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Oposição quer convocar Lula a dar explicações na CPI do Cachoeira 

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Reportagem publicada nesta segunda-feira pelo jornal Folha de S.Paulo revela que a oposição quer pedir explicações, na CPI do Cachoeira, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes sobre a reunião entre os dois em que Lula teria tentado conseguir um adiamento no julgamento do mensalão. No encontro, que ocorreu em abril, o ex-presidente teria insinuado uma blindagem ao ministro nas investigações sobre o bicheiro em troca do adiamento, de acordo com Mendes. A assessoria de Lula confirmou o encontro, mas negou o conteúdo da conversa.

O encontro ocorreu no escritório de Nelson Jobim, amigo em comum entre os dois. Jobim, que foi ministro no governo Lula e do STF, admitiu que seu escritório sediou a visita "de cordialidade" do ex-presidente. "Lula queria dar um abraço em Gilmar porque ele foi muito colaborativo (com o governo)", disse ele. 

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) estuda interpelar judicialmente Lula. "O que foi noticiado é uma afronta tanto ao parlamento como ao STF." O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) defendeu a convocação de Lula para que ele conte sobre "quais parlamentares da CPI ele diz ter influência". No entanto, como a oposição não tem maioria na comissão, a convocação do ex-presidente dificilmente seria aprovada.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.