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Vereadores fazem audiência para discutir regra de futebol em Minas Gerais

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Uma câmara de vereadores tem entre suas funções primordiais a elaboração de leis sobre matérias de competência do município e a fiscalização dos atos e das contas do Executivo local. Mas em Juiz de Fora, cidade da Zona da Mata mineira, alguns parlamentares decidiram driblar a rotina e "inovar". Eles deixaram temporariamente em suspenso assuntos de interesse da população para se ocupar com uma discussão, no mínimo, atípica.

Na última segunda-feira (11), a "casa do povo" abrigou uma audiência pública sobre "o direito do torcedor de futebol de ter o jogador substituído em caso de expulsão". Mesmo sem possibilidade de sair do zero a zero, já que qualquer alteração na regra do esporte é prerrogativa exclusiva do International Football Association Board - órgão que regulamenta a atividade desde 1886 -, o debate foi levado adiante e durou cerca de duas horas.

Quem levantou a bola foi o vereador Dr. José Tarcísio Furtado (PTC), autor do requerimento que propôs a discussão "futebolística". Em entrevista a Terra Magazine, ele justificou - ou tentou - o pedido, alegando que decidiu "assumir a causa" do presidente da Associação dos Torcedores de Futebol Profissional do Brasil, José Maria Almeida.

- Eu sou representante do povo. E como representante do povo, esse senhor que está propondo essa ideia já esteve na Câmara, mostrou a ideia dele... Debate em porta de botequim, debate no meio da rua não tem repercussão. Como ele (Almeida) é povo e é um direito que ele tem, levamos para a discussão.

Questionado sobre a impossibilidade de alterar as regras do futebol, convocou Thomas Edison e Isaac Newton para reforçar o argumento:

- Não quer dizer que tem possibilidade hoje. Os cientistas chamados de louco no passado, eles hoje têm as suas ideias postas em prática. A lâmpada quando foi descoberta por Thomas Edison...Ela está aí, iluminando aí. Você está entendendo? Igual Isaac Newton. Ele teve lá suas teorias no passado. Chamaram ele de louco. Então, são coisas que às vezes são de louco, mas que no futuro vão ter seu fundamento. É baseado nisso que estou fazendo essa proposta. Não estou querendo mudar nada. Estou querendo alertar a população e os dirigentes que isso (mudança na regra) é uma coisa viável e plausível.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - Por que o senhor decidiu propor a audiência pública sobre o direito do torcedor de futebol de ter o jogador substituído em caso de expulsão? José Tarcísio Furtado - Eu sou representante do povo. E como representante do povo, esse senhor que está propondo essa ideia já esteve na Câmara, mostrou a ideia dele. É uma coisa que é plausível, então, resolvi assumir a causa dele.

Quem é essa pessoa a que o senhor se refere? É o presidente da associação dos torcedores de futebol profissional do Brasil, José Maria Almeida? O presidente da associação dos torcedores de futebol profissional do Brasil.

E ele apresentou a ideia de mudar a regra?A composição é nossa porque... O que acontece é o seguinte: você paga para entrar em determinado lugar para assistir a um espetáculo, você tem que assistir aquilo que foi proposto. No caso do futebol, isso não existe. O juiz expulsa a bel-prazer dele às vezes, dá dois cartões amarelos e o terceiro expulso (na verdade, a expulsão acontece após o atleta receber dois cartões amarelos) tem que sair. Então eu acho que a Fifa (Federação Internacional de Futebol) tem que dar uma pensada nisso aí, uma repensada e ver que o torcedor não foi lá para torcer pelo fulano ou beltrano. Se ele foi para ver o Pelé, foi para ver o Pelé, não foi para ver outra pessoa.No caso da falta muito grave, ele é expulso na hora. Não tem que contestar. Ele é expulso mesmo. Agora, o sujeito fez uma falta leve, leva dois cartões e vai expulso, que seja substituído ou que essa penalidade seja cumprida num outro jogo.

Então, o senhor achou necessário levar esse debate para a Câmara?Deixa eu te falar. Debate em porta de botequim, debate no meio da rua não tem repercussão. Como ele (o presidente da associação dos torcedores de futebol profissional do Brasil) é povo e é um direito que ele tem, levamos para a discussão. Não quer dizer que eu vá mudar nada.

É justamente isso que eu pretendia argumentar, porque não há possibilidade de alterar a regra...Não quer dizer que tem possibilidade hoje. Os cientistas chamados de louco no passado, eles hoje têm as suas ideias postas em prática. A lâmpada quando foi descoberta por Thomas Edison... Ela está aí, iluminando aí. Você está entendendo. Igual Isaac Newton. Ele teve lá suas teorias no passado. Chamaram ele de louco. Então, são coisas que às vezes são de louco, mas que no futuro vão ter seu fundamento. É baseado nisso que estou fazendo essa proposta. Não estou querendo mudar nada. Estou querendo alertar a população e os dirigentes que isso (mudança na regra) é uma coisa viável e plausível.

O senhor realmente considera que uma discussão na Câmara Municipal de Juiz de Fora vai ter eco na International Football Association Board, que é órgão que regulamenta o esporte?Deixa eu lhe falar. Se ninguém falar nada, nada vai acontecer. Como eu disse aqui hoje, um deputado federal amanhã resolve a falar, resolve assumir a ideia e, quem sabe, no futuro, a Fifa enxergue isso. Se ninguém falar, vai ficar no ostracismo. É a mesma coisa - desculpe-me a expressão -, mas de pensar morreu um burro. Então, se o sujeito pensa, pensa, pensa... morre e não põe em prática. Tudo na vida tem que ser posto em prática.

O senhor não teme por críticas de que o assunto não faz parte da atribuição de um vereador, que há outros assuntos...Deixa eu lhe falar: eu sou representante de quem?

Do povo...Estou discutindo coisa de quem? Do povo. Lá (na Câmara dos Vereadores) é o lugar de discussão nesse sentido. Foi lá (à audiência), juiz de futebol, foram representantes de vários clubes, foi o secretário de esporte do município (Renato Miranda). Então, não fui eu discutir. Os vereadores presentes discutiram. Uns a favor, outros contra. E com a repercussão que isso vai ter, quem sabe não leve para frente.