ASSINE
search button

Hackers da LulzSec descartam rótulo anarquista: "Nós temos um objetivo"

Grupo admite que ainda não vazou dados relevantes, mas promete novas ações

Compartilhar

Na última semana, o nome Lulz Security Brasil ganhou as manchetes dos principais jornais. Ataques ao site da Presidência da República, dos Ministérios da Defesa, da Saúde, da Cultura e vazamentos de dados pessoais da presidente Dilma Rousseff, dos governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e vários outros políticos passaram a ser triviais. Até arquivos da investigação da Guerrilha do Araguaia e do DOI-CODI foram divulgados, tudo em nome da livre-disseminação de informação, principal bandeira ideológica do grupo.

>> Facções da LulzSec Brasil encerram guerra interna e preparam grande operação

>> Hackers vazam na internet dados da Guerrilha do Araguaia

"Nós não somos anarquistas. E nós rejeitamos esse rótulo, sem sombra de dúvidas", explica neo, um dos líderes da LulzSec Brasil, autora da maior parte dos ataques contra sites do governo. "O que acontece hoje é que não há mais qualquer forma de protesto segura. Se mandarmos um e-mail para as autoridades, não vamos obter resposta. Fazer uma denúncia ao Ministério Público ou qualquer outro órgão similar, hoje em dia, é a mesma coisa que nada. Essa é a nossa forma de protesto, expor dados e a fragilidade do sistema.

Foi assim que começou a entrevista exclusiva da cúpula da LulzSec Brasil ao Jornal do Brasil. O que começou com dicas anônimas de endereços enviados à reportagem terminou numa conversa dentro de um servidor fechado do IRC, um antigo protocolo de chat usado na internet. Popular nos anos 90, ele ainda é usado por saudosistas, difusores de softwares livres e, claro, hackers. Enquanto enviam dados obtidos nas invasões antes de divulgá-los para o público para confirmar suas identidades, os hackers garantem que não são os "monstros" pregados pela mídia.

"Nós temos um objetivo fixo. Isso não é uma bagunça, como costumam nos pintar" diz outro hacker, que pediu para que seu pseudônimo fosse mantido em sigilo. "O objetivo é expor a podridão do Brasil. A corrupção mesmo. Queremos vazar para a mídia esses documentos para fazer com que os envolvidos sejam punidos ou, ao menos, retirados do poder".

Os ataques de Distributed Denial of Service (DDoS), segundo eles, foram apenas para chamar a atenção do povo e da mídia para o poder da LulzSec Brasil. Em português claro, DDoS são ataques de negação de serviço, os mesmos responsáveis por tirar sites do ar. Esse tipo de ação, por si só, não vaza dado algum do local atingido, apenas o deixando sobrecarregado e, consequentemente, derrubando-os.

"Nós não tiramos sites do ar simplesmente por tirá-los, só por vandalismo. O problema é que a nossa causa chamou a atenção de vários simpatizantes que atuam sem a nossa autorização ou supervisão", explica neo. "Eles se reúnem em núcleos separados e fazem ataques dos quais nós só ficamos sabendo depois e nós acabamos recebendo toda a culpa". 

"Às vezes são apenas crianças", lembra _tota_x, outro hacker do grupo. "Para participar de um ataque de negação de serviço, você não precisa ser hacker. Você aprende em cinco minutos a usar os programas que sobrecarregam os servidores e participa de uma invasão conjunta com outras dezenas de hackers. Tem gente que faz isso sem ideologia nenhuma. Faz só pelo prazer de atacar. Eles nos prejudicam". 

Falta de dados relevantes

Hoje, a grande crítica ao LulzSec Brasil diz respeito a falta de dados realmente relevantes expostos pelo grupo. Até agora, logins de redes internas e documentos de funcionários foram exibidos, assim como alguns dados do Ministério Público Federal e do IBGE. No entanto, nenhum deles traz nada de confidencial, apenas ações públicas referentes a dados polêmicos. Ao contrário das bombas expostas pelo WikiLeaks do australiano Julian Assange, os ataques hackers brasileiros não fizeram nada exceto exibir dados aleatórios de órgãos públicos.

"Nós estamos apenas no começo do começo", limitou-se a dizer um dos lideres. "Vamos expor coisas mais importantes sim, com o tempo. Esses primeiros ataques foram apenas para chamar a atenção". 

[email protected]