando o partido ainda era comandado pelo ex-deputado José Carlos Martinez (PR). A intenção era pedir ao principal partido do governo socorro para alavancar as candidaturas municipais. 

- Foi um compromisso que assumimos com os nossos candidatos que, infelizmente, não pudemos cumprir - lamentou.