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No Senado, Demóstenes diz que não sabia dos negócios ilegais de Cachoeira

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Em depoimento no Conselho de Ética do Senado nesta terça-feira (29), o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) se defendeu no processo que pode levar à cassação de seu mandato. Acusado de utilizar o cargo público para auxiliar o contraventor Carlinhos Cachoeira em seus esquemas ilícitos ligados ao jogo, Demóstenes disse que não sabia das relações ilegais de Cachoeira.

O senador falou durante cinco horas sobre diversas denúncias e suspeitas como: sua participação na Delta Construções – como sócio oculto – e relação com seu dono, Fernando Cavendish; o aumento exponencial de seu patrimônio; seu reencontro com a religião; recebimento de um celular de Cachoeira; e da viagem a Berlim, em avião de Cachoeira, em companhia do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.    

Demóstenes disse que só depois da prisão do empresário e com a deflagração da Operação Monte Carlo é que teve consciência das relações que Cachoeira mantinha com outros políticos, governadores e demais agentes públicos.

"Eu não tinha uma lanterna da popa, não tinha como saber no que eu me relacionava com esse empresário e que ele mantinha relações com cinco governadores", disse Demóstenes. "Hoje, com essa lanterna na popa, eu dou conta de ver, mas antes, com essa lanterna na proa, eu não via", disse o senador.

Demóstenes é suspeito de ligações estreitas com Carlinhos Cachoeira e de ter usado seu mandato para beneficiar o suposto esquema comandado pelo empresário, que está preso desde o dia 29 de fevereiro, acusado de comandar jogos ilegais e de liderar uma rede de influência envolvendo agentes públicos e privados.

Religião e crise emocional

Para se defender, Demóstenes se utilizou de discurso em tom emocional para tentar convencer os senadores de sua inocência no processo aberto contra ele para apurar quebra de decoro parlamentar.

"Eu redescobri Deus. Parece um fato pequeno, mas minha atuação era mais pautada pelos homens que pela fé", disse o senador, ao se referir à sua postura antes da investigação vir a tona.

O senador sempre manteve uma postura crítica a atos de corrupção e era um dos senadores que mais evocavam as questões éticas contra os demais colegas, principalmente contra os senadores governistas.

"Devo dizer aos senhores que vivo o pior momento da minha vida, que eu jamais imaginaria passar por isso. A partir de 29 de fevereiro desse ano [quando a Operação Monte Carlo foi deflagrada pela Polícia Federal], eu passei a enfrentar algo que nunca tinha passado em toda minha vida. Depressão, remédio para dormir que não funcionam, fuga dos amigos.  É  talvez a campanha sistemática mais orquestrada da história do Brasil", disse o senador.

Patrimônio

O senador ainda negou que seu patrimônio teria quadruplicado nos últimos anos. Ele relatou a compra de um apartamento no valor de R$ 1,2 milhão, cuja entrada de R$ 400 mil teria sido paga por sua mulher. A outra parte, R$ 800 mil, seria financiada.

"Eu só vou terminar de pagar quando tiver 80 anos", afirmou.

Celular

Demóstenes confirmou que recebeu um aparelho de celular via rádio do empresário Carlinhos Cachoeira, mas alegou que não tinha informação que esse celular era sigiloso. "Recebi para meu conforto. Era um celular que falava nos Estados Unidos, não era com exclusividade, eu falava com muitas outras pessoas, nunca tive essa informação de que era sigiloso. Se era sigiloso, como é que foi grampeado? Aliás, a maneira mais fácil de se grampear é através de rádio", questionou.

Delta e Cavendish

O senador também negou ser sócio oculto da empreiteira Delta Construções, investigada pela CPI do Cachoeira. Ainda, afirmou não conhecer o dono da empresa, Fernando Cavendish.

“Como eu posso ser sócio de alguém que não conheço?”, ressaltou.

Viagem a Berlim e Gilmar Mendes

Rebatendo denúncias publicadas na imprensa, Demóstenes (sem partido-GO) disse que esteve em Praga, capital da República Tcheca, em abril de 2011, onde encontrou o ministro Gilmar Mendes (STF), mas que não viajou com ele em avião pago por Carlinhos Cachoeira. Segundo ele, o contato com o ministro se limitou a uma viagem de trem de Praga a Berlim, capital alemã.

“Cachoeira não estava conosco em Berlim e o avião era de São Paulo pra cá e eu usei sozinho o avião e não o ministro. O processo já esclareceu essa história”, disse.

Com Agência Brasil e Agência Senado