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Reportagem revela que PF investiga denúncia antecipada pelo 'JB'

Matéria trouxe à tona a suspeita de que Limírio teria usado esquema de Cachoeira

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A Polícia Federal investiga os fortes indícios de que o empresário Marcelo Limírio se beneficiou do esquema do bicheiro-empresárioCarlinhos Cachoeira para comprar o Hotel Nacional, em 2009. A denúncia da ligação entre Limírio e Cachoeira foram trazidas à tona pelo Jornal do Brasil no último dia 16 de abril, na reportagem "Hotel Nacional: as digitais de Carlinhos Cachoeira no Rio de Janeiro".

Desativada desde 1995, a construção foi leiloada pelo Ministério da Fazenda através da Superintendência de Seguros Privados (Susep) em 2009. Naquela ocasião, o empresário Marcelo Limírio arrematou o hotel por R$ 84,9 milhões, R$ 33 milhões a menos do que o lance inicial do leilão anterior, no qual não houve lance. 

Principal acionista individual do grupo Hypermarcas, Marcelo Limírio é sócio direto tanto de Carlinhos Cachoeira quanto de Demóstenes. O contraventor e o empresário são sócios pela empresa ICF, responsável por fornecer testes para laboratórios. Entre eles, está o Vitapan, que pertence a Cachoeira. Já o senador Demóstenes é sócio de Limírio numa universidade em Contagem, Minas Gerais. 

Denominada "Nova Faculdade", a instituição de ensino é dividida entre três cotistas, dois dos quais são Limírio (60% do empreendimento) e Demóstenes (20%). O empresário foi até bem generoso com o senador, deixando que ele parcelasse em 25 vezes o investimento de R$ 200 mil na empresa. 

Com campanha financiada por Limírio, Vergílio não assinou pedido de CPI para investigar Cachoeira

A proximidade de Limírio com Cachoeira e Demóstenes coloca outro político na roda: o deputado federal Armando Vergílio (PSD-GO). Ele era o superintendente da Susep em 2009, mesmo ano no qual o órgão leiloou o Hotel Nacional por duas vezes, baixando seu preço de R$ 118 milhões para R$ 84 milhões em função da falta de compradores na primeira tentativa de venda. 

Meses após a venda, Vergílio deixaria a Susep para se candidatar à Câmara Federal e um dos seus principais doadores foi a SS Comércio de Cosméticos, que contribuiu com R$ 100 mil através de uma doação eletrônica. A Hypermarcas, a mesma da qual Limírio é o principal acionista, adquiriu naquela ocasião algumas das linhas de produto da SS Comércio de Cosméticos por R$ 25 milhões. Vergílio concorreu pelo cargo de deputado federal justamente no estado no qual a quadrilha de Cachoeira exercia maior controle: Goiás. 

Retificação (17/04): a Hypermarcas informou que não comprou a SS Comércio de Cosméticos, apenas adquiriu algumas de suas linhas de produtos.

Além das digitais de Limírio, a lista de doadores de Armando Vergílio revela nomes curiosos. Ex-superintendente de um órgão cujo objetivo é controlar e fiscalizar o mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização, o deputado federal recebeu uma série de doações que atuam na área. Entre seus principais doadores estão a Porto Seguro (R$300 mil),  Banco Pottencial (R$ 200 mil), Itaú Unibanco (R$ 100 mil), Liderança Capitalização (R$ 100 mil) e GPS Corretora de Seguros (R$ 100 mil). Como era integrante do PMN na época das eleições, Vergílio ainda recebeu, através do comitê financeiro único do partido, doações da Alvorada Cartões (R$ 200 mil) e Liderança Capitalização (R$ 200 mil). No total, o deputado federal recebeu R$ 1,2 milhão em recursos de empresas da mesma área que ele fiscalizava nos tempos de Susep. 

Aliança política

Antes da eclosão das denúncias da Operação Monte Carlo, o senador Demóstenes Torres era um dos favoritos para disputar a prefeitura de Goiânia. No entanto, uma possível ida para o Supremo Tribunal Federal, cogitada algumas semanas antes da revelação de suas ligações com Cachoeira, afastava essa possibilidade. Nesse momento, um dos nomes ventilados para a disputa foi o de Armando Vergílio, que recebeu o sinal verde do senador para a candidatura, segundo jornais locais. Em contrapartida, Vergílio foi um dos poucos deputados que não assinaram o pedido de abertura da CPI de Cachoeira. 

Quebra de sigilo

De acordo com reportagem da "Época", a Justiça autorizou a quebra de sigilo bancário de todos os investigados por suspeita de desvio de recursos da Interunion Capitalização (antiga proprietária do Hotel Nacional) e até lavagem de dinheiro. Marcelo Limírio também já foi convocado a prestar esclarecimentos à CPI do Cachoeira. 

Leia trecho da reportagem:

- O leilão foi remarcado várias vezes sem que o hotel fosse vendido. A última tentativa malsucedida, em 4 de novembro de 2009, estabeleceu um preço mínimo de R$ 118,5 milhões, com o pagamento mínimo de R$ 100 milhões praticamente à vista. No leilão seguinte, um mês e meio depois, o preço foi para R$ 85 milhões, com o pagamento inicial de R$ 21 milhões. Nessas condições bem mais amigáveis, foi arrematado por Limírio.(...)  A queda de preço ocorreu com a aprovação da Superintendência de Seguros Privados, a Susep, órgão federal que fiscaliza 25% do mercado financeiro nacional – cujo comando, uma indicação política, vem sendo disputado pelo PT e pelo PTB desde o governo Lula. Na ocasião do leilão, o superintendente da Susep era o deputado federal Armando Vergílio, do PSD de Goiás, cujo padrinho é o deputado federal Jovair Arantes, do mesmo Estado. Líder do PTB na Câmara dos Deputados, Arantes é citado na Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que deu origem à CPI do Cachoeira.

- Foram contratados dois leiloeiros, um em São Paulo e o outro no Rio de Janeiro, para o leilão do Hotel Nacional. O de São Paulo era Luiz Fernando Sodré Santoro, suplente do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Outra empresa, de propriedade da mulher de Santoro, ainda entrou no negócio. Junto, o casal recebeu R$ 3,85 milhões.

- A Polícia Federal investiga também a contratação do escritório de advocacia Mattos, Rodeguer Neto, Victoria, de São Paulo, por R$ 2,76 milhões, num processo do qual já participavam três escritórios de advocacia. Segundo ex-acionistas da Interunion Capitalização, a contratação teve como efeito apenas “arruinar o patrimônio alheio”.