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Após escutas, família de Jean Charles envia carta a premier britânico

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A família do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia de Londres em 2005, enviou uma carta ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, solicitando a ampliação das investigações sobre os grampos telefônicos do News of The World. Os parentes residentes em Londres e representantes do eletricista foram comunicados ontem sobre uma possível escuta implantada por funcionários do tabloide em um de seus números de telefone.

"Recebemos a confirmação da polícia na quarta-feira sobre o caso", confirmou Yasmin Khan, porta-voz da ONG Justice4Jean ("Justiça para Jean", em tradução livre). Segundo Khan, o grupo questionou a polícia na semana passada sobre a possibilidade da família Menezes ter sido alvo das escutas ilegais promovidas pelo News

Após a solicitação, as autoridades britânicas encontraram o número de telefone de Alex Pereira, primo de Jean Charles que também morava em Londres, em documentos do investigador particular Glenn Mulcaire.

O caso foi revelado nesta quinta-feira pelo jornal britânico The Guardian, que iniciou a série de reportagens com novas denúncias de grampos do tabloide. Os repórteres do jornal são acusados de utilizar em seus textos informações obtidas por meio dos grampos ilegais. O telefone de Alex Pereira pode ter sofrido com as escutas do News of the World, em uma tentativa do tabloide para obter mais detalhes sobre o caso Jean Charles.

A porta-voz da família mineira afirmou ao Guardian que "os parentes de Jean Charles ficaram absolutamente consternados ao descobrir que podem ter sido grampeados em um momento em que estavam de luto e altamente vulneráveis". Yasmin Khan declarou ainda que Alex Pereira prefere não comentar o caso no momento, mas ressaltou que a ONG já está tomando atitutes para esclarecer as acusações.

Ainda de acordo com Khan, os Menezes se disseram confusos com a demora da polícia em confirmar que o telefone de Alex Pereira teria sido alvo das escutas do News of the World. Eles desconfiam que as autoridades locais estariam tentando acobertar seus próprios erros mais uma vez neste caso. Por isso, decidiram pedir apoio ao governo. "Enviamos uma carta endereçada ao premiê, David Cameron, ao vice-premiê, Nick Clegg e ao líder da oposição, Ed Miliband", completou a porta-voz da ONG.

Na carta, escrita em nome dos parentes de Jean Charles, são levantadas suspeitas sobre a atuação de policiais britânicos, que teriam vazado informações para a imprensa acusando o brasileiro de ser um terrorista, em uma tentativa de esconder o erro cometido em julho de 2005. A carta enviada os políticos do Reino Unido destaca a relação entre Andy Hayman, ex-comissário-assitente da polícia de Londres, e o grupo News International (NI), dono do News. Hayman é acusado de repassar informações para os jornais do NI.

"Considerando o que hoje é conhecido sobre o relacionamento de Andy Hayman com a News International, gostariamos que o inquérito sobre este escândalo fosse ampliado para apurar se policiais envolvidos na investigação do caso Jean Charles estavam vazando informações para a imprensa, seja para benefício financeiro ou em uma esforço para desviar as críticas a partir das ações da polícia metropolitana que levaram à morte de Jean, solicitaram os parentes na carta.

A polícia britânica investiga agora outros números de parentes de Jean Charles que moravam em Londres na época do crime. Os números de funcionários da ong que acompanha o caso também serão apurados. A morte do brasileiro completa seis anos na próxima semana.