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Gravação da PF mostra relação de principal executivo da Delta com Cachoeira

Carlos Pacheco apareceu conversando com o contraventor

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Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal comprovam que o principal executivo da Construtora Delta, Carlos Pacheco, tinha relações diretas com o empresário e bicheiro Carlinhos Cachoeira. Além dele, o diretor da empresa, Cláudio Abreu, foi afastado quando eclodiu o escândalo afastado, no início das denúncias.

Um levantamento dos negócios da empresa Delta descobriu que ela atua em 23 estados e no Distrito Federal. Apenas em 2011, recebeu, pela limpeza das ruas de Brasília R$ 89 milhões. No Rio de Janeiro, recebeu R$ 55 milhões por obras. Em São Paulo, foram pagos à Delta R$ 13 milhões por serviços como conservação de estradas, execução de obras e instalações.

Outra denúncia

O contador de Carlinhos Cachoeira, sacou no ano eleitoral de 2010 R$ 8,5 milhões que saíram dos cofres da Delta Construções. Único foragido da Operação Monte Carlo, Geovani Pereira da Silva é apontado pela Polícia Federal como tesoureiro do esquema de Cachoeira e, de acordo com investigadores, seria o elo financeiro do grupo com políticos. Perícias em sigilo bancário feitas pela PF mostram que Geovani sacou os recursos de uma conta bancária em nome de uma empresa em Brasília chamada Alberto e Pantoja Construções e Transportes Ltda. - ela não existe no endereço declarado e, segundo a investigação, foi criada em 2010 somente para receber dinheiro da Delta. As informações são do jornalFolha de S. Paulo.

Em 11 de maio de 2010, a Pantoja abriu uma conta bancária em Anápolis (GO), terra natal do empresário. Onze dias depois, a Delta começou a transferir dinheiro para a conta. Apenas 72 horas depois do primeiro depósito, o contador de Cachoeira começou a retirar o dinheiro. A Delta afirmou, por meio da assessoria, que dará respostas quando for instada por "foro judicial adequado" e que as informações da PF pretencem a inquérito preliminar. De acordo com a Delta, as empresas que recebem verba são fornecedoras. A defesa de Cachoeira disse que não responde a questões pontuais, pois o cliente segue em isolamento no Presídio Federal de Mossoró. No endereço declarado pela Alberto e Pantoja há uma empresa de lanternagem e pintura. O dono da oficina disse que está no local há quatro anos e que nunca ouviu falar da empresa.

Demóstenes e Carlinhos Cachoeira

Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.

O jornal O Globo noticiou, em 23 de março, gravações da PF que flagraram Demóstenes pedindo para Cachoeira lhe pagar R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo e vazando informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Em 27 de março, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado para "acompanhar a evolução dos fatos". No dia seguinte, o Psol entrou com representação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandovski autorizou a quebra do sigilo bancário de Demóstenes, solicitando ainda um levantamento sobre as emendas e os projetos relatados por ele para saber se Cachoeira, acusado de controlar a máfia dos caça-níqueis e de corromper policiais e políticos em Goiás, foi beneficiado.

Nas gravações, Demóstenes também aparece acertando um suposto lobby pela legalização dos jogos de azar no Congresso em 2009. Em outra conversa, Cachoeira pede ajuda no processo de um delegado e três policiais de Anápolis (GO) acusados de tortura e extorsão. Os dois ainda conversaram sobre um "negócio" milionário na Infraero. Na ocasião, Demóstenes teria se valido da relatoria da CPI do Apagão Aéreo para levantar informações e sondar contratos de informática na estatal.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido decidiu abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda.