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Parlamentares apontam desvio de foco nas investigações da CPI do Cachoeira

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A condução da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos preocupa parlamentares. Eles alegam que o foco da investigação, que é a relação de Cachoeira com a empreiteira Delta e o desvio de verba pública, esteja sendo desviado para a introdução de outros temas "periféricos", como a convocação do Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, e do jornalista da revista Veja Policarpo Júnior.  

No Rio, a Justiça Eleitoral determinou a apreensão de todos os exemplares de jornais do Partido Republicano (PR), na quinta-feira (16), sigla da qual Anthony Garotinho é presidente. Recentemente, o blog do ex-governador divulgou fotos do atual governador Sérgio Cabral em momentos de descontração, em Paris, com Fernando Cavendish, ex-presidente do Conselho de Administração da Delta, evidenciando a relação íntima entre o político e o empresário - envolvido às últimas consequências no escândalo do Cachoeira.

Para o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ) o desvio de foco das investigações é o que impede o avanço da CPI no momento. Ele reconhece que outras apurações podem ser feitas, mas a prioridade deve ser dada à relação de Cachoeira com a Delta.

“O grande problema é a questão do desvio do foco. É evidente que, com o decorrer da investigação, pode haver outras apurações, mas o periférico não pode tomar o lugar do central, que é a relação do Cachoeira com a Delta - não só no Centro-Oeste, mas no Brasil todo”, afirmou Alencar. “A partir daí, todas as outras investigações podem ocorrer. Tirar o foco é tirar a investigação principal. É claro que o Cachoeira era sócio da Delta e, através dela, fazia financiamento de campanha, corrupção e perda de dinheiro publico”.

JBS

O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) fez coro ao conceito do descompasso nas investigações da Comissão, afirmando que se trata de “uma tática visível pelos temas escolhidos por aqueles que não querem a investigação da corrupção”.

Além disso, o parlamentar apontou o movimento do frigorífico JBS, que comprou a Delta no início de maio, como ‘estranho’ e passível de investigação. Segundo Miro, o fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deter 30% de participação da JBS torna o cenário mais nebuloso. Ainda, citou os rumores do mercado de que a JBS estaria interessada em adquirir a companhia aérea portuguesa TAP e, por conta da transação com a Delta, o negócio seria vetado pelos executivos portugueses.

“Parece muito estranho que uma grande empresa tenha comprado outra que está envolvida até o pescoço com o Cachoeira. Não é comum. Não há bom senso nisso, especialmente quando corre no mercado que a JBS está interessada em comprar a TAP, e essa conexão com a Delta e Cachoeira poderá repercutir em Portugal, inviabilizando a transação”, ponderou o deputado. “Pode ter sido uma avaliação equivocada dos seus diretores ou uma influência política para queimar arquivos”.

Miro ainda esmiuçou outras “coincidências” que circundam a aquisição da Delta pela JBS. De acordo com ele, tanto Carlinhos Cachoeira quanto Henrique Meirelles - ex-presidente do Banco Central e novo presidente do conselho consultivo da J&F, holding que controla a JBS - e Joesley Batista, presidente do conselho de administração da JBS, são oriundos de Anápolis e da mesma geração, o que indica prováveis ligações pessoais entre eles.

“Essa coincidência cria a possibilidade de haver relações mais intensas do que se imagina, o que não quer dizer cumplicidade”, afirmou o deputado.

Apuração: Luciano Pádua