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Em nove horas de depoimento, Perillo afirma não ter ligações com Cachoeira

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Em depoimento de mais de nove horas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira nesta terça-feira (12), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), afirmou desconhecer a amizade entre o contraventor e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) quando fez a indicação do parlamentar à Secretaria de Segurança Público do estado, em 1999.  O governador adicionou que nunca foi aliciado por Demóstenes para exercer atividades ligadas a Cachoeira. O ex-membro do DEM responde a processo no Conselho de Ética do Senado por relações com Cachoeira.

“Nunca me foi feito qualquer pedido. Nunca me foi levado qualquer aperto por parte dele”, disse Perillo quando questionado se o contraventor tinha pedido ajuda para seus esquemas ilícitos.

O governador de Goiás falou sem ser interrompido por mais de um hora, quando aproveitou o espaço para  fazer propaganda de seu mandato, e depois passou a responder aos membros da Comissão. Mais de 20 parlamentares se inscreveram para interrogar Perillo.

Venda da casa

Sobre irregularidades na operação de venda de casa em condomínio, na qual o contraventor Carlinhos Cachoeira foi preso, Perillo afirmou que tudo se deu conforme as práticas usuais de negociação de imóveis. O governador disse que nunca se preocupou em saber a origem dos recursos pagos pelo comprador, o ex-vereador Wladimir Garcez, apontado pela Polícia Federal (PF) como operador do esquema de Cachoeira.

“Quando a casa foi colocada a venda em anúncios de jornal, Waldimir entrou em contato e manifestou interesse. Acertamos o valor de R$ 1,4 milhão, que se daria em três parcelas, março, abril e maio [de 2011]. Todos os cheques foram depositados e compensados, na mais absoluta prova de boa fé”, disse.

Perillo repassou à CPI cópia dos três cheques nominais usados na operação e os extratos relativos a março, abril e maio, com os depósitos. Segundo ele, Garcez informou havia repassado o imóvel ao empresário Walter Paulo Santiago. Por isso, Perillo enviou um representante para formalizar o negócio. À CPI, por sua vez, Santiago afirmou ter pago pelo imóvel em dinheiro.

Combate à contravenção e chefe de gabinete

Perillo foi enfático ao negar qualquer proximidade profissional ou pessoal com Cachoeira, e defendeu a atuação das policias de Goiás no combate aos jogos ilegais e contravenções em geral. A Operação Monte Carlo da PF prendeu policiais civis e militares que colaboravam com o bicheiro.  

"Corporações estão sujeitas a esse tipo de cooptação. Isso não significa dizer que o alto comando da polícia estivesse envolvida nesse esquema", ponderou.

A operação da PF que prendeu Cachoeira também apontou que Eliane Pinheiro, ex-chefe de gabinete de Perillo, ajudava a organização criminosa. Ela telefonou para um dos suspeitos e avisou da operação policial.

"Só tomei conhecimento desse telefonema depois da divulgação. Ela nunca me disse desse telefonema, eu jamais imaginava que pudesse ter acontecido", defendeu-se.

Eliane usava um telefone Nextel que teria sido fornecido pelo próprio Cachoeira, fato que o governador também disse desconhecer.

"Esses chamados radinhos eram distribuídos a várias pessoas. Ela nunca me disse que teve esse tipo de radinho”, justificou Perillo. 

Campanha e Delta

Ao ser questionado sobre Jayme Rincón, coordenador financeiro da campanha de Perillo ao governo e que, segundo denúncias, teria recebido de Cachoeira, por meio de sua empresa, uma quantia de R$ 600 mil, o governador afirmou desconhecer o esquema e ressaltou que sua prestação de contas foi aprovada.

"Desafio qualquer pessoa no Brasil, qualquer consultoria, a descobrir qualquer esquema de empreiteiros, qualquer propina ou outra irregularidade no meu governo. Não existe isso. Me estranha muito eu estar o tempo inteiro na imprensa por ter vendido a minha casa", falou Perillo.

Sobre os contratos com a empreiteira Delta Construções, também investigada pela CPI, o político disse que o governo de Goiás tem 19 contratos com a construtora, dos quais sete foram feitos durante a sua administração. De acordo com ele, nenhuma irregularidade foi identificada na contratação dos serviços da empresa.

Bate-boca

Após o relator da CPMI, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), ter perguntado a Perillo se abriria seu sigilo bancário do ano de 2011, a sessão desandou para um bate-boca generalizado entre tucanos e petistas. O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) respondeu, iniciando a confusão. Segundo Sampaio, a quebra de sigilo é assunto para requerimento.

“O senhor está apresentando um requerimento disfarçado de pergunta", disse a Cunha, que já apresentou pedido de quebra de sigilos telefônico, bancário e fiscal do governador goiano à CPMI, o que  ainda não colocado em votação.

O senador Vital do Rêgo (PMDB), presidente da comissão, ainda tentou, sem sucesso, evitar que Odair Cunha repetisse a indagação. O relator alegou que Perillo está na CPI em condição de "investigado" e não de "testemunha", o que irritou ainda mais os parlamentares do PSDB. Com todos falando ao mesmo tempo, seguiram com palavras de ordem contra e a favor do tucano.

Os tucanos questionaram Cunha se ele agiria da mesma forma no depoimento do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT-DF), que será nesta semana.

O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), pediu ordem durante alguns minutos, enquanto Odair Cunha apontava o dedo para o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB): "o senhor me respeite!"