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ONG critica Delfim Netto por comparar domésticas a animais

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Uma declaração do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto em um programa de TV causou mal-estar entre os trabalhadores domésticos. No último domingo, durante o Canal Livre, da TV Bandeirantes, o economista comparou empregadas domésticas a animais ao comentar a ascensão de classes no Brasil. Ontem, a ONG Doméstica Legal enviou a Delfim Neto uma notificação extrajudicial pedindo retratação pública.

Veja o vídeo com trecho do programa:

"Há uma ascensão social visível. A empregada doméstica, infelizmente, não existe mais, ela desapareceu. Quem teve este animal, teve. Quem não teve, nunca mais vai ter. Essa senhora que era empregada doméstica, hoje é manicure. A manicure hoje está no call center", disse Delfim Neto no programa.

Apesar de não ver má intenção na fala do ex-ministro, o presidente da ONG, Mario Avelino, considera que a frase foi preconceituosa. "A declaração dele pode não ter tido a intenção, mas foi preconceituosa. E o trabalhador doméstico, que já é tão excluído, tão discriminado - a maioria não tem carteira assinada -, se sentiu mais discriminado ainda. Porque ele é uma pessoa pública, já foi ministro do Planejamento, já foi ministro da Fazenda, já foi deputado, tem espaço na grande mídia. Então você tem que ter responsabilidade de medir as palavras", afirmou.

Segundo Avelino, a ONG ficou sabendo das declarações de Delfim Netto apenas na segunda-feira. "Isso aconteceu no Canal Livre no último domingo, e no dia seguinte a gente recebeu alguns e-mails de indignação, de trabalhadores e até de empregadores", disse.

Para o presidente da ONG, faltou tato ao ex-ministro na escolha das palavras. "Ele já disse que isso é um jargão que eles usam com empresários. Uma coisa é você falar para empresários, em uma palestra com um grupo de pessoas que têm uma formação, que tiveram oportunidades. Outra coisa é uma pessoa, (por exemplo), eu sou filho de doméstica, eu sou uma doméstica e de repente eu sou chamado de animal. Você acha que essa pessoa vai ter discernimento? A maioria é semianalfabeta. Dos 7,2 milhões de trabalhadores, 6,6 milhões são mulheres, a maioria negra, parda e mestiça, com pouca oportunidade de estudo", relatou.

Avelino afirma que o ex-ministro deveria se retratar na TV. "A gente espera que, da mesma forma que falou em um canal público, se retrate publicamente", disse. "Esse trabalhador doméstico, essa pessoa que a muito custo trabalha sem carteira assinada para se sustentar, ela merece sim o respeito de falar: 'Olha, me desculpe, eu fui infeliz na minha declaração. Eu não quis dizer isso'", concluiu.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de Delfim Netto, mas, até as 12h30, não havia recebido a posição do ex-ministro sobre a polêmica.