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Bruno acusa delegado de cobrar R$ 2 mi para pôr a culpa em Macarrão

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O ex-goleiro Bruno Fernandes negou nesta terça-feira, durante audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que pretendesse pagar R$ 1,5 milhão ao advogado Robson Pinheiro para garantir sua liberdade. Preso desde julho de 2010 pelo desaparecimento da ex-amante Eliza Samudio, Bruno disse que sofrera tentativa de extorsão semelhante por parte do delegado Edson Moreira, titular do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) mineiro.

"Eu quero sair daquela (penitenciária) Nelson Hungria de cabeça erguida, porque eu não devo nada. Quero sair para cuidar da minha carreira e dos meus entes queridos. Se eu quisesse sair por meio de corrupção, eu teria aceitado o pedido do senhor Edson Moreira , que me pediu R$ 2 milhões para jogar a culpa em cima do Macarrão (Luiz Henrique Romão) e do meu primo menor", disse o ex-jogador.

>> Bruno chora em audiência sobre suposta extorsão de juíza 

O pedido teria acontecido na sala de Moreira no DHPP, durante uma conversa informal. Segundo Bruno, os dois estariam sozinhos quando o delegado sugeriu transferir a culpa ao amigo e ao primo do ex-goleiro. "Naquela época, eu conseguiria esses R$ 2 milhões em um estalar de dedos, (...) mas eu considero o Macarrão uma criança, então eu não faria isso", disse.

Bruno relatou ainda que recebeu outras ameaças de Moreira em diferentes oportunidades. "Ele perguntou o que eu achava se eu encontrasse pedaços de minha filha espalhados por Minas Gerais. Uma perna aqui, outra ali, decapitada", disse.

Extorsão de juíza

Bruno participa, desde as 9h40 desta terça-feira, de uma audiência no auditório da Assembleia Legislativa. O ex-goleiro foi convidado pela Comissão de Direitos Humanos da Casa para prestar esclarecimentos sobre a suposta tentativa de extorsão que ele e sua noiva, Ingrid Calheiros, teriam sofrido por parte da juíza de Esmeraldas, Maria José Starling, e pelo ex-advogado do jogador, Robson Pinheiro. Emocionado, o ex-goleiro chorou pouco antes da abertura da audiência.

Bruno chegou escoltado ao auditório da Assembleia, por volta das 9h30. Dez minutos depois, o deputado Durval Ângelo (PT-MG), presidente da Comissão de Direitos Humanos, deu início à audiência. Além de Bruno, estão presentes Ingrid e o advogado do jogador, Claudio Dalledone Júnior.

O primeiro a falar foi Dalledone, que apresentou à comissão supostos e-mails trocados entre a juíza e Ingrid que comprovariam a tentativa de extorsão, além do contrato de Pinheiro e outros documentos. Segundo Dalledone, a magistrada entrou em contato com Ingrid oferecendo um plano para soltar o ex-goleiro. De acordo a denúncia feita por Ingrid à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a juíza e Pinheiro teriam pedido R$ 1,5 mi para tirar Bruno da cadeia.

No depoimento prestado à Comissão de Direitos Humanos nesta terça-feira, Dalledone disse que, no final de 2011, Pinheiro chegou a dizer, em reunião com Bruno no presídio Nelson Hungria, em Contagem (MG), que já estava com o habeas-corpus prometido em mãos. "Ele disse para o Bruno: 'estou com o seu alvará na minha pasta'", disse Dalledone, que relatou ainda que o ex-advogado de Bruno exigia que o atleta assinasse o contrato de honorários que previa o pagamento de R$ 1,5 milhão.

Dalledone disse que, neste dia, alertou Bruno de que tudo não passava de uma trama de Pinheiro, que, a partir daí, teria começado a vigiar seu colega. Ainda de acordo com Dalledone, Pinheiro estipulou também, em outra cláusula do contrato, uma multa de R$ 1,5 milhão caso Bruno tivesse qualquer contato com seu colega sem a sua presença. "Ou eu compactuava, ou eu denunciava (o plano). Eu denunciei", disse Dalledone.

>> Goleiro Bruno presta depoimento na Assembleia de Minas Gerais

Na última semana de fevereiro, segundo o advogado, a noiva de Bruno chamou Dalledone até o Rio de Janeiro para relatar a tentativa de extorsão. No encontro, Dalledone ouviu relatos de que Pinheiro teria viajado até o Rio para procurar amigos de Bruno - tanto no círculo social quanto no Flamengo. Em seguida, o ex-advogado do atleta teria dito a Ingrid que precisava de um adiantamento de R$ 1,5 milhão. "O Robson teria falado para a Ingrid: 'preciso do R$ 1,5 milhão agora para garantir o habeas-corpus'", disse Dalledone.

Dalledone disse achar estranha a exigência porque o contrato de honorários não garante sucesso na causa. Questionado pelo deputado Durval Ângelo se Pinheiro estaria garantindo o sucesso na empreitada, o advogado foi enfático: "sim, (Robson estaria) contratualmente garantindo o êxito do habeas-corpus".

Ao saber do plano, Dalledone teria feito uma pesquisa junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) e descobriu, segundo ele, que Pinheiro nunca havia impetrado um habeas-corpus durante os seus mais de dez anos de carreira advocatícia. "Verifiquei inclusive que ele nem era criminalista", afirmou.

De acordo com Dalledone, Bruno sofre com o assédio constante de advogados. O defensor estima que entre cinco e dez advogados procurem o ex-jogador por semana no presídio. Durval Ângelo completou: "segundo informações da Secretaria de Defesa Social, todos os dias, pastores de igrejas evangélicas também tentam entrar no presídio para conversar com o Bruno". "As aves de rapina são religiosas e advocatícias", disse.

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.